Análise da Semana: Furacão Beta provoca estragos na Nicarágua

Rio de Janeiro, 31 de outubro (Exclusivo para Revista Cafeicultura)

31 de outubro de 2005 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Miguel Barbosa*


Muitos produtores, ao assistirem o
declínio dos preços na semana passada, devem ter pensado: meu Deus, por quê não
vendi logo meu café?


 


Em cinco dias de pregão, as
cotações do café na bolsa de NY despencaram quase 500 pontos, encerrando a
semana em 98,35 centavos de dólar por libra. O que aconteceu?


 


Aconteceu o inevitável. Os furacões
que assolaram a América Central e importantes cidades portuárias dos Estados
Unidos elevaram a temperatura especulativa ao grau máximo, deflagrando uma
intensa procura por contratos de café nas bolsas de mercadorias.


 


Ora, verificou-se o mesmo movimento
que conhecemos com as ameaças de geada aqui no Brasil. Cria-se uma enorme
expectativa sobre os possíveis estragos, os preços disparam e, quando o fato não
se confirma, a corrida pela realização de lucros faz as cotações desabarem,
muitas vezes a níveis ainda mais baixos que antes da especulação
começar.


 


Essa é a vida. Ou melhor, assim é o
café, desde que alguém inventou a primeira bolsa de preços futuros. Conta-se
que, em Santos, no final do século XIX, alguns corretores mais ousados
contratavam jagunços para fazer tocaia nas montanhas e atirar nas tropas de
mulas que vinham do interior de São Paulo, atrasando a entrega dos primeiros
lotes da safra e produzindo boatos de quebra de safra, que faziam o preço
disparar.


 


Conta-se ainda que um famoso
fazendeiro mandava passar graxa nos trilhos que subiam a serra, impedindo a
locomotiva de fazer o percurso e atrasando a chegada do café aos centros de
exportação.


 


Sempre a velha especulação; hoje,
com diferentes métodos, mas com a mesma antiga intenção de produzir lucros às
custas do trabalho suado do agricultor.


 


É por essas e outras que lideranças
esclarecidas, como o Aguinaldo Lima, hoje merecidamente à frente do Centro de
Inteligência do Café, sempre aconselharam os cafeicultores a aproveitarem os
momentos de pico de preço para venderem alguma coisa.


 


Uns já aprenderam a lição e
aproveitaram os preços melhores de outubro para  venderem mais café. De acordo com o
Cecafé, até o dia 28, os embarques de café em outubro já estão 15% maiores do
que na mesma data do mês anterior, apesar de que os certificados para embarque
em outubro, outro importante termômetro do comércio exterior do produto, estão
em nível quase similar ao do mês anterior, que registrou uma exportação
medíocre.


 


De qualquer forma, os fundamentos
permanecem em favor da valorização. As consequências dos furacões na produção da
América Central ainda vai começar a ser sentida entre importadores
norte-americanos.


 


Os estoques mundiais estão em
níveis historicamente baixos. Pior: a relação consumo mundial versus estoques
raras vezes foi tão apertada.


 


A grande bola de chumbo amarrada
aos pés das cotações internacionais do café continua sendo a safra brasileira do
ano que vem, informalmente estimada por traders entre 45 e 50 milhões de
sacas.


 


Por mais apertada que esteja a
relação oferta e demanda, não há exatamente um quadro de privação de café. Os
países importadores têm estoques para suportar a escassez por mais alguns meses,
e vão fazer de tudo para continuar comprando matéria-prima pelo menor custo
possível. Até porque, a gente sabe, o custo matéria-prima é o único item da
indústria que pode ser reduzido, visto que os impostos, os salários, a
propaganda e a distribuição são fatores rígidos.


 


O que aconteceu esta semana foi um
aviso para os cafeicultores de todo mundo. Não abusem da sorte. Não apostem
todas suas fichas numa suposta alta espetacular. Os fundamentos são positivos,
certo. O mundo está bebendo café cada vez mais. O consumo interno segue
crescendo a ritmo pujante. Mas a conjuntura global continua do mesmo jeito:
poucos grandes compradores, capitalizados e informados, e milhões de produtores,
depauperados e analfabetos.



A globalização do comércio mundial
atingiu tal estágio que um furacão poderia varrer do mapa a América Central: os
executivos de Manhattan continuariam a tomar seu café tranquilamente na
Starbucks local, substituindo blends da Guatemala, subitamente inflacionados,
por um similar da Indonésia ou Etiópia.


 


Entretanto, a temporada de furacões
ainda não terminou. O Beta chegou à Nicarágua, arrasando algumas regiões. Já
convertido em tempestade tropical, ele avança pelo Caribe, levando perigo de
chuvas torrenciais e enchentes a outros países. Os governos de Honduras e El
Salvador divulgaram alertas. Ainda não há informação sobre danos à produção de
café, mas as notícias deverão provocar nervosismo no pregão desta segunda-feira,
visto que os países afetados são relevantes fornecedores de cafés certificados
para a bolsa de Nova Iorque.


 





 


* Miguel Barbosa, 30 anos, é
editor do site Coffee Business e do Anuário Estatístico do Café. Também é
repórter e colunista de CoffeeNetwork e responsável pelo Anuário Estatístico do
Café. A partir desta data, é também colunista semanal do site da Revista
Cafeicultura.


 


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