REPORTAGEM VÍDEO GLOBO RURAL – Café certificado – Parte I

Tirar o selo de certificação, só os grandes podiam, pois é muito caro.

Por: GLOBO RURAL

05.07.2009 







 
 
O consumidor mais exigente está querendo além de um produto de qualidade, que ele seja irrepreensível no plano ambiental, trabalhista, social.


Tirar o selo de certificação, só os grandes podiam, pois é muito caro. Um projeto pioneiro adaptou o código do café certificado para pequenos produtores. Conheça a experiência no interior de São Paulo.


Um pintor de paisagens iria se inspirar: O vento sopra o nosso olhar da flor do capim montanha abaixo, apinha de cafezais e, no fundo do vale, Serra Negra, estância
turística, forte no comércio agasalhos, e roupas de malha.


Desde o fim do século 19, ocupa essas encostas. Já teve os seus dias de glória. O tão falado café da Mogiana, que agora pode recuperar prestígio com o projeto de qualidade que viemos conhecer.


Das 135 pequenas propriedades aprovadas pelo programa, nos municípios de Amparo, Socorro, Monte Alegre do Sul e Serra Negra, recebemos a recomendação
de visitar o sítio São João, do seu Décio Olivotto.


Quem nos atende é uma filha do seu Décio, a Janete que está pajeando a filha e tomando conta também da tecelagem que funciona no salão anexo à sede.


A propriedade tem 13 hectares, com 13.500 pés em produção. O braço direito de
seu Décio é o meeiro Hélio Neves. Mas, fora o Hélio, todo o serviço é tocado pela própria família. Além da Janete, tem a filha caçula, Giane; e a esposa, dona Antonia.


“A entrada da propriedade no projeto melhorou bastante. A gente aprendeu muita coisa”, diz Antonia.


Talvez, você não saiba: o café não fica pronto pra colher todo de uma vez. Na mesma
rama, tem o verde e o maduro. Na fazenda eles faziam a colheita brasileira tradicional
que não faz distinção derriça tudo. “Agora a gente pega um preço melhor do café também, compensa”, afirma Giane.


“Vivendo e aprendendo sempre, a gente vai aperfeiçoando mais as coisas. Com 75 anos eu entrei no projeto. Hoje eu estou com 79”, declara seu Décio.


Faça as contas: seu Décio é de 1930. A vida inteira trabalhou o café num sistema, mas aceitou a guinada, coisa que muito adolescente se nega: mudar o jeito de
fazer as coisas.


“Mudou uns 80% no nosso sistema”, declara ele.


Com a metade da idade do seu Décio, o meeiro Hélio Neves diz que colher grão a grão, como recomenda a nova cartilha exige o dobro de trabalho. Mas o café certificado dele já ganhou até concurso.


“Muito bacana, uma coisa que não tinha”, diz Hélio Neves.


Pra quem mora na cidade e prefere tomar um café certificado, a única exigência é pagar um pouquinho a mais pela qualidade, pela seleção. Mas você faz ideia do que um pequeno cafeicultor tem que cumprir para obter a certificação? São dezenas de exigências. A colheita, por exemplo, segue regras rigorosas, o produtor tem que saber de cor o que pode e o que não pode.


“Não pode colher café verde, 80% do café tem que estar maduro, não pode colher café no chão, tem que ser na peneira ou no pano, o que a gente colhe no dia tem que levar no mesmo dia. Nestes cafés não pode ser transportado saco de adubo e não pode ter animal da propriedade, quando estamos fazendo a colheita, como cachorro porque eles fazem sujeira e o café é alimento e também não pode trabalho infantil”, explica Giane.


Veja a seguir numa ordem de trás pra frente, algumas das tarefas obrigatórias: antes de iniciar a colheita, tanto pra recolher direto na peneira ou pra debulhar no pano, há que se fazer a arruação.


Toda a folhagem, o cisco, o matinho, em volta do pé, são retirados e formam um
cordão entre as leiras.


Antes, ainda, seu Décio já passou a roçadeira já fez duas, três capinas para evitar mato-competição.


Já colheu amostras do terreno. Coisa que ele fazia lá uma vez ou outra, mas agora passou a ser rotina anual, o que lhe permite uma adubação mais técnica, pois só aplica o que falta. Barateou


Antes da adubação, a orientação que teve foi pra podar o topo e as laterais dos
cafeeiros. É o esqueletamento.


“Antes a gente deixava e o pé de café ia crescendo. O café dá na ponta dos galhos só, no meio não dá, então agora esse esqueletamento faz galhos novos e o galho novo dá café, então aumenta a produção”, explica seu Décio.


E sabe aquele cordão de folhiço recolhido entre as leiras? São resíduos ricos em
minerais. Então, depois da apanha, faz-se a ciscação. Volta tudo pra debaixo do pé de
café.


Agora nós vamos ver uma exigência que no código de conduta que a família tem que seguir, ela é a de número 97, capítulo sobre transporte, mistura, aplicação, descarga, armazenamento de produtos químicos.


Para guardar os defensivos tóxicos, eles reaproveitaram uma instalação antiga, um caprio.


“A gente criava cabrito, criamos por dois anos, depois não deu certo e aqui ficou abandonado. Daí a gente reformou e hoje é a casa do agrotóxico”, diz Giane.


Pra mexer aqui dentro, especialmente no quartinho onde ficam guardados os galões de agrotóxicos, o Hélio tem que vestir uma roupa especial. Calça, blusão, máscara,
visor, capuz, luvas… ao todo, dez peças que compõem o chamado EPI – equipamento de proteção individual, que é fornecido pelo projeto. Pro Hélio sempre se lembrar, há
placas dependuradas advertindo: não se esqueça de colocar o EPI.


Claro, para aplicar os produtos, o Hélio tem que vir equipado e obedecendo regras. Por exemplo: se for herbicida, mata-mato, não pode se aproximar de riacho, açude…


“Antes era diferente, eu não usava esta roupa, não usava luva, passava o veneno sem proteção nem nada. Eu to fazendo uma coisa que é pra mim também, porque eu podia passar o veneno aqui e depois chegar em casa e pegar no nenê e passar para ele. Mais pra frente ele ia sofrer…”, comenta Hélio.


Agora, além da obrigação tem de uso da roupa, tem também obrigação pós-uso. Precisa tomar banho, no chuveiro instalado no depósito especialmente para isso. E ter deixado no talhão que acabou de pulverizar uma bandeirinha vermelha. O que significa: por um dia, ninguém pode entrar aqui; pra colher, só depois de duas semanas. E em caso de acidente por contaminação…


“Nunca tinha ouvido falar nem ver em algum lugar e a gente teve que fazer esse lava olhos aqui na propriedade. Isso é que se seu Hélio qualquer coisa estiver passando um agrotóxico e sujar o olho com algum resíduo, até ele abrir a torneira, tirar a luva, lavar o olho, vai ser ruim. Então ele vai na torneira, abre e lava diretamente o olho”, explica Giane.


“É ruim de usar, mas se for preciso é bom porque ajuda bastante. Eu ainda não tive que usar, mas é perigoso o nosso serviço”, diz Hélio


Fonte:
Vídeo I –  http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1073846-7823-CAFE+CERTIFICADO+PARTE+I,00.html

Matéria I –  http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-335799,00.html


Vídeo II – http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1073847-7823-CAFI+CERTIFICADO+–+PARTE+II,00.html

Matéria II – http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-335800,00.html

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