JOVENS RURAIS – UMA NOVA MINAS NO CAMPO

José Silva Soares*


A cada dia que passa há mais pessoas consumindo alimentos do que agricultores produzindo no campo. Estudos mostram que em 1960 cada agricultor no Brasil produzia para 12 pessoas. Hoje um agricultor produz para mais de 30 pessoas. Em outros países, esta relação é ainda mais acentuada.


Mesmo com os avanços da tecnologia, nos últimos 10 anos, houve um aumento de 24% na área plantada com grãos. Outro desafio é produzir de forma sustentável, ou seja, sem degradar o meio ambiente, com menor custo e mais qualidade e segurança. Para acompanhar as transformações mundiais e garantir prosperidade no campo, a Emater-MG criou o Projeto Transformar, que busca formar uma nova juventude rural.


Não queremos perpetuar políticas equivocadas, que pretendem fixar o jovem no campo. Fixam-se postes, alicerces de construções… Já as pessoas, os cidadãos, devem ser livres e isso inclui a escolha delas ficarem ou não no campo. Mas para elas decidirem ficar no campo, é preciso educação, lazer, comunicação, boas vias de acesso e saúde. Se prestarmos atenção às políticas públicas das últimas décadas, vamos ver que quase tudo é direcionado ao meio urbano. Conjunto habitacional – na cidade, luz elétrica – na cidade, quadra de esportes – na cidade e assim vai. Com isso, é mais atrativo para os jovens irem para as cidades.


No entanto, a realidade das cidades não é tão promissora assim para os jovens. Drogas, violência e falta de escola e emprego são alguns dos problemas atuais enfrentados pela juventude. Conforme pesquisa do IBASE e Instituto Pólis, a primeira preocupação da juventude é uma educação com qualificação para arrumar trabalho. “Uma Escola que caiba na vida”, mais integrada com a realidade das comunidades e capaz de preparar os jovens para o mercado. E é assim que a extensão rural, que é uma educação não-formal, cuja sala de aula são os campos, as lavouras, busca formar uma nova classe rural, mais consciente, com mais oportunidade e mais empreendedora.


O Projeto Transformar utiliza um sistema de alternância, no qual parte da carga horária é teórica e a outra prática no campo, junto com os agricultores e extensionistas rurais. E, no final do curso, constroem um projeto econômico aliado às principais cadeias produtivas, com condição inclusive de se acessarem políticas públicas, como financiamento pelo PRONAF. E, assim, temos convicção de que teremos não novos produtores rurais mas novos empreendedores rurais.
 


* José Silva Soares é presidente da Emater-MG e da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer). É gerente estadual do Programa Minas Sem Fome, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Minas Gerais e do Conselho Estadual de Política Agrícola.

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