RePublicação / DIA DO CAFÉ – Mais sabor, qualidade e tecnologia em Minas Gerais

Matéria re-publicada apenas para conhecimento

Café


Mais sabor, qualidade e tecnologia em Minas Gerais








Colheita mecânica, na Fazenda Veredas, em Rio Paranaíba/MG.

O cafezinho brasileiro é apreciado em todos os cantos do planeta. O País é conhecido como o maior produtor mundial (26,7 milhões de sacas – safra 2001/2002), o maior exportador e o segundo maior consumidor de café, atrás apenas dos Estados Unidos. O “ouro negro” é uma fonte vital de exportações no Brasil e em dezenas de outros países, por isso, a produção não pára de crescer. De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), atualmente, são produzidas, no mundo, 115 milhões de sacas por ano, enquanto o consumo está estimado em 105 milhões. A América do Sul é a região que mais produz café. Nas duas últimas décadas, o Brasil e a Colômbia produziram cerca de 40% do total mundial, mas, segundo o economista e professor da Universidade Federal de Viçosa/MG (UFV), Orlando Monteiro da Silva, a produção está migrando para a çsia. “A industrialização regional crescente e a mão-de-obra abundante e barata têm elevado a produção asiática em níveis surpreendentes”, explica o Prof. Orlando. A produção do Vietnã, que vem disputando com a Colômbia o segundo lugar no ranking mundial, saltou de 300 mil sacas, em 1980, para 11,3 milhões de sacas em 2000/2001. A desvantagem dos vietnamitas é a qualidade do café. Em todo o continente asiático, produz-se apenas o café robusta, espécie voltada para a fabricação de solúveis. Para tomar um cafezinho com aroma e sabor de qualidade, o grão ideal é o da espécie arábica, encontrado, principalmente, no Brasil e na Colômbia.

De qualquer maneira, a “superprodução”está abalando o setor cafeeiro, porque o crescimento do consumo não acompanha o da produção, tornando o mercado cada vez mais competitivo. Nesse caso, sai ganhando quem tem o café mais barato e saboroso. Para produzir o melhor café a baixo custo, a tecnologia é uma importante aliada. O Brasil é pioneiro na utilização de máquinas para colher, secar e selecionar o grão. A mecanização das lavouras aumenta a lucratividade do produtor, já que a mão-de-obra corresponde a quase 60% do custo. Onde falta água, a solução vem com as tecnologias de irrigação, como é o caso do Cerrado mineiro. Fertilizantes e técnicas de melhoramento genético são usados no combate às pragas, em busca de maior produtividade. Existe solução para os diversos problemas, mas o alvo das pesquisas de fronteira é a qualidade da bebida.









Descoberto pelos árabes, no início do século XV, o café conquistou o mundo rapidamente. Hoje, é cultivado nas Américas Central e do Sul, Ásia, África e Oceania e consumido em todos os continentes. O Prof. Orlando conta que cerca de 20 milhões de famílias, em 50 países do mundo, trabalham diretamente no cultivo de 11 milhões de hectares de café. Na economia nacional, o agronegócio do café é estratégico, gera muitas divisas e empregos. Só em Minas Gerais, onde se concentra 43% do parque cafeeiro do Brasil, quase três milhões de pessoas trabalham na atividade, segundo informações da CNA.

Seis séculos após a sua descoberta, a cafeicultura atravessa uma de suas piores crises. O elevado estoque de grãos no mercado mundial, que quase dobrou nos últimos cinco anos, fez com que os preços internacionais despencassem. De acordo com estatísticas da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), o preço da saca (60 kg) é muito inconstante e nos últimos quinze anos oscilou entre US$ 370,22 e US$ 63,60. Em agosto deste ano, o preço do café brasileiro não ultrapassou US$ 50,00. Alguns cafeicultores do Cerrado e Sul de Minas, desiludidos com o café, resolveram “mudar de ramo” e muitos estão falidos. Segundo o presidente da Associação dos Cafeicultores de Patrocínio (Acarpa), Aguinaldo Lima, 3.200 hectares já foram abandonados somente nos municípios de Patrocínio, Serra do Salitre, Cruzeiro da Fortaleza e Guimarânia, na região do Cerrado, por causa dos baixos preços do mercado. No Sul de Minas, os efeitos da crise também são enormes. O secretário-executivo do Programa Cafeicultura/Epamig, Gabriel Bartholo, conta que dos 499 mil hectares de cafezais em produção, 5 mil foram abandonados e 44 mil estão esgotados ou improdutivos. 








Lavagem dos frutos

Mesmo em tempos de crise, muitos produtores garantem que o café ainda é um bom negócio. O engenheiro agrônomo Cláudio Ottoni, proprietário da Fazenda Veredas, em Rio Paranaíba, no Cerrado mineiro, é um exemplo. Ele diz que a tendência é a extinção do mercado do café de baixa qualidade, mas para o bom café sempre há espaço. “É trabalhoso, o café tem que ter qualidade e o produtor deve procurar mercados diversificados”, aconselha. Dono de uma fazenda de 1.300 hectares, com produtividade média de 45 mil sacas por ano, Cláudio destina cerca de 71% do café colhido, de primeira linha, para exportação. A maior parte dos grãos vai para a Itália e o Japão. Considerado produtor-modelo, pelos institutos de pesquisa agropecuária, Ottoni foi o primeiro vencedor do concurso nacional Gourmet de qualidade de café. Apesar de manter o custo do grão abaixo da média regional, ele afirma que um dos segredos do sucesso é estar sempre bem informado e usar as tecnologias certas. O produtor considera essencial estimular a pesquisa do café e mantém em sua fazenda um campo experimental de 2 hectares cedido à Epamig. “Cada fazendeiro deveria ceder um pedacinho de sua terra para os centros de pesquisa. É bom para o desenvolvimento científico e tecnológico do País e para o próprio produtor, que tem acesso aos resultados com mais facilidade.”, observa o cafeicultor. O pesquisador da Epamig Antônio Alves, o Tonico, coordena as pesquisas realizadas na Fazenda Veredas. Atualmente, Tonico está testando variedades de café mais produtivas e resistentes às pragas do Cerrado.

A Fazenda Veredas, em pleno Cerrado mineiro, onde 35% da plantação é irrigada, dispõe de água suficiente para não necessitar da irrigação. Mas a tecnologia está presente em todo o processo de produção. As máquinas lavam, descascam, desmucilam (retiram o “mel”), secam os frutos e realizam 80% da colheita. Segundo o cafeicultor, em 2002, a expectativa é de que 95% do café seja colhido mecanicamente.

Mecanização das lavouras

O coordenador do Laboratório de Propriedades Físicas e Avaliação de Qualidade de Produtos Agrícolas da UFV, Prof. Paulo César Corrêa, concorda que o alto custo da mão-de-obra dificulta a produção de café e que a tendência é a mecanização, mas ressalta que nas lavouras cafeeiras a eficiência das máquinas ainda não é a ideal. Ele diz que a maioria das máquinas utilizadas na cafeicultura não foi desenvolvidas especificamente para o café, são adaptações do maquinário fabricado para outras culturas. No Brasil, utilizam-se as tecnologias européias para a colheita de azeitonas ou cerejas, que têm características físicas diferentes do fruto do café e muitos secadores brasileiros são adaptações do maquinário usado pelos produtores norte-americanos de milho e soja, grãos completamente distintos do café.

As máquinas para colheita de café, tanto de grande porte como de pequeno porte, necessitam de aprimoramentos, de tal forma, a reduzir os impactos da colheita mecanizada no cafeeiro e a melhorar a capacidade de processamento dessas máquinas. Os secadores também precisam ser melhorados, principalmente no que diz respeito à qualidade do produto secado, à capacidade de secagem e à economia de energia. Segundo o Prof. Paulo César, nenhum dos modelos de secadores de café produzidos no Brasil possui sistema de reaproveitamento do ar de exaustão, o que torna esse tipo de equipamento bastante ineficiente em termos energéticos.









Mas, para fabricar máquinas específicas para a lavoura cafeeira, as indústrias precisam do suporte das instituições de pesquisa. Um banco de dados de base para a engenharia mecânica, a partir das propriedades físico-químicas do café, está sendo montado no laboratório da UFV, vinculado ao Centreinar (Centro Nacional de Treinamento em Armazenagem), com o apoio da FAPEMIG. Lá, os pesquisadores catalogam as propriedades de diversos frutos e grãos, também do café. As características de densidade e tamanho, por exemplo, são dados básicos para calcular a força necessária para desprender o fruto da planta. Essa informação, fornecida por um aparelho chamado “Máquina Universal de Teste”, é extremamente importante para que os engenheiros desenvolvam a colheitadeira adequada ao café.

Viçosa também é pioneira em desenvolvimento de software para a otimização da eficiência dos secadores de café. Trabalhos nessa área, desenvolvidos por pesquisadores da UFV, estão sendo apresentados em congressos nos EUA. O laboratório coordenado pelo Prof. Paulo possui dezenas de equipamentos de última geração, muitos deles comprados com recursos da FAPEMIG, e sua equipe de quatro pesquisadores desenvolve projetos de ponta sobre as propriedades físicas e a qualidade dos produtos agrícolas.

O poder das bactérias no sabor do café 

Os microorganismos estão em todo lugar: na terra, na água, no ar, por fora e por dentro das plantas e animais. Alguns são patógenos (causam doenças) e outros desempenham funções especiais para o bom funcionamento dos diversos organismos vivos. Mas, antes de 1940, estudiosos do assunto afirmavam que não existiam bactérias, fungos ou leveduras na parte interna das plantas e, caso algum microorganismo penetrasse nas folhas, caules ou frutos, a planta ficaria doente. Hoje, todos sabem que dentro do corpo humano, das plantas e dos animais vivem milhares de seres microscópicos, muitos deles indispensáveis à saúde do organismo. Na Universidade Federal de Viçosa, uma equipe de pesquisadores estuda bactérias que vivem dentro das plantas e não causam doenças, chamadas endofíticas, que podem otimizar o desenvolvimento do cafeeiro e, conseqüentemente, melhorar o sabor do café.

As endofíticas despertaram o interesse dos cientistas, a partir da década de 80, quando o controle biológico de pragas e as técnicas agrícolas ecologicamente corretas entraram em evidência. Essas bactérias são o alvo da doutoranda do Laboratório de Fisiologia de Microorganismos da UFV, Cássia Camargo Harger Sakiyama. Orientada pelo doutor em microbiologia e atual presidente da FAPEMIG, Daison Olzany Silva, Cássia é a primeira pesquisadora a isolar uma bactéria endofítica no fruto do café. “O nosso objetivo é provar que as endofíticas têm um efeito benéfico no cafeeiro, provavelmente de crescimento”, explica a futura doutora. 

O primeiro passo da pesquisa foi o estudo da microbiota do café, antes da colheita, ou seja, dos microorganismos existentes nos frutos. A pesquisadora acompanhou a safra de 2000, na região de Viçosa, e isolou bactérias do fruto verde ao mais maduro, outra inovação do trabalho. O resultado é um banco de dados de 1.500 bactérias endofíticas e epifíticas (externas) isoladas apenas de frutos sadios, para evitar a ocorrência de microorganismos patógenos.

Depois de isolar as bactérias, a pesquisadora selecionou quatro espécies endofíticas de diferentes regiões: Araponga e Viçosa, na Zona da Mata, em Minas Gerais, Serra do Salitre, no Cerrado Mineiro, e Londrina, no Paraná. As bactérias foram inoculadas em cafeeiros cultivados no Laboratório de Culturas de Tecido. Nas culturas de tecido, ou in vitro, um pedaço da folha, caule ou qualquer parte da planta (tecido) é cultivado, em condições assépticas, num meio específico que atenda a todas as necessidades da planta: vitaminas, açúcares, sais minerais, hormônios, etc. A partir do tecido, origina-se outra planta que pode ser levada ao campo ou não, dependendo do objetivo da experiência. A técnica é comum em diversas variedades de plantas, como o milho e a soja. Na cafeicultura é uma novidade, apresentada em julho de 2000, pela equipe da UFV. 








A pesquisadora Cássia observa a cultura de tecido do café

Em uma câmara de crescimento, Cássia comparou as culturas de tecido de café, com e sem a bactéria selecionada. A diferença foi exorbitante, as plantas inoculadas com endofíticas tornaram-se muito mais vigorosas. Além de crescerem mais, as mudas apresentaram um aspecto sadio, o que nem sempre acontecia com as mudas sem bactéria. A experiência provou que as endofíticas estimulam o crescimento da planta e talvez interfiram na fixação de nitrogênio e controle biológico. A pesquisa é o primeiro passo para que as bactérias se tornem a principal ferramenta para melhorar a qualidade do café.

Café de Minas: tecnologia e tradição

Minas Gerais produz mais da metade do café nacional. As principais regiões cafeeiras do Estado são o Sul, com 49,22% da produção, a Zona da Mata, com 28,13% e o Cerrado (Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba), com 22,65%, segundo informações da Secretaria Executiva do Programa Cafeicultura/ Epamig.

No Cerrado, o café foi introduzido na década de 70, com sofisticadas pesquisas agronômicas e tecnologias específicas para a região, já que os fazendeiros buscavam um café moderno. As estações bem definidas, com verões quentes e chuvosos, seguidos de invernos frios e secos e a altitude acima de 800m formam o clima ideal para o cultivo do café de alta qualidade. A produtividade média do Cerrado, caracterizado por médias e grandes fazendas, é uma das mais altas do mundo: 24 sacas por hectare. Na região privilegiada pela natureza, com tecnologias modernas incorporadas a um negócio tradicional, o resultado não poderia ser diferente. O aroma e a doçura dos frutos contribuem para o delicioso sabor da bebida, bastante apreciada nos Estados Unidos, Europa e Japão. 

Mas a mais antiga região de café do Estado e a maior produtora é o Sul de Minas. Assim como no Cerrado, o café do Sul de Minas é exportado pela sua excelente qualidade. A cafeicultura tradicional, herdada dos paranaenses, se desenvolveu rapidamente no terreno montanhoso e solos férteis da região. O clima, mais frio e chuvoso, também é favorável ao cultivo de café. Alguns locais, sujeitos a geadas, colocam a plantação em risco mas, ao contrário do Cerrado, as chuvas abundantes dispensam as técnicas de irrigação. O Sul de Minas se destaca também como pioneiro no cultivo de café orgânico (ecologicamente correto). Por enquanto, a produção é pequena, mas a demanda é crescente e o mercado, promissor.

Cerrado, Sul de Minas ou Zona da Mata. Não importa a região, café de Minas Gerais é sinônimo de qualidade.


VOCÊ SABIA?

Origem do café: A existência do café foi comprovada, pela primeira vez, na Etiópia,
por volta do ano 1.400. Nessa época, pastores de cabras notaram que, quando
os animais comiam uma pequena “cereja” (na verdade o fruto do café), ficavam mais alegres
e saltitantes. Mas acredita-se que, na região de Kafa, também no Oriente Médio,
o café é conhecido há mais tempo: cerca de mil anos. Daí o nome café.

Os árabes, vizinhos do Oriente Médio, foram os primeiros a cultivar o café,
por isso o nome Coffea arabica. Eles foram também os primeiros a beber o café,
em vez de comer ou mascar, como faziam os pioneiros pastores da Etiópia.

Coffea arabica e Conillon robusta: são as espécies de café predominantes no mundo.
No mercado internacional, o arábica é o café mais valorizado porque dá mais qualidade à bebida. Os principais produtores são o Brasil e a Colômbia. O Vietnã é o maior produtor
de Conillon robusta. O robusta é mais adequado para a fabricação de cafés solúveis. 

Café orgânico: vida saudável e preservação ambiental. A harmonia entre as plantas,
os animais e os seres humanos, aliada aos solos equilibrados e biologicamente ativos,
é a base da agricultura orgânica, que não usa agrotóxicos. Privilegia o processo
de produção e não a aparência do produto, que é menos atraente que a dos
cultivados pelo processo convencional (com defensivos agrícolas). 


Para saber mais sobre agricultura orgânica: www.comciencia.br/reportagens

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