Em janeiro, de acordo com a sequência das condições climáticas, será possível ter uma melhor ideia do que será a safra 2024
SAFRAS & Mercado
Porto Alegre, 5 de janeiro de 2024 – Após um ano de 2023 em que a Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o café arábica teve sólidos ganhos, 2024 inicia com o foco na safra brasileira que será colhida a partir de abril/maio. O fator determinante para os preços globais está no tamanho da safra do Brasil, com atenções no clima.
Em janeiro, de acordo com a sequência das condições climáticas, será possível ter uma melhor ideia do que será a safra 2024. Em relação à tendência de preços, para o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, os fundamentos não dão sustentação ao rally na ICE US. “Isso quer dizer que há inconsistências no movimento de alta do café em NY. Não há falta de café no mundo, nem grande dificuldade para a indústria em adquirir o produto. Talvez alguns problemas de atraso no fluxo, como é o caso do Vietnã, onde a elevada umidade atrasou os embarques de robusta”, comentou.
Para Barabach, a maior retranca do vendedor brasileiro, com o avanço da entressafra, também pode criar algum problema. Porém, não a ponto de gerar risco no abastecimento global e uma correria compradora, acredita.
Ele comenta que a safra colhida pelo Brasil em 2023 foi maior que nos dois anteriores, o que traz mais tranquilidade ao abastecimento. “Prevalece o sentimento externo que o Brasil vai colher mais café em 2024, particularmente arábica, o que é determinante para a curva de preço no longo prazo. É verdade que os temores produtivos ganham mais visibilidade, mas o operador externo, em especial, continua otimista com a próxima safra brasileira”, salienta Barabach.
Diante de um clima favorável é natural esperar um desmonte, ao menos parcial, da proteção climática que os fundos carregam ao ampliarem sua carteira líquida comprada com café em NY, observa o consultor. “Esse vai e vem nos preços e nas expectativas com a safra brasileira é típico do mercado de clima. O que não é comum é acontecer no final de ano, entre a florada e a granação”, aponta.
Já no radar financeiro está a política monetária do Fed (Banco Central norte-americano) e seus reflexos sobre a perspectiva da economia mundial ao longo do ano de 2024, ressalta Barabach. “Há um certo entusiasmo no ar, que se reflete sobre os preços dos ativos, especialmente as commodities. Esse movimento é natural e tende a dissipar com o tempo, com a natural calmaria do mercado”, comenta. O próprio Fed busca esfriar um pouco os ânimos, argumentando que o início no ciclo de corte dos juros nos EUA ainda não está definido e, mesmo que aconteça, o processo é gradual e será constantemente reavaliado. Nesse sentido, chance de novas volatilidades no horizonte financeiro, especialmente nos primeiros meses do novo ano, indica.
No horizonte dos fatores fundamentais, o consultor avalia ainda que não há nada de significativo que faça a demanda alterar o comportamento e sair da zona de conforto, elevando seu fluxo de compras com café junto às origens. O abastecimento segue tranquilo e a estratégia do comprador continua sendo a de alongar posições e trabalhar com estoque na mão do produtor, arriscando na logística. “E a indústria só deve mudar esse comportamento se perceber risco no abastecimento futuro, o que ainda não está efetivamente no radar dos compradores. Apenas os fundos e alguns agentes de curto prazo é que elevaram as suas compras em bolsa”, diz.
Concluindo, Barabach acredita que um sinal mais positivo da safra brasileira, no sentido dela ter um volume mais consistente, pode trazer as cotações internacionais do café mais para baixo. “Mas acho que o começo de 2024 ainda é de cautela na tomada de decisão”, afirma. Para romper a linha de US$ 2,00 a libra-peso para cima, o consultor diz que é preciso uma indicação maior de perdas na safra brasileira ou de outra importante origem.