Primeira indústria da Zona da Mata dedicada a esse mercado começa a funcionar em novembro
A Zona da Mata mineira terá, em novembro, o primeiro laticínio voltado para a produção orgânica de leite. A indústria ficará na Fazenda Salvaterra, em Juiz de Fora. Com capacidade de processar 2 mil litros/dia, a produção inicial será de 400 litros. Ainda há poucos fornecedores credenciados para a produção orgânica na região. Mas, para a proprietária da fazenda, Mônica Velloso, disse que esse problema será resolvido em pouco tempo. Já foram contatados 20 pequenos pecuaristas que vão fornecer a produção ao laticínio. “Esses pecuaristas ainda não têm a certificação orgânica, mas, por não utilizar agrotóxicos em suas fazendas, a conversão para este sistema será mais rápida”, diz Mônica.
Para suprir a capacidade ociosa do laticínio, o leite captado fora da Salvaterra (cerca de mil litros) será embalado, por enquanto, com o selo SAT (livre de agrotóxicos). À medida que as propriedades forem certificadas, o volume de leite orgânico processado irá aumentando.
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Luiz Aroeira, o mercado potencial para o leite orgânico no município gira em torno de 1% do consumo. São vendidos em Juiz de Fora cerca de mil litros de leite por dia. Mas a fazenda não vai se restringir a apenas este mercado.
Os equipamentos necessários para a instalação do laticínio foram cedidos pela Embrapa. O projeto também conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). “Queremos identificar os principais gargalos existentes na produção, processamento e no mercado de leite orgânico”, explica Aroeira. Os estudos visam buscar opções de alimentos e controle sanitário dos bovinos. A identificação dos custos de produção também é um desafio. “Sabemos que o consumidor paga mais por este tipo de produto, mas será necessária uma análise econômica para saber se o valor agregado compensa os custos da conversão para a pecuária orgânica”, diz Aroeira.
A Fazenda Salvaterra já produz café, hortaliças e frango pelo método orgânico. Com relação à pecuária, a alimentação dos animais é baseada em pastagens consorciadas com gramíneas e leguminosas. Toda a produção está inserida em sistemas silvipastoris (árvores e pastagens). O controle sanitário do rebanho é feito com métodos que não utilizam insumos químicos (homeopatia e fitoterapia). Para incentivar outros produtores a converterem suas propriedades para sistema orgânico, a Fazenda Salvaterra irá pagar pelo leite livre de agrotóxicos entre 20% e 30% a mais que o produtor receberia pelo leite convencional.
Certificação exige muitos cuidados
A pecuária orgânica busca a harmonia com a natureza. Segundo Joe Carlo, coordenador da Emater-DF, “é um modelo economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto”. Produzir leite orgânico significa usar o mínimo de insumos químicos (agrotóxicos, hormônios, venenos), valorizando uma alimentação natural para o rebanho e evitando a degradação do meio ambiente.
A legislação estabelece uma série de procedimentos para que o leite de uma propriedade seja considerado orgânico. Tais procedimentos regulamentam a alimentação do rebanho, instalações e manejo, escolha de animais, sanidade e até o processamento e empacotamento do leite.
Na alimentação dos animais, busca-se a auto-suficiência na produção. Os suplementos devem ser isentos de antibióticos, hormônios e vermífugos. São proibidos aditivos, promotores de crescimento, estimulante de apetite, uréia etc. O confinamento dos animais é proibido. Eles devem ter acesso a piquetes para exercitar-se e tomar sol no mínimo três horas por dia. Os produtores devem ainda estar atentos para os produtos usados na lavagem e desinfecção dos utensílios. Só são permitidos detergentes biodegradáveis.