Mau sinal na exportação

27 de janeiro de 2009 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: O ESTADO DE S. PAULO

O ano começa mal para o Brasil no comércio exterior. O País acumulou neste mês, até o dia 25, um déficit de US$ 645 milhões no intercâmbio de mercadorias, com importações de US$ 8,19 bilhões e exportações de US$ 7,54 bilhões. Se janeiro terminar com a conta no vermelho, será o primeiro déficit mensal depois de 93 meses consecutivos de superávits, iniciados, portanto, em 2001. Um desajuste ocasional no comércio exterior não representa um problema sério, mas há motivos, neste momento, para preocupação. A deterioração das contas externas vem ocorrendo mais velozmente do que previam os analistas no fim do ano, quando os efeitos da crise internacional na economia brasileira já eram sensíveis. “Foi um susto. Esperávamos um resultado ruim, um superávit pequeno, mas não um déficit já nas primeiras semanas do ano”, disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, citado em reportagem publicada no Estado de domingo.

A evolução do comércio exterior brasileiro reproduz, em ritmo de crise, a tendência observada ao longo de 2008. Durante a maior parte do ano passado, as importações cresceram muito mais velozmente que as exportações. No acumulado, a receita das vendas, US$ 197,94 bilhões, foi 23,2% maior que a de 2007. O total das importações, US$ 173,19 bilhões, ficou 43,59% acima do valor contabilizado um ano antes. Em outras palavras, a despesa aumentou praticamente com o dobro da velocidade da receita. Em janeiro, as exportações ficaram 21,8% abaixo do valor do mesmo período de 2008. No caso das importações, a queda foi de 8,8%. O comércio diminuiu nas duas mãos, mas a redução das vendas foi muito mais acentuada e ocorreu em todas as grandes categorias de produtos.

Ao longo das últimas quatro semanas, o mercado financeiro reduziu de US$ 15 bilhões para US$ 14,5 bilhões a previsão de superávit comercial para 2009. Se esta última projeção se confirmar, o resultado será 41,4% menor que o do ano passado – e o de 2008 já foi 38,2% inferior ao de 2007. Nesta altura, no entanto, mesmo a nova estimativa do mercado pode ser muito otimista. O mau resultado obtido nos primeiros 25 dias do ano é certamente o prenúncio de um ano nada brilhante. Mas é cedo para prever com segurança a extensão das perdas em 2009. Será um ano difícil para os exportadores, mas nem todas as cartas foram jogadas. Se o governo quiser, poderá oferecer um apoio importante aos empresários.

Para isso, as autoridades precisarão entender a importância do equilíbrio externo e, acima de tudo, da conta de comércio. Terminou a era dos megassuperávits comerciais, têm dito os economistas. Mas aqueles superávits nunca foram um luxo. Poderiam ser, no caso de outros países, não no caso do Brasil.

A conta brasileira de serviços e de rendas é estruturalmente deficitária. Em 2007, o déficit dessa conta chegou a US$ 42,51 bilhões. A conta corrente do balanço de pagamentos só não ficou no vermelho, naquele ano, porque houve superávit de US$ 40 bilhões no comércio e de US$ 4,02 bilhões nas transferências unilaterais (graças ao dinheiro de trabalhadores no exterior). No ano passado, o buraco em serviços e rendas (incluídos juros e remessas de lucros) subiu para US$ 57,23 bilhões, enquanto o superávit comercial caiu para US$ 24,75 bilhões e as transferências ficaram em US$ 4,19 bilhões. O resultado foi um déficit de US$ 28,3 bilhões na conta corrente ( 1,78% do PIB). Não é um desastre, mas pode ser o começo de problemas muito sérios.

Como primeiro passo, o governo deveria abandonar a pretensão de crescimento econômico de 4% baseado no mercado interno. Por esse caminho, a deterioração das contas externas continuará em ritmo acelerado. Uma política sensata juntaria esforços no comércio exterior e nas atividades internas. A receita é conhecida. Menos impostos sobre a exportação poderão ajudar muito. Há poucas semanas, o governo anunciou a intenção de estender os benefícios do draw-back verde-amarelo ao agronegócio (com desconto do imposto cobrado sobre os insumos comprados no País). Menos burocracia e mais investimentos de rápida maturação na infraestrutura também serão úteis, mas será preciso, ao mesmo tempo, cortar sem medo o gasto de custeio. Nenhum mistério: é tudo apenas uma questão de sensatez e de estatura política, em geral testada para valer em tempos de crise.

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