Inovação tecnológica e o pequeno produtor

Por: Fonte: OIC

O debate sobre preços é central para a cafeicultura. Por estarmos falando de uma cultura na qual os ciclos de altas e baixas cotações têm se alternado nos últimos anos, é evidente a preocupação dos cafeicultores em buscar formas mais efetivas de lidar com esse quadro. Em outros artigos, tratamos da questão da diferenciação no mercado de café, apontando alternativas para a incorporação de valor ao produto. Tal estratégia é fundamental principalmente para pequenos produtores, cuja pequena escala faz com que as contas sejam mais apertadas.


Para uma melhor compreensão da dinâmica dos preços na cafeicultura, determinados elementos devem ser levados em conta. Aqui trataremos especificamente do aspecto tecnológico, cuja importância tem crescido de forma determinante nas últimas décadas. De fato, tópicos como produtividade e expansão da área de cultivo se relacionam intimamente com o padrão tecnológico disponível. E os mesmos explicam em parte as crises geradas nos últimos 15 anos.


No café, o processo de disseminação de um novo padrão tecnológico tem sido liderado pelo Brasil. Os ganhos de produtividade decorrente do uso mais intensivo de tecnologia, cujos destaques são a fertirrigação e a mecanização das lavouras, são evidentes. A escala de produção aliada à configuração das áreas planas do cerrado brasileiro passam a ter um papel relevante no incremento da produtividade. Entre 1975 e 2000, a produtividade por área da cafeicultura brasileira cresceu cerca de 40%. Os gráficos a seguir mostram o quadro global, com a produção mundial e a área colhida de café verde no mesmo período.


Uma das principais características da produção, seja esta industrial ou agrícola, é o seu determinismo tecnológico. Uma vez implantada uma tecnologia que reflete em ganhos de produtividade com relação às demais, há disseminação rápida desse novo padrão. A maior produtividade resultante desse processo significa menor taxa de retorno do padrão anterior, expulsando produtores com padrões tecnológicos diferentes.


Este argumento nos levaria a imaginar que a lavoura mecanizada, com produtividade acima de 40 sacas por hectare no caso brasileiro, por exemplo, passaria a ser o padrão dominante. Em momentos de baixa cotação, a saída de uma grande quantidade de pequenos produtores, sem condições de aderir aos novos padrões tecnológicos, contribuiria para a configuração de um novo equilíbrio entre oferta e demanda, provocando uma alta nas cotações. No entanto, observando o caso específico do café, não é isso o que ocorre.


Embora teoricamente este argumento esteja correto, não é bem isso que ocorre. Uma particularidade desse processo na agricultura, e em especial na cafeicultura, é a dificuldade de mobilidade dos fatores de produção. Os custos de transação, ou seja aqueles associados à mudança para outra cultura, dependem da especificidade da terra. É comum, principalmente em regiões onde não há alternativas de cultivo rentáveis, a permanência dos produtores em atividades que possibilitam apenas o mínimo para a sua subsistência. Além disso, os custos monetários desses produtores tentem a ser menores do que dos tecnificados, dado o baixo uso de insumos e a utilização de mão-de-obra familiar.


Isso resulta em duas conseqüências:
i. resistência à adoção do novo padrão tecnológico;
ii. pressão baixista dos preços, já que o aumento da produtividade e a persistência dos produtores marginais em permanecer no negócio significam aumento da produção e ajuste muito lento da oferta.


Esta última conseqüência é agravada pelo fato do café ser uma cultura perene, o que resulta em custos irrecuperáveis caso o produtor desista da lavoura e opte por outra cultura. Podemos imaginar a dificuldade do produtor em erradicar uma lavoura que ainda teria muitos anos de vida. Estes custos implicam em um período de ajuste muito mais longo quando comparado com as culturas anuais.


Esta realidade explica o fato de que, apesar das duras crises enfrentadas pela cafeicultura nos últimos tempos, o número de produtores não ter caído drasticamente, ou a produção ter passado por ciclos de alta e baixa mais acentuados.


É nessa história toda que entra a diferenciação da produção. Esta é também uma forma dos produtores que estão excluídos do processo de ganhos de produtividade, seja pela escala de produção, seja por dificuldades financeiras e gerenciais, seja pelas características edafo-climáticas onde estão inseridos, conseguirem preços superiores aos dos níveis de concorrência. Tal estratégia se insere nos interstícios do mercado e se vale das oportunidades abertas às firmas com produtividade inferior ao do novo padrão instalado. É o caso, por exemplo, dos cafés de qualidade superior ou cafés sustentáveis, nos quais os produtores se aproveitam da importância que os consumidores dão a outros atributos que o preço baixo para se inserirem competitivamente no mercado.


Ganhos de produtividade e inovações tecnológicas são conseqüências diretas do processo de desenvolvimento em uma sociedade. Em setores caracterizados pelo dinamismo econômico, como se observa na cafeicultura brasileira, ganhos de produtividades devem cada vez mais fazer parte do dia-a-dia dos produtores. Uma vez que nem todos poderão arcar com os custos de entrada nessa ciranda tecnológica, há alternativas viáveis mesmo para os pequenos, desde que a palavra qualidade faça parte da rotina dos mesmos, em todos os aspectos de sua atividade.


 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.