Setor do agronegócio foi pego no contrapé

Por: Folha de S. Paulo

MAURO ZAFALON DA REDAÇÃO


14/06/09 – A liderança do agronegócio na lista de recuperações judiciais ocorre porque a crise internacional pegou o setor no contrapé. Em constante expansão para atender a uma crescente demanda externa, parte do agronegócio sentiu retração internacional da demanda e total ausência de crédito.


Os setores sucroenergético e de carnes foram os mais afetados. Apesar dessa liderança indesejável, o agronegócio mostra nessa crise uma recuperação acima da prevista. É o que ocorre com o setor de grãos.


O setor de carnes, que somou 41% do total do faturamento das empresas envolvidas em recuperação judicial, vinha em uma corrida desenfreada por novas participações nos mercados interno e externo.


Alguns negócios, como as compras de frigoríficos na região do Mercosul -inclusive as internas-, foram feitos por valores bem acima do real. Com isso, as indústrias mais descapitalizadas, e que dependiam do crescimento das vendas para girar o caixa, foram duramente afetadas.


Além de sentir retração nas vendas externas, os frigoríficos, que tinham crescido no período favorável de matérias-primas com preços baixos, passaram a ter gastos maiores com a recuperação das cotações do boi, antes defasadas.


No setor sucroenergético não foi diferente. A perspectiva de um grande avanço do mercado externo do álcool combustível, principalmente nos Estados Unidos, gerou investimentos históricos no setor.


As usinas ficaram prontas e o mercado externo não respondeu como o esperado. Ao contrário, houve uma inversão da tendência externa. O açúcar passou a ser valorizado, e o álcool, apesar da demanda interna forte, está sendo negociado abaixo do custo de produção. Enquanto as exportações de açúcar crescem, as de álcool não avançam. Sem crédito, as empresas estão com dificuldades para gerar caixa.


As empresas mais afetadas são exatamente as que têm os projetos mais modernos e optaram apenas pela produção de álcool, em que perdem dinheiro. Já as que têm flexibilidade elevaram a produção de açúcar, que rende mais no momento.


Produzir açúcar neste momento rende 100% mais do que álcool anidro e 119% mais do que o hidratado, diz o Cepea.


Principal polo de produção sucroenergético e de carnes, São Paulo foi o Estado mais afetado, respondendo por 71% do faturamento das empresas que pediram recuperação judicial.


A falta de crédito afetou, também, vários outros projetos agropecuários, muitos montados em cima de endividamento e de esperanças de constante evolução do setor. 

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Setor do agronegócio foi pego no contrapé

Por: FOLHA DE S. PAULO - SP

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO



14/06/2009 – A liderança do agronegócio na lista de recuperações judiciais ocorre porque a crise internacional pegou o setor no contrapé. Em constante expansão para atender a uma crescente demanda externa, parte do agronegócio sentiu retração internacional da demanda e total ausência de crédito.


Os setores sucroenergético e de carnes foram os mais afetados. Apesar dessa liderança indesejável, o agronegócio mostra nessa crise uma recuperação acima da prevista. É o que ocorre com o setor de grãos.


O setor de carnes, que somou 41% do total do faturamento das empresas envolvidas em recuperação judicial, vinha em uma corrida desenfreada por novas participações nos mercados interno e externo.


Alguns negócios, como as compras de frigoríficos na região do Mercosul -inclusive as internas-, foram feitos por valores bem acima do real. Com isso, as indústrias mais descapitalizadas, e que dependiam do crescimento das vendas para girar o caixa, foram duramente afetadas.


Além de sentir retração nas vendas externas, os frigoríficos, que tinham crescido no período favorável de matérias-primas com preços baixos, passaram a ter gastos maiores com a recuperação das cotações do boi, antes defasadas.


No setor sucroenergético não foi diferente. A perspectiva de um grande avanço do mercado externo do álcool combustível, principalmente nos Estados Unidos, gerou investimentos históricos no setor.


As usinas ficaram prontas e o mercado externo não respondeu como o esperado. Ao contrário, houve uma inversão da tendência externa. O açúcar passou a ser valorizado, e o álcool, apesar da demanda interna forte, está sendo negociado abaixo do custo de produção.


Enquanto as exportações de açúcar crescem, as de álcool não avançam. Sem crédito, as empresas estão com dificuldades para gerar caixa.


As empresas mais afetadas são exatamente as que têm os projetos mais modernos e optaram apenas pela produção de álcool, em que perdem dinheiro. Já as que têm flexibilidade elevaram a produção de açúcar, que rende mais no momento.


Produzir açúcar neste momento rende 100% mais do que álcool anidro e 119% mais do que o hidratado, diz o Cepea.


Principal polo de produção sucroenergético e de carnes, São Paulo foi o Estado mais afetado, respondendo por 71% do faturamento das empresas que pediram recuperação judicial.


A falta de crédito afetou, também, vários outros projetos agropecuários, muitos montados em cima de endividamento e de esperanças de constante evolução do setor.

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