Brasileiros descobrem ‘café sem cafeína’

Uma equipe de pesquisadores brasileiros descobriu uma espécie de café naturalmente descafeinado. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira na revista científica Nature e pode abrir caminho para a ampliação de um mercado já estimado em 10% dos consumi

18 de novembro de 2005 | Sem comentários Biotecnologia Tecnologias
Por: BBC por Carolina Glycerio


Uma equipe de pesquisadores brasileiros descobriu uma espécie de café
naturalmente descafeinado.


A descoberta foi publicada nesta
quarta-feira na revista científica Nature e pode abrir caminho para a ampliação
de um mercado já estimado em 10% dos consumidores do produto.


“Um café com um selo ‘naturalmente descafeinado’ e com a qualidade total da
bebida certamente vai ter um espaço garantido no mercado”, afirmou um dos
autores da pesquisa, Paulo Mazzafera, em entrevista à BBC Brasil.


Mazzafera, do Departamento de Fisiologia Vegetal da Unicamp, explica que a
planta descafeinada é uma mutação da espécie coffea arabica, a mais consumida no
mundo, e foi encontrada em meio a mudas trazidas da Etiópia para o Brasil em
1965.


A planta mutante tem 0,06% de cafeína, ou seja, 20 vezes menos do que as
variedades comerciais.


O pesquisador do Unicamp e os seus dois co-autores no estudo, Maria Bernadete
Silvarolla e Luiz Carlos Fazuoli, do Instituto de Agronomia de Campinas, levaram
17 anos para encontrar a planta, que é procurada por pesquisadores de vários
outros países.


Menos sabor


O processo industrial atualmente utilizado para tirar a cafeína do café,
explica Mazzafera, remove propriedades essenciais ao sabor da bebida. Uma planta
naturalmente descafeinada preservaria essas propriedades, eliminando apenas a
cafeína.


O pesquisador diz que, embora não haja provas de que faça mal à saúde, a
cafeína é hoje considerada uma droga, por criar um estado de alerta e tirar o
sono das pessoas mais sensíveis à substância – justamente o mercado alvo do café
descafeinado.


“Dependendo da quantidade de cafeína que ingerirem, algumas pessoas têm
palpitações e aceleração de batimentos cardíacos”, explica Mazzafera.


Segundo o especialista, normalmente o organismo humano leva seis horas para
“se livrar” da cafeína, mas em algumas pessoas esse processo leva mais tempo.
“Tudo depende da sensibilidade e da capacidade de metabolizar a cafeína.”


Ele explica que provavelmente será preciso cruzar sementes descafeinadas com
uma variedade comercial de coffea arabica, uma vez que os pesquisadores estimam
que a produtividade da planta descafeinada seja baixa.


“Estimamos que elas tenham 30% da produtividade das variedades comerciais.”
Nesse caso, das sementes geradas pelo cruzamento, seriam escolhidas as que
tivessem menos cafeína, que, por sua vez, seriam novamente cruzadas entre
elas.


Segundo Mazzafera, o chamado processo de melhoramento das sementes
descafeinadas poderá levar de seis a 15 anos.


Consumo


No Brasil, o consumo de café descafeinado é relativamente pequeno, cerca de
1%, mas nos Estados Unidos, chega a 20%.


Tentativas anteriores de produzir uma planta com baixo teor de cafeína
falharam porque envolveram espécies que não produzem um café saboroso ou porque
recorreram à modificação genética, ainda polêmica e sujeita a rígidas
regulamentações.


Os pesquisadores alegam que, embora ainda não esteja clara a viabilidade
comercial da planta descoberta, o fato de ela pertencer à espécie mais cultivada
e consumida no mundo aumenta as chances de a planta gerar café de alta
qualidade.


Para o pesquisador, o investimento no café descafeinado de qualidade poderia
ajudar o Brasil no competitivo mercado mundial do produto.
 

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