REPLAY – Terminais apostam na exportação do café e produtores buscam reduzir custos – Logística

Texto publicado em 03 de Outubro de 2008

Bruno Merlin
reportagem 
  
O mercado da produção de café no Brasil se equilibra em uma gangorra entre a grande e crescente demanda pelos grãos no País e no exterior e a baixa lucratividade dos cafeicultores. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial e detentor do segundo mercado consumidor da bebida em todo o mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O País desfruta de grande credibilidade no cenário cafeeiro devido à qualidade dos grãos semeados em território nacional. No entanto, são necessárias melhorias na infra-estrutura e na logística para a movimentação do produto, com a intenção de reduzir os preços de produção e aumentar a produtividade dos fabricantes.


Com a tendência de conteinerização de cargas que antes eram transportadas soltas, no porão dos navios, parte da exportação de café, assim como o açúcar e até a soja, está migrando para o contêiner. O preço de um cofre de 20 pés – simples ou dry box – gira entre U$ 10 e 15 mil e necessita de cuidados especiais. Os contêineres utilizados para esse fim não podem apresentar nenhum tipo de cheiro e nem ter transportado, anteriormente, alguma substância química, devido ao risco de prejudicar a qualidade da mercadoria.


Segundo lamenta o presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia (Assocafé), Silvio Leite, a realidade brasileira no segmento é composta por preços bons e lucratividade péssima. Além disso, o Brasil enfrenta forte concorrência na Ásia, já que Vietnã e China produzem mais a cada dia.


Neste ano, as exportações brasileiras de café registram aumento da receita, mas também uma queda no número de sacas enviadas ao exterior. O acumulado de janeiro a agosto deste ano, segundo estatísticas do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em comparação ao mesmo período de 2007, registra queda de 6% no volume total – abrangendo os tipos arábica, verde, solúvel e robusta. No entanto, a receita cresceu 14,2%, já que, até o momento, em 2008 os exportadores lucraram U$ 2.772.808, contra U$ 2.427.721 do ano anterior. No último mês de agosto, essa variação se confirmou, com redução de 3,1% de sacas exportadas e acréscimo de 18,6% na receita.


Custos


O setor cafeeiro clama por redução nos custos de produção, o que passa por uma série de fatores. Para que isso aconteça, é preciso concentrar esforços na racionalização da infra-estrutura, do transporte da carga, da parte fiscal, da adequação aos tributos cobrados e até do preço do fertilizante. Ao observar a economia mundial, é possível notar que a escalada de preços está ligada a inúmeros motivos. O preço do petróleo, que é a base de produção de alguns insumos agrícolas, é uma dessas razões, variando na casa dos U$ 100,00.


O presidente do Conselho Nacional do Café, Gilson José Ximenes Abreu, já criticou, em diversas ocasiões, o fato de o investimento tecnológico no setor ter beneficiado apenas o consumidor. Ele argumenta que a cafeicultura nacional enfrenta um grande endividamento e até inadimplência no pagamento de seus custos, apontando que somente no estado de Minas Gerais o volume de dívidas ultrapassa R$ 2 bilhões.


Minas Gerais, inclusive, é o grande pólo produtor de café em território brasileiro, responsável por mais de 50% dos grãos colhidos no País. A maior parte da mercadoria – cerca de 65% – que tem a exportação como destino converge para o Porto de Santos, o maior da América Latina. São poucos os produtores da mercadoria que atuam como exportador. Na maior parte dos casos, quem produz vende a carga para uma empresa exportadora, que se incumbe pelas demais partes do processo logístico.


Assim, o fato de o café ser um produto bastante requisitado no exterior e com clientes nas mais diferentes partes do globo tem atraído cada vez mais investimentos de terminais na movimentação da carga. Ao comercializar o café, acaba-se lidando com muitos armadores, o que possibilita a abertura de mais negócios para o terminal. Neste ano, de acordo com informações do Cecafé, os principais países de destino do café verde brasileiro são Alemanha (2.779.356 sacas de 60kg) e Estados Unidos (2.548.457). Ainda acima da faixa de um milhão de sacas aparecem Itália, Bélgica e Japão, mostrando o poderio do café, que proporciona bons negócios na Europa, na América e também na Ásia.


Perspectivas

As perspectivas para a safra 2008/2009 apontam um mercado equilibrado entre a oferta e a demanda. A projeção é de que o Brasil produza pouco mais de 56 milhões de sacas e encontre mercado – interno e externo – de 45,5 milhões dessas unidades. A diferença de cerca de 10 milhões de sacas poderá permitir, com folga, que o País consiga manter um estoque até a próxima safra. Essa reserva é considerada essencial, pois a expectativa é que 2009/2010 seja uma temporada negativa para a produção, por se tratar de período de safra curta e que irá alcançar, no máximo, 37 milhões de sacas, número bastante abaixo da demanda para o café brasileiro.

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