Opinião: Parem, corrijam o rumo, estão na contramão

8 de outubro de 2009 | Sem comentários Mais Café Opinião

08/10/2009 – Os cafeicultores de Arábica precisam parar imediatamente este “caminhão desgovernado”, na contramão.


Não há raciocínio lógico, ciência ou matemática que justifique tanta insensatez.
A atividade está em processo de falência por única e exclusiva culpa e responsabilidade de seus dirigentes, tendo por aval os cafeicultores.


Vou justificar esta forte afirmativa.


A sobrevivência de um empreendimento ou atividade econômica necessita fundamentalmente de planejamentos e estou me referindo a estratégicos – da porteira para fora -, e operacionais – da porteira para dentro.
O estratégico contempla a organização da atividade, não das fazendas, considerando todos os fatores externos: produções mundiais, consumo, estoques, bem como suas tendências, entre inúmeros outros.


O operacional é relacionado ao que ocorre dentro das propriedades e no aspecto financeiro e econômico de cada produtor. O “coração” do operacional está nos custos de produção e nos preços de venda. A diferença entre um e outro é o lucro.


Assim, ao pensarmos no estratégico, a cafeicultura não o possui, razão dos cenários aterrorizantes, por que passa e continuará passando.

No operacional o problema é potencialmente grave e assustador.


O estratégico depende diretamente do operacional sob muitos aspectos, porém, em especial o custo de produção.

O problema gravíssimo é que ao contrário do que deveria ser, procuram informar estes custos nivelando-os por baixo. Parece que existe uma concorrência no sentido de propalar, apesar de que falsamente, serem estes custos sempre menores do que na verdade o são. E levam isto como se fosse um troféu. O troféu da idiotice, pois com custos não se brinca. Sendo para concorrer e sobreviver, necessitam nivelar por cima ou no mínimo pela média, jamais por baixo. Não consigo compreender como não conseguem compreender isto. É tão elementar este erro que se torna inadmissível e por isto, muitos estão falindo e os poucos que se mantêm o fazem à custa de outros aportes financeiros. Para piorar, os que se mantêm, acreditam que são eficientes, se gabando; irão quebrar mais tarde, mas certamente não escaparão.
Estão todos no mesmo barco furado, cada um mentindo mais que o outro e com vergonha de mostrar a verdadeira situação. Mesmo porque, se mostrarem ai é que não obterão financiamento algum. Precisam mentir para este efeito, mesmo sabendo que mais a frente a bolha irá estourar.


Quem possui cafeicultura mecanizada, pode ter um custo menor em relação à cafeicultura manual, ou semi-mecanizada, porém isto é muito relativo e jamais como regra básica.
Fui dar consultoria na elaboração de um planejamento em uma propriedade essencialmente cafeeira, com 2.300 hectares de café, mecanizados, onde o produtor possuía 54 tratores cafeeiros e 06 colheitadeiras automotrizes. De imediato, pela destreza neste tipo de análise, percebi que necessitaria apenas 14 tratores cafeeiros e 2 colheitadeiras. Este caso serve para ilustrar o que ocorre na maioria absoluta das propriedades cafeeiras: um super dimensionamento de máquinas e equipamentos, elevando potencialmente os custos de depreciação e manutenção, afetando diretamente o custo horário destes.


Assim, sei por inúmeros projetos desenvolvidos, que este super dimensionamento produz um efeito desastroso, pois em média, os tratores cafeeiros trabalham apenas 411 horas/ano, enquanto deveriam trabalhar no mínimo 1500 horas/ano. Não bastasse isto, que para ser dimensionado precisaria o planejamento ser desenvolvido através de análises de processos e padronização das atividades, o profissional, ou seja lá quem for, responsável por este cálculo para estabelecer estes custos considera o preço da máquina retirando sua depreciação e o divide pela informação de vida útil das máquinas, impressa no manual destas. Neste caso comum à grande maioria, divide este preço por um intervalo entre 1200-1500 horas, enquanto na verdade chega a 4 vezes inferior, falsificando ou mascarando uma informação vital, ou seja, seu custo é 4 vezes superior ao que acredita ser.


Assim, não se iludam, em acreditar que o custo mecanizado significa eficiência em relação ao manual. Posso ter uma lavoura manual com produtividade muito superior à mecanizada, que compense a não utilização desta tecnologia. Posso ter uma lavoura manual, que devido a área insuficiente para justificar tecnologia de mecanização seja mais aconselhável, porém, que sua tecnologia seja por adensamento. Perde-se de um lado e ganha-se de outro. È assim, que deveria funcionar na cafeicultura, ou seja, procurando o ponto de equilíbrio, competitividade e sobrevivência. Porém, após encontrar o ponto de equilíbrio, é fundamental que jamais nivelem seus custos por baixo, principalmente pelo fato que geralmente informam o custo medido, ou seja, que passou e raramente com um planejamento preciso que anteceda a estes. Portanto, erram muito e este erro é fatal. Razão da decadência da atividade.


Como se isto não bastasse e aproveitando as informações errôneas, além de niveladas por baixo, que transmitem aos outros, o governo e o próprio mercado, desavisados e desconhecedores por completo disto, acreditam e são os cafeicultores que perdem competitividade, concorrência pela sobrevivência, e além de tudo são taxados de chorões, por seus constantes pleitos de prorrogações e novos recursos.


Estão errados, e muito errados. Desde a falta absoluta de organização eficiente no topo das lideranças, assim como no que consideram como verdades.


Caso não tomem, urgentemente, medidas drásticas em tudo isto, não haverá solução alguma e perderão suas propriedades, sendo que os novos cafeicultores terão uma mentalidade totalmente diferenciada, se houver alguém com esta disposição, pois com um sistema incompetente e incapaz a gerenciar esta atividade, nem milagre resolve, como foi o caso deste cliente citado acima o qual o recusei tendo por justificativa a relutância do mesmo em se adaptar ao necessário, e por saber que quebraria caso não se adequasse, o que realmente aconteceu em poucos anos, por vaidade e teimosia, que nada resolveram.


O que a cafeicultura precisa é de mudança drástica de rumos, com uma visão totalmente diferenciada da costumeira. Mudar tudo, radicalmente e rapidamente, se desejarem permanecer nesta atividade.


José Eduardo
Estrada Consultoria


 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.