OPINIÃO – Referências técnicas provam bons resultados da exportação de café

Por: Agência Estado

Guilherme Braga


10/08/09 – Os representantes do setor de produção têm feito afirmações abissais sobre a comercialização externa do café brasileiro. A pretexto de contestar a política do governo para o café e, também, de criticar e menosprezar a atuação do comércio exportador, sustentam que os expressivos resultados alcançados na exportação do café – receita recorde de U$$ 4,7 bilhões em 2008 e embarques de 31 milhões de sacas na safra 2008/2009, que garantem uma participação no mercado importador de 32% para o Brasil – devem-se a preços de venda excessivamente baixos.

Chegou-se ao ponto de anunciar que a comercialização do nosso café está sendo feita a cerca de US$ 135,00/saca, valor abaixo dos cafés colombianos. São ilações, discursos sem correspondência com o mercado real e com os dados estatísticos veiculados pela Organização Internacional do Café (OIC), que abrangem o conjunto dos países produtores.


Aparentemente, esses representantes estão se baseando tão somente em dados fornecidos por agências noticiosas, colhidos informalmente nos mercados americano e europeu junto a corretores, comerciantes e industriais de café, sobre as ofertas rotineiras de compra e de venda. Mas não se pode afirmar que expressem os negócios realmente feitos. Essas ofertas, é bom lembrar, têm os seus valores comerciais quantificados por meio de diferenciais variáveis em relação às cotações futuras das Bolsas de Nova York e Londres, segundo as diferentes qualidades, origens, meses de embarque, e outros, não significando necessariamente negócios concretizados.

Se as conjecturas destes representantes partem de interpretações de que negócios foram feitos, e em volumes representativos, dentro dos níveis de diferenciais que utilizaram, é forçoso reconhecer que carecem de base objetiva, localizando-se no plano do imaginário, ou mais, como dizem os ingleses, wishful thinking – criação ilusória de fatos que se desejam fossem verdadeiros.

Além disso, a forma de estabelecer a diferença de preços entre os cafés colombianos e os brasileiros, tomando por base a comparação do padrão Supremo Strictly Soft SC 17/18, qualidade de cafés finíssimos da Colômbia, com os arábicas brasileiros Santos 4 MTGB, padrão médio de nossos arábicas negociado para um mercado menos exigente em qualidade, denota certa malícia ao pretender tornar iguais lotes de café absolutamente desiguais.


Deixando de lado o terreno das abstrações, no qual esses representantes parecem preferir fundamentar as suas posições, e recorrendo a dados objetivos e reais – as estatísticas de exportações veiculadas pela OIC a partir de informações dos países membros, portanto, confiáveis, é possível identificar as diferenças reais entre os cafés brasileiros e os produtos das demais origens.

E ainda perceber as causas dessas diferenças quando eventualmente excedam a normalidade, entre as quais avulta a falta de sustentação dos preços no mercado interno, acentuada pela oposição dos representantes da produção de impedir a alocação de linhas de financiamento para o aumento da liquidez da comercialização interna, e a rejeição às propostas do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) de melhoria de qualidade, entre as quais o aumento do preparo de café pela via úmida – cereja descascado e despolpados, sob o falso pretexto de que o mercado não remunera ao produtor os custos decorrentes dessa agregação de valores. Lamentável anacronismo que ignora que a expansão mundial do consumo de café tem na melhoria da qualidade a sua principal alavanca e conduz o café brasileiro ao atraso.


TABELA COM OS PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES












































































Período: 2003 a 2008, em
US$/ 60 kg) – Fonte: OIC  

2003


2004


2005


2006


2007


2008


Brasil


56,64


74,51


115,20


115,10


130,02


144,50


Colômbia


63,94


80,47


118,02


118,80


132,35


151,09


Costa Rica


70,00


85,97


110,76


117,31


126,10


N/D


El Salvador


33,98


51,99


88,76


89,28


 99,53


113,83


Guatemala


64,05


88,51


122,31


120,63


130,00


146,87


Honduras


55,20


66,51


104,18


106,91


107,98


119,86


Índia


37,83


40,74


69,34


81,10


105,00


127,07


México


84,69


120,08


183,91


113,10


120,26


140,28

Fonte: OIC


Na tabela a acima, Preço Médio FOB de Café Arábica de Países Selecionados, elaborada a partir dos dados da OIC, compara os preços médios dos cafés arábicas brasileiros (média de todas as qualidades comercializadas) com os preços médios dos Suaves Colombianos e Centrais, tidos com o os de melhor qualidade: Em primeiro lugar, em geral, é perfeitamente lógico que exista um diferencial de preços entre os cafés colhidos em cereja e preparados via despolpamento, caso dos países mencionados na tabela, e os naturais brasileiros, colhidos por derriça e processados em terreiros, diante dos custos envolvidos. Do mesmo modo, há também uma diferença a considerar de cerca de US$ 4/5 por saca no custo do ex-dock do Brasil, superior aos demais, nada obviamente que se aproxime dos US$ 135,00 mencionados pela produção.


A análise da tabela permite notar, nos últimos seis anos, um processo continuado de aproximação dos preços médios do café brasileiro frente aos demais. Em jan/abril de 2009 houve uma interrupção da tendência, em face da queda das cotações internacionais, que atingiu o conjunto dos países exportadores, agravada, no Brasil, pela falta de sustentação interna dos preços e de uma paridade cambial desfavorável. E, mais importante ainda está o fato de que esses países comercializam cafés de qualidade mais homogênea e, portanto, dentro de uma faixa de preços restrita, enquanto o Brasil oferta um amplo conjunto de qualidades, o que torna inconsistente uma comparação simplista.

Com efeito, além dos cafés arábicas naturais finos, exportamos os de bebida dura de qualidade, cafés de bebidas rio-zona, rio, riada e peneiras miúdas, os quais tem menor preço absoluto, mas têm demandas específicas, situação que confere uma posição singular para o Brasil como fornecedor versátil.


As considerações acima evidenciam que as diversidades de produção e de custos entre os arábicas brasileiros e o grupo de países produtores de despolpados, recomendam que as comparações atendam a padrões técnicos mínimos, sob pena de levar às conclusões equivocadas, como ocorreu neste caso. Em favor deste raciocínio, basta mencionar que se colocarmos lado a lado os cafés finos brasileiros com os Suaves Centrais e Colombianos, o resultado é completamente diferente daquele resultante da média das qualidades.

Nesta hipótese, e considerando as exportações realizadas durante 2008 por 44 exportadores, entre os quais três cooperativas, o preço das vendas externas desses cafés situou-se entre um mínimo de US$ 203, 72 e um máximo de US$ 248,07, com uma média de US$ 220,03 por saca, valor que supera os preços dos países citados. Para o primeiro quadrimestre de 2009, a mesma situação se repete: a despeito da queda dos preços internacionais, as vendas dos cafés finos brasileiros (especiais), alcançaram um preço médio de US$ 189.59 por saca, superior aos preços médios dos países produtores de cafés despolpados selecionados na tabela.
Além disso, e para um melhor juízo da política do café e da comercialização externa do Brasil, convém ter presente, a partir dos dados da OIC, a tabela a seguir que evidencia o preço pago em cada país aos cafeicultores, comparada com os preços médios de venda, permite concluir que o Brasil é o país que transfere ao produtor uma maior parcela do preço externo.


* Guilherme Braga é diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)
 

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