Látex é o novo ouro verde do Noroeste do Estado de ES

Por: 01/05/2007 07:05:16 - A Gazeta - ES

 
01/05/2007 07:05:16 – A Gazeta – ES
Nilo Tardin
ntardin@redegazeta.com.br


Colatina. O avanço das plantações de seringueira (Hevea brasiliense) no Noroeste do Espírito Santo permitiu a borracha capixaba invadir o mercado mundial do látex. A maioria da matéria-prima é usada na fabricação de pneus, materiais médicos, calçados, tecidos e brinquedos.


A terra do café se rendeu à importância econômica e social da árvore da borracha. As mudas de seringueiras chegaram tímidas e intercaladas com outras lavouras em São Gabriel da Palha nos anos de 1990; momento dramático que o preço do café atingiu o fundo do poço. Na ocasião, a saca chegou a ser vendida por ‘míseros’ R$ 38,00, recorda o agricultor Abimael Nascimento Filho, 57 anos, um dos pioneiros do plantio comercial de seringueira na região.


Com 3,5 mil plantas em sangria, Abimael cogita ampliar os seringais por causa dos preços em alta e investe na produção de mudas clonais no viveiro do Sítio Renascer, no Córrego Rancho Alto a 10 km do centro de São Gabriel.


“Quem quiser iniciar um seringal pode entrar sem susto. São dez meses de colheita semanais. É dinheiro certo no bolso do produtor. Foi a redenção de muitas propriedades por aqui quando o café despencou”, disse Abimael. As seringueiras viraram o novo ‘ouro verde’ em São Gabriel. Atualmente ocupa 286 hectares, o equivalente a 300 campos de futebol ficando atrás apenas do imbatível general-café, coco, e do eucalipto.


Em São Gabriel a seringueira está distribuída em 250 pequenas propriedades. Ocupa entre dois a três hectares de terra, ou seja floresce em quase 1/4 dos quase 1,5 mil terrenos rurais. Em geral, são covadas 500 plantas por hectare que rendem até 1,3 mil quilos de borracha seca ano, informa o agrônomo Carlos Lobo Teixeira, do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper) de São Grabriel.


Enfim o mundo da borracha capixaba toma novos e promissores rumos. A multinacional Michelin, acaba de instalar mais uma unidade em Sooretama, além da indústria que beneficia toda produção daqui. Trata-se das Plantações Eduardo Michelin do Espírito Santo, a exemplo de São Paulo, Bahia e Mato Grosso.


Segundo Teixeira, o propósito da empresa é incentivar e apoiar o crescimento da borracha no Estado, seja no fornecimento de mudas e tecnologia. Entretanto, segundo técnicos florestais a falta de mudas subsidiadas ou o alto preço cobrado pela empresas agrícolas impede a expansão das áreas plantadas no Estado.


“Ocupamos um quatro e honroso lugar no ranking nacional”, diz ele, com orgulho de vencer parte de uma batalha no combate à desertificação e impactos da estiagem do polígono da seca capixaba, incluso na zona de abrangência da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).


Plantio tem vantagem de combater o efeito estufa


O movimento de combate ao efeito estufa e o aquecimento global se tornou um forte aliado do plantio de seringueira por conta da capacidade de fixar o CO2, o mortal veneno da atmosfera.


Segundo Carlos Lobo, a planta age como uma faxineira do ar pois seqüestra mais carbono do que outras espécies nativas. Apresenta também outras vantagens ecológicas, entre as quais a conservação do solo e refúgio de animais silvestres e da flora. Cada árvore produz látex por cerca de 45 anos. A madeira cobiçada pela indústria moveleira. Os galhos viram lenha na poda.


Hoje, criar um seringal não está nada fácil. A maior dificuldade é mesmo a aquisição de mudas confirma o técnico agrícola Paulo César Henriques, 40 anos, do Assentamento Zumbi dos Palmares, em São Mateus. Em Zumbi dos Palmares 151 famílias ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST) foram beneficiadas com 7,5 hectares de terras onde foram plantadas seis mil seringueiras agora em franca produção.


“Quem investiu ou comprou direitos de sangria não se arrependeu. Ganharam em qualidade de vida”, disse Paulo também beneficiado com uma das glebas de reforma agrária. Cursos de sangradores foram ministrados em Zumbi dos Palmares pelo Incaper. Paulo Henriques também reclama da falta de mudas de qualidade e do alto custo cobrado pelas empresas.


O coordenador do Programa Estadual de Silvicultura do Incaper, o agrônomo Pedro Arlindo Galvêas acentua que o governo do Estado mantém acordos de cooperação com associação de produtores interessados em produzir mudas para consumo próprio. “São fornecidos sacolas, tecnologia, as hastes para enxertia e enxertadores”, disse Galvêas.


As mudas não podem ser vendidas, alerta. Segundo Pedro produzir mudas de seringueira é complicado, o que eleva o seu custo. A semente perde o poder germinativo muito rápido, cerca de uma semana depois de colhida. Enxertar as gemas também exige habilidade. A parceria em estudo com a Michelin seria a saída para acabar com ‘gargalo’ que emperra a ampliação da cultura.


Diversificação foi difícil na região


“Não foi nada fácil convencer os agricultores a investir numa cultura fora do nosso contexto, muito em cima do café”, afirma Carlos Lobo quando decidiu comprar a briga pela diversificação das lavouras em São Gabriel. Daí para frente foram realizados três simpósios de heveicultura, tratados de cooperação nas prefeituras da região desenvolver a cadeia produtiva, além dos cursos de sangria. O Espírito Santo conseguiu ganhar a concorrência dos maiores estados produtores para sediar o Congresso Brasileiro de Heveicultura, tal a importância da borracha na economia regional. O evento será no Centro de Convenções de Guarapari, de 18 a 21 de setembro. São esperados cerca de 550 produtores de todo Brasil.
 

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