VIDEO GLOBO RURAL – Café especial no mercado interno

25 de setembro de 2008 | Sem comentários Cafés Especiais Produção

21.09.2008 
 
 
  
 






 
 
Essa situação agora está mudando, como mostra a reportagem do José Hamilton Ribeiro e do Jorge dos Santos. Eles visitaram fazendas produtoras de cafés especiais no Espírito Santo e no sul de Minas.


Antigamente para fazer um cafezinho no jeito o sistema era só esse: fogão a lenha, água esquentando na panela e um coador em cima do bule e uma vasilha com pó.


“Qual é o segredo do bom café do coador?, pergunta o réporter.


“Primeiro um bom café e a água não pode passar do ponto.


Café saiu do fogão a lenha e foi para as esquinas em bares, vendas, padarias. Cafeteira ainda de coador.


Com a chegada das máquinas de café expresso, o café das ruas deu outro passo. Em uma das esquinas da moda de São Paulo, o valorizado bairro dos jardins, fomos conhecer uma das várias butiques de café, hoje comum nas cidades grandes.


Em uma casa, há mais de 10 tipos de café expresso. Mais de 25 bebidas à base de café como, por exemplo, desde um frappé de café até sorvete. O cafezinho mais barato custa R$ 6,30 e o mais caro, R$ 7,70, mas já houve um cafezinho que custava 20 reais a xícara.


O pessoal aceita pagar mais por este café diferenciado. Muitos o chamam de café gourmet. Gourmet é uma palavra francesa que indica valorização dos prazeres da mesa.


Vamos para o sul de Minas, Carmo de Minas, na região do circuito das águas, a 380 quilômetros de Belo Horizonte. Bem lá fica a cooperativa dos cafeicultores. De seus 500 associados, uns 50, alguns deles pequenos, se dedicam à produção destes cafés especiais, os cafés de grife.


Vamos conhecer um destes produtores e saber um pouco da sua luta. Daniel de Castro Pereira com várias gerações no café. Seu avô tinha fazenda grande, muito morador, safra valiosa. Nas divisões de herança, Gabriel acabou ficando com a sede, mas com pouca coisa. Hoje tem uns 15 hectares de café mais uns 30 em sociedade com a irmã.


Gabriel nos leva em uma pedra no alto de onde se avista a redondeza toda. Coisa fina. De lá seguimos para um talhão onde estão colhendo.


“O que precisa para produzir um café especial?”, pergunta o repórter.


Nós estamos em uma situação de 1,2 mil metros de altitude. Você está vendo a planta sadia.


“Na parte de campo tem um momento que é crítico?”, pergunta o repórter.


“A colheita”, diz Gabriel.


A orientação é pra comer só os grãos maduros.


Gabriel recorre a fazenda de um vizinho para o primeiro trato pós-colheita. Ele está sem uma máquina, que muito necessita.


Com a ajuda da água, ela prende de um lado os grãos secos, depois separa os grãos maduros dos verdes e tira a polpa.


A seca Gabriel faz em casa mesmo. Terreiro bom ele tem, com joão de barro e tudo.


A cooperativa cuida de todas as operações de beneficiamento até a comercialização, mas e quanto à qualidade?


Em uma mesa, é onde finalmente se define se o café especial é tipo gourmet ou não. Isso é assunto do João e do Paulo.


Os provadores usam o nariz e a boca, mas não engolem o café.


“O café tem uma nota?”, pergunta o repórter.


“De zero a 100”, diz um deles.


Segundo o pessoal de Carmo de Minas de 0 a 100 café com nota até 70 não dá bebe, quer dizer, não dá bebida, depende de mistura. De 71 a 74, o café tem bebida dura. Na comparação com uma banana seria comer a fruta verde, adstringente, que pega na boca.


De 75 a 78 a bebida se chama apenas mole e corresponde a uma fruta de vez. De 79 a 84, bebida mole, igual a uma fruta acabando de ficar madura.


A partir de 85, que é onde estão os cafés especiais, a bebida é estritamente mole, comparando a uma fruta madura no esplendor de aroma, doçura e sabor.


Uma pessoa precisa ser qualificada para perceber no cheiro ou na boca se um café é especial. Se validar por ele, uns dólares a mais no saco.


É o que está fazendo uma japonesinha que veio em uma comitiva do Japão para avaliar e comprar café gourmet de Minas.


Mas não é só a sala de prova que eles levam em conta. Querem saber como é a fazenda, o terreiro, o manejo, tudo documentado para mostrar lá no Japão.


Seu Kentaro Maruyama é o porta-voz do grupo. Ele diz que respeita o meio-ambiente é outro item fundamental para um café receber cotação diferenciada, além das condições de trabalho.


Na visita dos japoneses, Gabriel está sempre por aí com o pessoal da cooperativa. Agora em sua casa, Gabriel diz que vê estes anos todos participando dos concursos de cafés especiais.


Os melhores produtos destes campeonatos são vendidos em uma leilão e já houve casos de sacas vendidas a mais de 10 mil reais.


O sonho de Gabriel é ganhar um concurso que tenha o prêmio de 30 mil dólares. A margem do café anda pequena e nunca sobra um dinheiro para consertar rachaduras na parede ou trocar o forro da sala e dos quartos.


”Se eu conseguir chegar a um prêmio de 30 mil dólares eu estou precisando reformar esta casa que foi do meu avô, que está com 60 anos. O forro já está com problemas. Tenho o sonho de arrumar a casa que foi do meu avô”.


Agora vamos para outro município do sul de Minas, cidade de Botelhos, perto de Poços de Caldas.


Ali não tem forro caindo, muito pelo contrário.


A fazenda Sertãozinho não se destaca pelo tamanho. Na região existem outras maiores, mas além de um lugar bonito a lavoura é levada com capricho. Para todo lado se vê empenho, dedicação.


Na parte do equipamento a Sertãozinho é bem servida e as máquinas funcionam direitinho demonstrando constante manutenção.


As telhas de madeiras são refinadas e quando o serviço é interno há uma sensação de limpeza e cuidado.


A fazenda vem de anos de investimento e só agora as contas começam a empatar. O café sendo torrado dá vontade de comer, parece chocolate, mas é no campo que se vê mais o trabalho.


O café depende do clima, do solo, da altitude, da latitude, quer dizer, da distância em relação ao Equador, mas agora na fazenda Sertãozinho, o repórter observou que a qualidade do café depende do lado da montanha em que ele está plantado. De tal forma que o café de um lado da montanha é melhor do que o café do outro lado da montanha.


“A lavoura do café voltada para o norte tem maior insolação, mais horas de luz no dia então uma lavoura que dá uma bebida mais limpa e mais doce. Dá para fazer uma comparação com o vinho. Tem uva que só dá em determinado local e produzem vinhos característicos daquela região. O mesmo acontece com o café especial’, explica o agrônomo José Renato Dias.


Um detalhe na fazenda Sertãozinho. A maioria das pessoas nesta operação são mulheres.


“A mulher tem mais cuidado. Aí estraga menos. Eu acho”, diz uma trabalhadora rural.


Um outro diferencial da fazenda Sertãozinho é a parte do mato. A lei ali obriga a manter 20% da área como reserva legal. A fazenda tem mais de 30%.


Tanto em mata agrupada, como árvore isolada como no caso de um jequitibá rosa. Nossa presença em seu lado, dá idéia do porte do jequitibá, cuja idade foi avaliada entre 1000 e 2000 anos, um motor aí de 40 metros.


A presença da mata garante as nascentes, preserva a qualidade do solo e permite a existência de insetos que acabam sendo inimigos naturais de algumas pragas do café, o que no fim significa menos necessidade de uso de defensivos.


A fazenda cuida muito da parte de secagem. O café não pode tomar sereno e também do descanso nas fulhas de madeira. 


Outra coisa: destina-se o melhor produto ao mercado interno, o que é uma novidade.


“O mercado brasileiro passou a exigir o café especial, café de qualidade. Ele foi para as cafeterias, alguns empórios e alguns supermercados que se preocupam com produtos de qualidade”, diz Ana Cecilia Dias, diretora comercial.


No fim do dia, nada melhor do que um cafezinho preparado por uma pessoa tão entendida e tão delicada.


“É um mercado que cresce 15% ao ano e tem muita gente”, diz Helena.
 
 

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