História do leite

07/12/2006 05:12:09 –

Por: Jornal Estado de Minas

João Castanho Dias relata como o produto entrou no mercado brasileiro enfrentando preconceitos

Carlos Herculano Lopes Fábio Moreira Salles/Stela Morato/ReproduçõesOs EUA testaram em 1909 uma ordenhadeira presa na vaca por suspensórios

Depois de publicar O leite na paulicéia, eleito o livro do ano de 2004, em São Paulo, por ocasião dos 450 anos de fundação da cidade, o advogado, jornalista e pecuarista João Castanho Dias lança novo trabalho dedicado ao tema. Trata-se de 500 anos de leite no Brasil, no qual volta às origens da colonização para contar como esse produto, hoje tão popular nas mesas dos brasileiros, ficou conhecido em 1500. Se as primeiras cabeças de gado, trazidas por Martim Afonso de Souza, foram deixadas em São Vicente, no litoral de São Paulo, por volta de 1532, no entanto, as primeiras referências ao leito bovino no Brasil só seriam feitas 20 anos depois, em 1552, por meio de cartas escritas pelo padre Manoel da Nóbrega a seus superiores em Portugal. Naquelas correspondências, consideradas fontes das mais importantes para conhecer a história do leite no Brasil, ele conta como usava o produto, que era extraído de 12 vacas, para atrair alguns indiozinhos que queria catequizar.

“Podemos dizer que o padre Nóbrega foi autor do primeiro trabalho de marketing institucional do leite no Brasil, ao usar o produto para se aproximar daqueles meninos”, diz João Castanho Dias, nesse sugestivo trabalho. Mas se hoje o leite é popularíssimo por aqui, onde também é consumido por crianças e marmanjos em forma de queijos, iogurtes, requeijões, manteigas etc., as coisas nem sempre foram assim, e foram necessários, segundo pesquisas feitas pelo escritor, cerca de 300 anos para o produto cair no gosto do povo. “Existia um preconceito terrível contra o consumo de leite no Brasil, provocado por fatores diversos, e isso só começou a acabar em 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, que fazia questão de queijo e manteiga nas refeições”, diz Castanho.

PIONEIRISMO Entre várias outras coisas curiosas contadas no livro, que vem com dezenas de ilustrações, o autor fala das primeiras ordenhas mecânicas, que chegaram ao Brasil somente por volta de 1930, ao passo que nos Estados Unidos, e na Inglaterra, por exemplo, elas já existiam bem antes disso. E mais: ele conta como, levado pelo pioneirismo, o médico Carlos Pereira de Sá Fortes, em 1888, criou em Santos Dumont, na Serra da Mantiqueira mineira, a primeira fábrica de laticínios do Brasil e da América Latina. Também foi nesta cidade que, em 1923, surgiu a primeira indústria de coalho do país, iniciativa do holandês João Kingma e do pecuarista João Geraldo Freriks. Até então, em muitas regiões, as enzimas usadas para coalhar o leite, ainda eram retiradas do estômago de alguns animais, como o tatu canastra, a anta e o veado, usando métodos que remontavam ao início do século 19, quando os primeiros queijos começaram a ser fabricados no Brasil, com Minas saindo na frente.

Ordenhadeiras da Hamra Farm Suécia, que entraram no mercado na década de 1920
Um capítulo especial, “O leite na poesia”, mostra como vários literatos, no decorrer do tempo, falaram sobre o produto. Das mais interessantes é uma crônica de Olavo Bilac, “café com leite”, publicada no jornal Gazeta de Notícias, do Rio, em agosto de 1902. Nela o “príncipe dos poetas”, em momento de completo desvario, defende a tese de que uma das coisas que estava contribuindo para a diminuição do consumo de café no Brasil era a adição do leite ao mesmo. “ O café fica empatado, porque seu consumo diminuiu; (…) unicamente, porque o povo deu em tomar café com leite, em vez de tomar café puro…Antigamente, o leite era um líquido que servia unicamente para alimentar crianças… Hoje, porém, o abuso toca as raias da pouca vergonha. “ Como se vê, lendo essa crônica, o preconceito contra o leite ainda ultrapassou, em muito, à chegada da Família Real ao Brasil.

Fazendeiro em Santa Cruz do Rio Pardo, no Oeste Paulista, onde também, obviamente, dedica-se à produção de leite, João Castanho Dias, incentivado pela acolhida que vem alcançando com o lançamento de 500 anos de leite no Brasil, conta que já começa a escrever um novo livro, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2007. “Desta vez vou contar toda a história do leite em Minas. Já colhi muito material e estive aí várias vezes. O trabalho está ficando ótimo”, diz.

500 anos de leite no Brasil

Livro de João Castanho Dias, 148 páginas, R$ 80, Calandra Editorial. Informações: (11) 3825-9248 ou www.leitebrasil.org.br

Fonte: http://www.uai.com.br/emonline/estaminas/cadernos/cultura/200702.html acessado em 09 dez 2006

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