OPINIÕES
26 de Maio de 2009 – Todos já escutaram sobre a pujança e a força da agricultura brasileira. Dados recentes mostram que a agricultura representa 23% do PIB brasileiro, gerando um superávit comercial de US$ 50 bilhões e empregando 17 milhões de pessoas. Esses resultados foram obtidos em 77 milhões de hectares plantados e ainda temos 100 milhões de hectares de áreas agricultáveis. A produção brasileira ajuda a alimentar o mundo, por meio da exportação de 50% dos grãos produzidos aqui.
A profissionalização da agricultura, o trabalho desenvolvido pela Embrapa, a exoneração do ICMS das exportações (Lei Kandir) e a introdução da biotecnologia aumentaram sensivelmente a produtividade, ao mesmo tempo em que reduziram os custos.
Por exemplo, a soja produzida no Brasil passou a ser mais competitiva do que a dos EUA, fazendo com que o Brasil tenha hoje 36% do mercado mundial desse grão, com expectativa de chegar a 46% em 2015. A produção adicional de soja brasileira é exportada para a China, país que anteriormente era um consumidor exclusivo da soja americana.
Em outros mercados agrícolas, onde temos barreiras para exportar, o Brasil foi capaz de desenvolver um mercado interno que suporta o crescimento contínuo de sua agricultura. É o caso da cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção de etanol, que por sua vez é consumido internamente pela frota de carros flex. Estabelecemos um moderno parque industrial, somos capazes de produzir o etanol mais barato do mundo. Isso sem considerar que o etanol é um combustível que gera menos impacto ao meio ambiente do que os combustíveis derivados do petróleo. Ainda assim exportamos pouco frente ao potencial que temos. Milho e algodão são outros cultivos que estão evoluindo no Brasil, aumentando a produtividade ano a ano, e colocando o País como potencial exportador em grande escala. Nossos técnicos trabalham em melhorias genéticas, técnicas agrícolas mais sofisticadas e biotecnologia para suportar nossa ambição de transformar o Brasil em um grande player mundial também nesses dois cultivos. Somos o primeiro e segundo maior exportador mundial de açúcar, soja, suco de laranja, café, tabaco, carne bovina e de frango. Todos esses resultados da agricultura brasileira foram obtidos num ambiente mundial extremamente competitivo, onde muitos países subsidiam suas produções agrícolas para favorecerem seus agricultores. Para continuar aumentando a produção agrícola, o Brasil precisa trabalhar mais para melhorar a competitividade no campo.
Nossos agricultores têm de financiar sua produção com taxas de juros bastante altas, carregando as incertezas da variação cambial e do preço da commodity, pois compram os insumos no início do plantio e vendem sua colheita vários meses depois, muitas vezes com impactos negativos não esperados. O sistema financeiro brasileiro, tão desenvolvido em outros setores, ainda não foi capaz de encontrar uma solução em larga escala para financiar a produção agrícola, sem repassar riscos financeiros para os agricultores.
A infraestrutura para movimentar a produção agrícola é onerosa e ineficiente, encarecendo o custo do produto brasileiro e reduzindo sua competitividade. É preciso acelerar o modelo público-privado para ampliar a malha viária, ferroviária, aquaviária e expandir os portos, reduzindo os custos de exportação e, consequentemente, aumentando a competitividade da agricultura brasileira. Hoje, o Brasil tem uma agricultura temida por outros países produtores que, em muitos casos, ainda detêm a hegemonia no comércio mundial. Esse reconhecimento do poderio da agricultura brasileira foi fruto do trabalho desenvolvido por produtores, universidades, institutos de tecnologia, fornecedores de insumo, entre outros, nos últimos 30 anos. Mas devemos estar cientes de que isso é somente parte do potencial que podemos obter do campo. A agricultura brasileira pode e deve crescer muito nos próximos anos, transformando-se numa potência ainda maior. Quando somamos todos os aspectos positivos inerentes à agricultura brasileira com a necessidade de alimentar 9 bilhões de pessoas no mundo em 2050, não tenho dúvida de que estamos no caminho de transformar o Brasil na grande potência agrícola do século XXI.
kicker: O Brasil já é um grande player mundial, mas pode exportar ainda mais
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3) ANTONIO CARLOS M. GUIMARÃES* – Presidente da Syngenta na América Latina )