HISTÓRIA DO CAFÉ – SANTOS – Cafezinho, uma tradição confirmada























  • Memória
    Cafezinho, uma tradição confirmada
    Texto atualizado em 16
    de Junho de 2009 –

  • por Laire José Giraud *
     
     

    Presente em muitos momentos, ele se mistura, se
    destaca, inspira, dá o tom.


    É quase um amigo
    inseparável.


    Do que estou falando?  – Do café.


    (citado no blog Rio que Mora no
    Mar
    )


     


    Fomos e sempre seremos a terra do café. Por esta
    razão, vamos recordar uma velha tradição brasileira, a de tomar uma xícara
    dessa bebida. Para isso, vamos lembrar rapidamente de algumas situações ligadas
    a esse agradável hábito.


     




    Belissimo cartaz da década de 1930,
    com


    propaganda do Café Excelsior.


    Reprodução do livro Propaganda no
    Brasil.


     


    O café foi descoberto por pastores árabes, veio
    para o Brasil através da tenacidade de Francisco de Mello Palheta, que
    contrabandeou mudas do chamado “ouro verde” da Guiana Francesa. Antes de ser
    cultivado no Brasil, já era saboreado por turcos, depois consumido na Europa.
    Tendo seu início em Viena, na Áustria, onde era bebido com adição de leite e mel
    para tirar o gosto amargo, surgindo assim o conhecido café
    vienense.


     


    Muitos consideravam tomar café um terrível vício,
    principalmente os ingleses habituados ao chá, achavam horrível o seu gosto.
    Mesmo com muitos entraves, o café saiu vencedor e conquistou os quatro cantos do
    mundo.


     


    Mesmo antes de chegar ao Rio de Janeiro e ao interior
    paulista, o café já era sucesso absoluto no Velho Continente.


     





    No passado, o
    Centro de Santos possuiu cafés famosos, frequentados


    por todas as classes profissionais, que
    conversavam sobre os mais


    variados assuntos. A foto mostra a Rua General
    Câmara nas proximi-


    dades da Praça Ruy Barbosa. Final da
    década de 1930. Acervo:
    FAMS.


     


    No Brasil, era moda copiar tudo que acontecia na
    França. Era uma mania que atingia todos os setores do dia-a-dia, como bebidas,
    alimentos, modas, engenharia, educação, medicina, arte
    e hotelaria.


     


    Dentre essas manias de copiar, surgiram os cafés,
    que retornaram com a denominação de cafeterias, local onde as pessoas iam para
    saborear a deliciosa rubiácea. Primeiro surgiram no Rio de Janeiro, em São Paulo
    e, certamente, em Santos, que era e continua sendo o Porto do Café.
    Surgiram assim as casas de café ou simplesmente
    cafés.


     


    A cidade de Santos teve cafés que marcaram época, não
    se sabe as datas exatas que surgiram, com exceção dos conhecidos Café Paulista,
    fundado em 1911, e do Café Carioca (1939). Estes são os únicos
    remanescentes de um pujante passado.


     





    A foto mostra o
    interior do Café Paulista por volta de 1915,


    vendo-se cavalheiros da época. Acervo: L.J.
    Giraud (presente


    do inesquecível Jaime
    Caldas).


     


    Dentre esses cafés, podemos lembrar de alguns do
    Centro de Santos, como Café Java, O Nacional Bar (Praça Ruy Barbosa, 32), O
    Paris, A Leoneza, Café e Restaurante Marreiro, Café D’Oeste (que além de um bom
    café, tinha a melhor coxinha de galinha que Santos já conheceu), Café Caravela
    (Rua João Pessoa), A Paulista, Casa Hespéria, Confeitaria Rosário, Café Mundial,
    Ao Campo Belo e Café Florença, entre muitos outros.


     


    No Gonzaga, existiu o famoso Café Atlântico, que
    acredito ter sido onde degustei o melhor café da minha vida. O Café Atlântico
    ficava colado ao mais charmoso restaurante que a Cidade já possuiu, melhor
    dizendo, ficava embaixo do prédio do Atlântico Hotel.


     




    A famosa e agitada Rua XV de Novembro, a Wall Street
    santista,


    reduto das casas comissárias de
    café (exportadoras), agências


    marítimas, bancos, telégrafos
    internacionais e da Bolsa Oficial de Café.
    Imagem de meados da década de
    1920. Acervo: L.J. Giraud.


     


    Era costume naqueles tempos as pessoas
    sentarem-se às mesas para conversarem e saborear um delicioso cafezinho. Nessas mesas eram fechados grandes
    negócios, falava-se da vida alheia, discutia-se futebol e ouvia-se engraçadas
    anedotas. Seus frequentadores eram das mais variadas profissões, dentre elas,
    fiscais da Alfândega, despachantes aduaneiros, jornalistas, corretores e
    comissários de café, agentes marítimos, advogados, médicos e até boêmios. Os
    garçons com muita tranquilidade serviam o café em mesas de fregueses habituais.
    Era comum depois do cafezinho saborear um
    licor.


     


    Uma curiosidade: quando vários amigos se reuniam para
    um cafezinho, geralmente jogavam, com perdão da má palavra, “porrinha” (jogo com
    palitos de fósforo), como é conhecido em Portugal. A regra era acertar o número
    de palitos (com punhos fechados) em cada rodada. Quem perdesse pagava o café.
    Não era de bom tom mulheres frequentarem os cafés sem a devida companhia
    masculina. Coisas do passado.


     




    O cartão-postal de 1951 mostra o conhecido Atlântico
    Hotel, local


    onde funcionava o Restaurante
    Atlântico e o Café Atlântico, que


    ficavam situados onde aparecem
    colunas no lado direito do hotel,


    ao lado da Avenida Ana
    Costa.


     


    Vale ressaltar que o café mais famoso do Brasil
    em todos os tempos foi o Café Nice, inaugurado em 1928. Ficava na Galeria
    Cruzeiro, no prédio do Hotel Avenida (Av. Rio Branco, 174), na antiga Capital
    Federal, Rio de Janeiro. O Café Nice foi símbolo de uma época de ouro da música
    popular brasileira. Ponto de encontro de compositores e músicos do Rio de
    Janeiro.


     


    Quando menino, por algumas vezes cheguei a tomar taças
    de sorvetes no Nice, na companhia de meu tio Fédro Mesquita, após assistirmos
    matinê no Cineac (cinema conhecido na época). O Nice encerrou suas atividades em
    1956.


     




    Foto de um trecho do pujante Porto de


    Santos (1955), o porto do café, por
    onde


    embarcaram milhões de sacas do ouro
    verde


    com destino à vários países do
    mundo.


    Os guindastes que parecem na foto


    conhecidos como palmeiras,
    devido à sua


    altura sumiram do cais santista,
    com a


    chegada dos contêineres. Acervo:
    L.J.Giraud.


     


    Na década de 1960, os cafés foram sumindo,
    primeiro foram retiradas as mesas, Também os fregueses já não eram os mesmos.
    Com as mudanças de hábitos, as despesas desses cafés não permitiam esse tipo de
    serviço. Assim, no lugar surgiram as lanchonetes, que apresentavam melhor lucro
    aos seus proprietários.


     


    Hoje, os cafés são na grande maioria do tipo expresso
    (italiano), alguns de boa qualidade, como os encontrados em algumas cafeterias
    da Cidade e na cafeteria do Museu dos Cafés. Vale lembrar que o primeiro café de
    máquina ou italiano que tomei foi no Café Torino (1956), que ainda funciona na
    Praça Mauá.


     




    A curadora dos Museus dos Cafés do Brasil, Marjorie C.
    F. Medeiros,


    cercada por Eduardo Carvalhaes Filho e Pedro Troncoso,
    numa
    das dependências do Museu. Foto: L.J. Giraud.


     


    Felizmente, o café de fato, feito no coador, com
    aquele sabor do passado ainda pode ser saboreado nos tradicionais Café Paulista,
    Carioca e Florença, situados no Centro Histórico de Santos. Aos leitores da
    coluna Recordar deste
    PortoGente, na forma de um brinde, esta coluna simbolicamente
    oferece, uma deliciosa xícara de
    café tipo exportação, passado em coador.


     


    Este artigo vai para Marjorie C. F. Medeiros, curadora
    do Museu dos Cafés do Brasil (Bolsa Oficial de Café) e para os irmãos Manolo e
    Antonio Rodriguez, proprietários do quase centenário Café
    Paulista.


     



    Museu do Café Santos SP
    Foto noturna da Rua XV de Novembro, tendo ao fundo o
    majestoso


    prédio do Museus dos Cafés do Brasil. Foto:
    Tadeu Nascimento.


     




    Capa do cardápio do tradicional Café Carioca,


    inaugurado em 1939. Fica na rainha das praças


    de Santos, a Mauá – Centro Histórico
    de Santos.


     


    Leia também


    * Café, caminhos e meios
    de ligação


    * Consumo de café cresce, mas
    logística deixa a desejar

     

     * Laire José Giraud é despachante aduaneiro, colecionador de
    cartões-postais da Cidade e de transatlânticos antigos. Colaborador da Revista
    de Marinha de Portugal. Publicou cinco livros, como autor e co-autor, sobre
    temas da Santos antiga.
    Fonte: http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=23169

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