Contribuição do Turismo Comunitário ao desenvolvimento rural

21 de agosto de 2009 | Sem comentários Especiais Mais Café
Por: 20/08/2009 - Adital

Autor: Ernest Cañada *
Tradução: ADITAL



Durante os últimos o Turismo Comunitário (TC) recebeu uma atenção
contraditória. Por um lado, incrementam os fundos de cooperação destinados a
esse setor; porém, por outro lado, aumentam as vozes que questionam sua
contribuição e enfatizam as contradições dessa estratégia como fato de
desenvolvimento rural. Uma de suas principais debilidades é, paradoxalmente, a
escassez de estudos que coloquem em evidência as contribuições do TC ao
desenvolvimento rural. Nesse sentido, identificamos sete grandes âmbitos de
contribuição que, em nossa opinião, o TC já está gerando na América Latina sobre
os quais vale à pena centrar um programa sistemático de investigação.



Entendemos o TC como um tipo de turismo desenvolvido em zonas rurais no
qual a população local, especialmente os povos indígenas e as famílias
camponesas, através de suas distintas estruturas organizativas de caráter
coletivo, exercem um papel preponderante ou protagonista em seu desenvolvimento,
gestão e controle, bem como na distribuição de seus benefícios. O TC não
substitui as atividades agropecuárias tradicionais (agricultura, pecuária,
pesca, produção artesanal…), mas é uma forma de ampliar e diversificar as
opções produtivas das comunidades rurais e complementar as economias de base
familiar camponesa.


As principais contribuições identificadas são:


– Diversificação produtiva, criação de emprego e geração de recursos
econômicos diretos. O turismo tem sido uma via de diversificação das atividades
produtivas das comunidades rurais. A execução de serviços turísticos tem gerado
novas fontes de emprego em comunidades rurais em múltiplas ocupações, tanto para
os próprios proprietários das iniciativas de alojamento, como para empregados
dessas ou para os provedores de diversos bens ou serviços. Esses empregos não
somente têm gerado ingressos renda, mas esta, distribuída ao longo do ano ou não
ser necessariamente coincidente com a renda derivada das atividades
agropecuárias tradicionais, tem permitido que as famílias envolvidas em ditas
atividades possam melhorar seu bem-estar e condições de vida. A renda derivada
do turismo tem contribuído significativamente para uma melhoria da alimentação
familiar e para a educação dos filhos/as.


– Manutenção de propriedades e melhoria de infraestruturas. O desenvolvimento
de atividades turísticas por parte das comunidades ou alguns de seus membros tem
contribuído para uma revalorização dos bens e recursos comunitários, como a
terra, o bosque ou a água. Com frequência, o incremento do valor desses
recursos, principalmente da terra, tem contribuído para sua manutenção ante as
pressões do mercado para sua venda. Além disso, as infraestruturas familiares e
comunitárias criadas para atender aos turistas (hospedagens, restaurantes,
albergues, salas para eventos…) têm tido também outros usos, beneficiando as
populações locais. Uma das principais contribuições do TC é que permitiu a
mobilização de recursos que o campo capitaliza e ficam em mãos das famílias
camponesas e comunidades rurais.


– Dinamização da economia local. Os benefícios gerados pela atividade
turística, além de melhorar as condições de vida das famílias diretamente
envolvidas e de ser reinvestidos no próprio funcionamento da atividade
turística, têm sido utilizados no progresso e fortalecimento de outras
atividades produtivas dentro das mesmas cooperativas ou comunidades rurais.
Existem diversos exemplos de como, através da renda gerada pelo turismo,
conseguiu renovar as plantas de café ou construir infraestruturas necessárias
para transformar e agregar valor à produção agrícola. Porém, o impacto econômico
da atividade turística não acaba aí. Um dos impactos mais sentidos e valorizados
nas comunidades, também por pessoas não envolvidas diretamente em serviços de
alojamento e atenção, diz respeito à dinamização e à reativação das economias
locais, gerando uma forte demanda vinculada à produção e à venda de alimentos e
bebidas, ao aluguel de serviços, ao transporte, etc. Onde o turismo comunitário
conseguiu impulsionar as economias locais, produz-se uma significativa redução
da emigração.


– Democratização do acesso a espaços rurais. Diante de outros modelos de
desenvolvimento turístico, como o turismo residencial, por exemplo, que provocam
uma “elitização” do espaço e por isso seu acesso fica restrito ao uso e desfrute
de setores com maiores recursos econômicos, o TC coloca à disposição da grande
maioria da população espaços, infraestruturas e serviços. Apesar de que o TC
ainda depende demasiado do mercado internacional, o grosso das ofertas e preços
estabelecidos facilitam esse acesso público, contribuindo a uma maior “justiça
ambiental”.


– Proteção do meio ambiente. A grande maioria de iniciativas comunitárias
desenvolveu-se ao lado das estratégias de proteção e cuidado do meio ambiente,
impulsionadas pela própria população local. O impulso de atividades de TC e o
cuidado do meio ambiente desenvolveu-se de forma interrelacionada.


– Algo de novo nas relações de gênero. Os trabalhos de atenção e serviço aos
turistas, exceto os de guia, têm recaído em sua maioria nas mulheres das
comunidades. Esse protagonismo, vinculado a uma atividade nova e que está
gerando renda significativa, tem gerado algumas mudanças nas relações cotidianas
de poder entre homens e mulheres. As mulheres vinculadas a esse tipo de
atividades turísticas têm incrementado sua participação e protagonismo nos
assuntos públicos da comunidade. Não são poucas as mulheres que dispõem e
controlam de forma autônoma os recursos econômicos obtidos. Uma das questões nas
quais as mulheres que entrevistamos fixam sua atenção é que, graças ao turismo,
apesar do aumento de algumas de suas tarefas cotidianas, puderam deixar os
trabalhos mais pesados do campo. Muitas afirmam com orgulho que agora já não têm
que “pegar sol” e podem trabalhar em lugar protegido. E também é certo que a
presença de homens e mulheres de outras partes em zonas rurais permite a essas
populações e, especialmente às jovens, o contato, o intercâmbio e o conhecimento
de outras formas de ver a vida, a maternidade, as relações conjugais, as
preferências sexuais, o trabalho doméstico, etc. O contato com pessoas que têm
visões distintas das relações de gênero, pode ter contribuído à transmissão de
valores distintos aos tradicionais.


– Oportunidades de enriquecimento cultural. O desenvolvimento de atividades
turísticas no campo e naquelas em que o principal motivo de atração tem a ver
com a própria vida rural, tem sido uma oportunidade para a revalorização e o
reconhecimento do rural, de sua cultura material (arquitetura, trabalhos,
cozinha, etc.) e suas distintas expressões culturais artísticas (música, danças,
canções…). Em várias ocasiões, a população urbana vive de costas e negando a
cultura rural. O turista valoriza aspectos da vida cotidiana das comunidades, o
que supõem um motivo de reconhecimento e autoestima. Por outro lado, o contato
com a população de outros lugares e países tem sido uma oportunidade especial
para que as pessoas do campo possam conhecer-se, intercambiar e enriquecer-se
culturalmente. As formas de turismo mais vinculadas ao voluntariado e à
solidariedade internacional têm sido especialmente propenso à geração desse tipo
de processos.


A definição de uma agenda de investigação do TC não termina aqui; é
necessário identificar também suas debilidades, limitações e contradições. No
entanto, entendemos que, em primeiro lugar, é necessário entender melhor e poder
valorizar o que está contribuindo o TC ao desenvolvimento rural na América
Latina.



[Publicado em Blog da Red Prensa Rural (http://redprensarural.com/), 7 de agosto
de 2009].
 

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