Artigo: Falhas, Problemas e Soluções Para a Cafeicultura

29 de junho de 2009 | Sem comentários Mais Café Opinião

Não irei fazer suposições, mas sim uma apresentação de fatos, apontando falhas, problemas e indicando soluções para a cafeicultura nacional observar, corrigir e agir. O farei aplicando os procedimentos e conceitos que a maioria das empresas utiliza rotineiramente.


Inicialmente apontarei o que considero como falhas, problemas e por último as soluções.



Falhas do sistema


O Sistema pelo qual a cafeicultura depende é ineficaz, obsoleto, incapaz e incompetente. Uma das razões a esta afirmativa está localizada com maior intensidade no fato de não se portar como atividade produtiva do setor privado. Para toda decisão fica a espera por soluções que o governo tome. É como se o governo fosse o diretor-presidente do conselho desta atividade essencialmente privada, ou melhor, o Pai. A dependência paternalista faz com que a cafeicultura se comporte com imaturidade e dependência absolutas, portanto, incapaz de propor qualquer tipo de soluções.


Sendo incapaz de propor soluções consistentes e não possuindo visão alguma de riscos e dificuldades a situação atual não poderia ser outra a não ser o caos, retratado pela falência da atividade, o que já ocorreu no passado.


O CDPC criado e presidido pelo governo e composto por grupos econômicos heterogêneos e interligados na obtenção do produto, mas totalmente distintos em interesses e objetivos é irracional e ilógico. Não possui aspecto algum de eficácia ou desenvolvimento e ao contrário, gera confusão na área produtiva, pois atividades distintas, com interesses opostos se acham no direito de ditar regras na produção.  Portanto, contraditório em formular políticas que atendam aos interesses dos participantes com igualdade e justiça, bem como a satisfazer as necessidades financeiras dos envolvidos nesta “Torre de Babel”. Deveria ser desfeito, mesmo que sob pressão da atividade produtiva cafeeira, abandonando os assentos a que possui nesta entidade, fazendo perder a finalidade. A extinção completa deste órgão é fundamental para reestruturar a cafeicultura.


O CNC, que necessária e obrigatoriamente, deveria formular todos os elementos que fundamentam a eficiência e sobrevida da atividade produtiva no sentido de apresentá-los precisamente ao governo sob os aspectos de fornecer análises precisas na criação de políticas é incapaz.


As Cooperativas de produção deveriam aplicar com maior propriedade a finalidade não lucrativa, a que são sujeitas, focando com maior atenção e profissionalismo o atendimento às necessidades dos cooperados sob os aspectos não apenas agronômicos, mas também gerencial; repassar a venda de insumos e produtos a preços isentos de lucros, por não ser esta a finalidade; prospecção por novos clientes compradores do produto café, que seguramente existem e estão à espera de negócios justos.


Incompetência em não possuir um próprio sistema de informações e análises sobre projeções produtivas, custos produtivos, acompanhamento de estoques nacionais e internacionais, projeções de consumo, cenários futuros com suas tendências, entre inúmeras outras análises.


Necessidade absoluta em diferenciar conduções independentes e isoladas entre a representatividade para os cafés arábica e robusta/conillon. Torna-se necessário e imperativo criar um novo modelo, distinto entre os tipos deste produto.


Necessidade de repensar na objetividade da OIC, quanto ao atendimento das necessidades dos produtos brasileiros focando a atenção por sermos o maior produtor. Sendo o maior em quantidade e talvez em qualidade, não se justifica absolutamente ficar subjugado a regras ou procedimentos que não se traduzam em benefícios diretos e precisos. Quando se é o maior e talvez o melhor seguramente deveria exercer os direitos característicos desta posição e não o contrário, como acontece atualmente. Isto se traduz em ineficiência e incompetência total.


Necessidade absoluta em conduzir a atividade sob as regras do setor privado, a qual pertence, aplicando eficientemente o profissionalismo e eficiência.


Necessidade de romper o padrão pelo eterno paternalismo governamental, o qual não provoca nenhum beneficio, elaborando, propondo e negociando alternativas para este efeito.



Problemas, como conseqüências.


Custo de produção e Preços mínimos


O custo de produção é o elemento inicial e fundamental para a atividade. Sobre este são elaboradas todas as demais ações, quer sejam de políticas governamentais e comerciais. A sustentação e sobrevida da atividade dependem fundamentalmente deste.


A linha de produção, através de sua representação, não possui análises seguras e precisas sob este aspecto. Como comprovação a esta afirmativa está o fato de divulgarem o custo de R$320,00/saca, para o arábica.

Neste caso, surgem as questões:



  1. Este custo se refere a qual produtividade?
  2. Sob quais condições fora calculado? Quais os parâmetros considerados?
  3. Poderia ser considerado como uma média de custos entre as várias regiões produtoras de arábica? Não o sendo, qual o limite de variável aceitável?
  4. Em relação à média nacional de produtividade, considerada e divulgada pelo governo, estaria condizente e diretamente relacionado, ou seja, este custo reflete ser diretamente dependente desta média? Sob os aspectos técnicos e científicos a composição deste custo apresenta todos os elementos de consistência para sua blindagem e defesa? Caso afirmativo, então por que não contestaram o governo com ações mais agressivas em defesa dos interesses?
  5. Caso não seja o custo relativo à média produtiva informada pelo governo, então como sugeri-lo e defende-lo como padrão? Também neste caso, qual seria o custo produtivo médio para a produtividade média informada pelo governo? Não deveria ser este considerado por esta média? Em caso afirmativo, então como pode a linha de produção defender números incorretos ou não condizentes?
  6. Caso o item acima confirme que o preço defendido de R$320,00/saca não retrate a realidade pela média nacional, então o que poderiam esperar em resultados positivos, sendo que a intenção seria que o governo o aceite como forma básica em criar políticas de sustentação? Neste caso, seria sustentação apenas àqueles que possuem a produtividade média referente a este custo? Em caso positivo, como poderia ser compreendida a defesa por este preço? Neste caso, consideram que a aceitação por este preço mínimo se traduza em soluções para os cafeicultores?

 


Ainda sobre custos produtivos é importante observarem que na realidade o que se pode afirmar é o fato de que quando são realizados e obtidos sob efeitos profissionais são minimizados e otimizados e mesmo assim, o que ocorre atualmente é que os preços pagos ao produtor brasileiro estão baixos e não o fato de que os custos estão altos. Em custos a diferença que pode ocorrer é serem obtidos com eficiência ou sem eficiência e não existem milagres; para ambos os casos os preços não estão contemplando lucros e isto é potencialmente comprometedor e perigoso.

Então, considerando pela média produtiva nacional, podemos afirmar não existir condições de sobrevivência pela própria atividade, devendo ocorrer mudanças profundas e urgentes de posturas e ações corretivas.



Contrato de opções e estoques reguladores


Para qual finalidade propõem ao governo estes contratos de opções, que absorveriam apenas um percentual ínfimo da produção brasileira? Acreditam que isto refletirá no mercado internacional? Esquecem de que existe um estoque mundial do tamanho de uma safra plena brasileira? Não duvidem, pois é fato. Até quando os cafeicultores ficarão a dar ouvidos a informações manipuladas? Procuram acreditar apenas no que agrada? E a realidade, onde fica? Sonhar é bom, mas importante é não cultivar pesadelos.


Acho o maior descalabro falar em estoques reguladores. Não acham elevado por demais os estoques mundiais e ainda querem reter mais? Deveriam, ao contrário, retrair a produção, que neste caso, seguramente conseguiriam provocar elevação dos preços.Este aspecto de carregar estoques há décadas não é mais aplicado. Carregar estoques não é estratégico. A estratégia está em limitar a oferta no sentido de produzir equilíbrio para sustentação de lucro.



Soluções


Apontar soluções diante de tamanho problema definitivamente terá de iniciar por completa reestruturação do ineficiente sistema de apoio. E não há como ser diferente, portanto, haverá necessidade de uma reengenharia total. A mudança terá de ser radical e total.Se houvesse união entre os produtores, seguramente as soluções seriam mais precisas, rápidas e eficientes, mas como um antigo ditado diz, quando não vai pelo amor, vai pela dor. Assim, como não conseguem se unir nem mesmo pelo ideal da sobrevivência terão de aplicar a eficiência profissional sob todos os aspectos e abandonar o paternalismo, pois o próprio governo já lhes disse diretamente que muito pouco pode mais fazer.


Assim, simples não será, mas será a única forma. Este sistema faliu e não adiantará tapar o “sol com a peneira”. É uma realidade, um fato. Não há mais tempo para deixarem correr os acontecimentos da forma como estão.
O que está em jogo agora não é apenas a atividade, mas o futuro de seus filhos, suas famílias. Portanto, ajam com discernimento, competência e rapidez.



Preço mínimo de garantia


Existe um aspecto que poderá trazer algum benefício de imediato, quanto ao caminhamento de algumas ações governamentais as quais acredita ser política de sustentação da atividade. Este refere ao preço mínimo de garantia.
A criação e o estabelecimento de preço mínimo deve ser sujeito a lei e assim regida por regras. Seguramente, o que não poderia ser diferente, pois se o fosse seria de fácil e imediata contestação jurídica, este preço necessitaria contemplar o custo mínimo produtivo.O governo, através da Conab, projeta as produções e produtividades, estabelecendo que para este atual agrícola a produtividade média será de 17 sacas/hectare. Por outro lado, também assume a responsabilidade de calcular e estabelecer que o preço mínimo de garantia seja de R$261,00/saca.


Assim, a responsabilidade total por estes estabelecimentos será dele, governo. Desta forma, bastariam contestá-lo via Ministério Público Federal, através de um Procurador FederalPara isto poderiam utilizar a formulação dos seguintes argumentos:



  1. O que diz a lei que regulamenta a criação e estabelecimento do preço mínimo de garantia? Quais os aspectos desta que indicam e apresentam a proteção a uma atividade econômica sobre a criação do preço mínimo de garantia?
  2. Sob quais condições deverão ser calculados e dimensionados estes custos formadores do preço mínimo?
  3. A produtividade média nacional é considerada como elemento diretamente relacionado ao custo produtivo? Em caso positivo, qual fora considerada para este efeito? Em caso negativo, qual a razão e justificativas por não considerá-la? Ainda em caso afirmativo, a não observância a esta vinculação poderia ser interpretada como ato de má fé? Sendo ato de má fé, afetaria uma ou mais atividades da sociedade? Em afetando este segmento da sociedade quais seriam as conseqüências econômicas e financeiras que este sofreria? Neste caso, a sociedade estaria ferida em seus direitos? Estando ferida em seus direitos, quais seriam os procedimentos indicados para restabelecê-los?

Formulem e entreguem a um Procurador Federal e vejam os resultados. Qualquer um pode fazer isto, portanto, não fiquem a esperar. O governo precisa aprender a respeitar os direitos da sociedade e isto é obrigação constitucional, ao contrário de paternalismos.


 


Política de sustentação


Os representantes do governo, em geral, não possuem conhecimentos sobre a atividade. Desconhecem as necessidades da linha de produção e não poderia ser diferente.


Quem necessita conhecer a atividade são os produtores e cabe à sua representatividade propor, formular e convencer aos representantes do governo sobre suas necessidades. Assim acontece com todos os demais segmentos produtivos, urbanos ou rurais.


Mas, para convencer alguém de alguma coisa é necessário muito mais que palavras e manifestações. São necessários argumentos consistentes e precisamente amparados. A representatividade da cafeicultura não os possui e assim fica sem consistência nas negociações.


A necessidade de apresentar estudos projetados por análises consistentes, indicando os cenários e suas tendências tornam-se imperativos. Antes de culpar o governo ou qualquer outro por não atender às necessidades deveriam se perguntar se estão elaborando correta e precisamente as proposições. Após isto, necessitam convencer os representantes do governo que os pontos apresentados são fundamentais à sobrevida da atividade.


Então surge a questão, existem estes estudos elaborados rigorosamente sob os aspectos técnicos? Se existem, quais são e quem os elaborou? Em caso negativo, como esperam resultados?


Portanto, caso não existam, o que é provável, procurem fazê-lo com urgência e competência, pois perderam um tempo que não dispõem mais.
Este estudo deve apresentar todos os elementos necessários a atender todas as necessidades presentes e futuras da atividade produtiva cafeeira e apenas ele é capaz de indicar o que fazer, como fazer e quando fazer.


Antes de pedir milagres em suas orações, procurem fazer o dever de casa e caso não atendido utilizem seus direitos constitucionais, caso contrário, estarão perdendo tempo e patrimônio.


Espere, não terminei e as dívidas? Bem, estas são conseqüências de inúmeras falhas, tornando-se um problema que deve ser combatido e eliminado, mas precisarão possuir os estudos de análises indicando precisamente como fazê-lo e negociá-lo. Negociar as dívidas considerando custos de produção irreais não provocará resultados, assim terão de refazer seus cálculos e somente depois reformular uma negociação precisa e solucionadora. Não há o que discutir sobre este tema, considerando que a defesa não produzirá resultados, portanto, reformulem a base de negociação e a associem aos estudos de análises.


 


Engº José Eduardo Reis Leão Teixeira


Estrada Consultoria – CEO

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