Metamorfose ambulante – Café com leite ou capuccino?

22/12/2006 04:12:52 – Zero Hora – RS

café com leite ou capuccino? café com leite, com orgulho. Conheço muitas pessoas capuccino. Pessoas assim: têm uma vida certinha que me provoca dores estomacais e espasmódicas. Chegam no horário certo para trabalhar, reclamam se têm pouco serviço, reclamam se têm muito serviço. AH FALA SÉRIO, se soubessem como são chatas! Discutem sobre qualquer assunto: seja política, economia, saúde, esportes e ainda estão por dentro das últimas. E se não entendem algo, apenas criticam. Convenhamos que criticar é sempre mais fácil e os capuccinos pensam que isso os faz mais inteligentes. Nós, os cafés com leite, ficamos com os pontos de interrogação. Pra que saber de tudo e sobre tudo? Por quê? Como assim?

É tão gostoso ouvir um pouco os outros, olhar diferentes ângulos, caminhar por outras ruas, ler idéias e concepções distintas. Se não sabemos, temos a humildade de perguntar e falar: “Eu não sei”. Cara! Ninguém nasceu sabendo. Ninguém precisa decorar versos e poesias e declamar se achando sábio. Não precisamos ser tão livres nem ter uma alma tão presa, tão acorrentada. Se a corda é fina, arrebenta, se é grossa, aprisiona.

Ser café com leite, amigo, não é estar em cima do muro, muito menos desfrutar de duas caras. Afê! Coisa boa ser um pouco flexível a diversidades… Assim, o nosso banquinho sempre estará vazio, nos esperando, e sempre vai haver pessoas ao redor dele, ansiando nossa presença.

Não nos escondemos dos problemas e não chamamos a atenção (é ela que vem), não entramos e não apartamos brigas alheias. Nunca precisamos nos esconder em um buraco, como um tatu ou Saddam Hussein (que, aliás, está com o pescoço na forca).

Prefiro ainda ser café com leite, porque se não quero atender o telefone, não atendo. Se tenho vontade de sair de noite e andar por aí contemplando o que eu quiser contemplar, eu vou. Verbos? Sou. Posso. Consigo. Amo.

Parafraseando Raul: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”.

Um capuccino nunca está apenas escutando uma prosa. Ele logo dá jeito, entra no meio, acrescenta, rebate… Acham que sabem tudo e que vão dominar o mundo!

Beleza, vai logo, capuccino dominar este mundão… espero que não acabe num buraco, muito menos na forca da vida. Às vezes, uma gota de doçura faz bem, termina com o amargo da vida. Açúcar ou adoçante?