É preciso mudar estatuto para internacionalizar a Embrapa

Por: O Estado de S. Paulo

25/07/09


Arraes disse que a empresa fincará bandeira no exterior começando por países de língua portuguesa na África


Célia Froufe


Há pouco mais de 15 dias no comando da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o pesquisador Pedro Arraes, que chefiava a unidade de Arroz e Feijão da estatal, já definiu um foco de trabalho: pretende mudar o estatuto da empresa para que ela finque de vez o pé no Exterior. Atualmente, a Embrapa precisa usar de artifícios para atuar fora do Brasil.


Ele definiu que Moçambique e Angola, dois países de língua portuguesa na África, serão os pontos de partida dessa operação formal. A internacionalização da Embrapa é fundamental para que a empresa atue, segundo o pesquisador, em situações de grande repercussão internacional, como o caso da epidemia de Influenza A (H1N1). É possível, segundo Arraes, que a vacina para animais contra esse problema seja desenvolvida por meio de uma parceria com os EUA.


Além disso, já recebeu o aval informal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para criar um centro de capacitação internacional da empresa, em Brasília, voltado para a agricultura tropical. O presidente Lula o trata por Pedro e já disse publicamente ter “uma química” com o pesquisador. A seguir, os principais trechos da entrevista.


Como a “química” entre o sr. e o presidente poderá beneficiar a Embrapa?


A gente ter interlocuções é sempre importante, e isso facilita muito, pois a Embrapa é uma empresa muito complexa e muitas vezes é demandada para questões que não fazem parte da sua missão. E isso é importante para que a empresa tenha foco e possa continuar produzindo os resultados vistos até hoje.


O sr. disse na cerimônia de posse que ouviu do presidente Lula “música para os ouvidos”. Está descartada qualquer interferência política na Embrapa?


Todo pesquisador, acho, gostou muito de ouvir do presidente a questão da interferência política. Ela não existe. Não vou dizer que não exista, mas a interferência política não vai pautar nada aqui dentro.


Como está esse processo de internacionalização?


Na nossa área internacional, temos que melhorar, que profissionalizar. Exemplo: está escrito no estatuto da Embrapa que a empresa só pode trabalhar em território nacional.


Mas a Embrapa possui um laboratório nos Estados Unidos, não é?


É que foram feitos arranjos de tal maneira que conseguimos construir esse laboratório, como se fosse um local de treinamento. Na realidade, era uma forma de fazer sem ter que mudar isso (o estatuto), porque demora muito. Mas a gente terá que mudar o estatuto para permitir isso. A gente não pode falar que tem um escritório lá fora, na África. E o mesmo para os Estados Unidos, onde temos um convênio voltado para a pesquisa.


E essa mudança no estatuto pode ocorrer de forma rápida?


Pode, pois essa questão facilita as coisas. Facilita, por exemplo, transferência de recursos.


Quando o sr. pretende apresentar o projeto? Este ano?


Acho que não. Espero que este ano consiga prepará-lo.


Mas é preciso ser rápido, pois o mandato de Lula está acabando…


Acredito que independentemente de quem esteja no governo, a Embrapa é uma empresa do Estado e acho que nenhum governante impedirá algo que vá melhorar.


A África, que o sr. citou há pouco, é a menina dos olhos do presidente. Gostaria que o sr. detalhasse essa parceria: como está hoje e para onde ela vai?


Existe uma demanda imensa do Ministério de Relações Exteriores em relação a demandas pontuais. De Moçambique, onde temos o escritório, e de outros. É uma coisa incrível a quantidade de solicitações que recebemos e é uma decorrência das viagens que o presidente fez (ao continente).Vamos defender algumas bandeiras: Moçambique provavelmente é uma; Angola é outra… E mais uns dois. Nesses, vamos ter um projeto, com começo, meio e fim, para daqui a três anos podermos fazer uma avaliação sobre como foi. A Embrapa é uma empresa aglutinadora. Até os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, estão usando a Embrapa como ponte para entrar na África. Talvez possamos colocar até uma pessoa nossa lá para coordenar isso.


Em um momento em que se critica muito os gastos do governo, principalmente com funcionalismo, a Embrapa fará concurso público. É realmente necessário ampliar quadro?


A Embrapa teve um PDI (Programa de Demissão Incentivada) em setembro e ficou os últimos 20 anos praticamente sem contratações volumosas. Teve um soluço (de contratação) em 89 e depois em 94, mas não havia manutenção das vagas com os desligamentos. O que queremos é repor o quadro inicial da Embrapa, em torno de 10 mil funcionários (hoje há aproximadamente 8,8 mil empregados). A Embrapa vem estudando, por meio de seu escritório nos EUA, uma vacina para a influenza A (H1N1) para animais.


O Brasil pode ser o co-autor de um medicamento efetivo?


Acho que se vier alguma coisa de novidade, será por esse intercâmbio. E isso mostra como é importante esse instrumento.



 

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