BRASIL
06/04/2009
6 de Abril de 2009 – Em uma época de crise as atenções se voltam naturalmente para o emprego. O trabalhador se inquieta, os que estão chegando ao mercado de trabalho ficam pessimistas.
Os empresários sabem que desemprego é menos produção, menos vendas e, consequentemente, menos lucro. Mesmo o governo, retardatário tradicional no diagnóstico, se inquieta. Menos emprego representa menos imposto, mais seguro desemprego e, sobretudo, menos eleitores.
Assim, trabalhadores, empresários e governo são unânimes em desejar mais e mais empregos. Na época do capitalismo selvagem as atitudes eram diversas. O capitalista vibrava. Mais desempregados representavam mão de obra mais barata e transigente nas condições de trabalho.
O governo nada tinha com o assunto, pois vigorava a ortodoxia do estado não intervencionista. Hoje, tudo mudou. Na crise de 1930, Roosevelt com o New Deal fez nos Estados Unidos marcantes intervenções. Regulou as finanças, fez obras e gerou empregos.
Agora temos menos preconceitos ideológicos e também novos fatos. Na ponta da corrente, a globalização e, mesmo com ela, uma ideia ancorada na realidade que é o mercado interno. Hoje o Brasil entre os emergentes tem um dos melhores.
Com todos os livros e discursos da esquerda, os Estados Unidos são fortes economicamente em razão do mercado interno. Reunidos recentemente, os governos da esquerda do Mercosul só fizeram uma exigência: os Estados Unidos voltarem a comerciar com Cuba. Vale dizer retomar a exploração que sempre denunciaram.
Apenas 15% do PIB americano dependem de troca, vale dizer importação e exportação, e o Brasil tem números próximos.
Assim, são elementares o diagnóstico e o receituário. Manter empregos e renda, o resto é discurso. Para tanto, temos de ter consumo, especialmente interno.
No Brasil temos um desafio semelhante. Levamos vantagem em não ter resistências a uma maior ação do estado e desvantagem porque muito da crise depende do governo.
O custo Brasil é um escândalo e as despesas do governo em custeio, mastodontes. Aqui o desemprego pega o governo de calças na mão em diversos itens.
Primeiro o seguro desemprego de onde só em 2008, ainda sem a crise, saíram R$ 13 bilhões.
Os impostos vão reduzir naturalmente por um lado, além de serem usados para contornar crises setoriais como no caso do IPI dos veículos.
Em tudo há que montar uma estratégia e unificar o comando. O governo – vale dizer os três poderes – já está na contramão. Aumentos no Legislativo, novos cabides sem concurso no Executivo e o fim do teto salarial no Judiciário.
Aumentos desmedidos de salários de funcionários nos três poderes. Tudo como se a crise não fosse aqui.
A burocracia desestimulou nossa ideia do primeiro emprego que apresentei em livro sobre emprego e renda e o levou ao fracasso. Exigências, formulários, burocracia e corporativismo fizeram naufragar a iniciativa.
Os estágios foram regulamentados e com isto estão reduzidas em 30% as vagas.
Vem agora a ideia da obrigatoriedade de vagas para o menor. A burocracia vai matar no berço com formulários exigências e tudo mais mesmo porque o emprego dela, que é público, está garantido.
Em uma época de crise, o que importa é gerar emprego, vagas, salário e renda mas a “máquina” não pensa assim.
No esforço de formalizar o trabalho sazonal, especialmente a colheita de cana, café, algodão e outros, os fiscais do ministério foram à luta.
Com isto, fecharam 500 mil postos de trabalho. O café em Minas Gerais empregava por 4 meses 200 mil pessoas. Agora com 300 máquinas emprega 20 mil.
Na cana o efeito foi mais grave e teremos 400 mil desempregados.
Assim, na busca de uma formalização na contramão do custo Brasil, perdemos quase 1 milhão de vagas.
O resultado é um só. Mais migração para as cidades, favelas e massa de manobra para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Por sinal trabalho eles têm já contratado. Apoiar os nossos concorrentes agrícolas da Europa com a grana da Via Campesina.
Proteger a celulose de fibra longa combatendo o eucalipto e, ultimamente, colocando-se à disposição de Evo Morales para expulsar da Bolívia os latifundiários brasileiros.
Dar suporte à luta do Bispo Paraguaio (Fernando Lugo) para não pagar o débito de Itaipu e ficar com eletricidade de graça para vender a quem quiser.
O governo elimina empregos, com burocracia e entrega ao MST e seus sócios estrangeiros 1 milhão de desempregados. Para infernizar o agronegócio brasileiro e garantir a agricultura subsidiada e protegida da Europa e América.
kicker: Trabalhadores, empresários e governo são unânimes em relação à necessidade de se criar mais empregos
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 6)(Aníbal Teixeira – Presidente do Instituto JK e ex-ministro do Planejamento)