OPINIÃO – Alternativa verde
OPINIÃO
15/05/2008
Erica Andrade
erica.andrade@correioweb.com.br
No imaginário do brasileiro, a região amazônica surge como quadro pintado de verde, repleto de florestas exuberantes. Não era diferente comigo. Por isso, estava ansiosa para chegar em Nova Califórnia, uma pequena localidade na divisa entre Rondônia e Acre, onde faria uma reportagem. No caminho, fui surpreendida por quilômetros de uma paisagem que mais lembrava o cerrado, respingada por troncos nus que ainda resistiam em pé, vestígios tristes do que um dia foi floresta.
Ingenuidade? Talvez. Desinformação não era. Antes de partir, havia apurado que boa parte da derrubada da floresta em Rondônia começara em meados de 1970, incentivada por uma política de povoamento do governo militar, cujo slogan alardeava: “Terra sem homens para homens sem terra”. Estima-se que a população do estado passou de 150 mil habitantes para mais de 1 milhão de pessoas, em 15 anos.
Em Rondônia, conheci a catarinense Eclecir Talini, que despencara do Sul arrastada pelo pai, um fazendeiro esperançoso que derrubou muitas árvores para sobreviver do plantio de arroz, feijão e café. O empenho da família foi enfraquecido pelos surtos de malária e, por fim, derrotado pela inadequação do solo para aquele tipo de cultivo. Vencidos, aliaram-se à floresta. Hoje, Eclecir recupera as áreas degradadas do sítio com plantação orgânica e certificada de cupuaçu, castanha, pupunha. O projeto de sustentabilidade implantado na região permitiu uma verdadeira virada ecológica.
Não me considero uma ecochata, mas descobri que existem alternativas para conciliar proteção ao meio ambiente e sobrevivência econômica. Talvez seja mero simbolismo; entretanto, acredito que a permanência da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva no governo Lula representava a chance de ampliação de propostas como essa. Era reconfortante ver a acreana forte incomodar devastadores de faces diversas, irritar os que ficam sempre à espreita por lucros rápidos, sem compromisso com o futuro do planeta.