Entrevista Nathan Herszkowicz ‘‘O jovem é o segmento da população que menos bebe café’’

Por: Estado de Minas


Graziela Reis


Herszkowicz, de 56 anos, vê como grande desafio dos próximos anos aumentar o consumo da bebida e, conseqüentemente, os lucros do setor. A meta é promover um crescimento no consumo interno de 27%, entre 2006 e 2010, quando a indústria espera processar 21 milhões de sacas do grão. Atingir esse objetivo é um desafio, principalmente se forem observadas as últimas taxas de crescimento do consumo mundial de café: apenas 1,5% por ano.


A formação de Nathan não tem nada a ver com a cafeicultura. Ele é engenheiro mecânico. Mas vislumbrou na indústria de café uma boa possibilidade de negócio. Em 1984, comprou uma indústria em Rio Claro (SP), a Café Wenzel, que vendeu em 1995 para se dedicar totalmente ao setor. Está à frente da diretoria executiva da Abic desde 2003. Sob sua batuta estão as 470 indústrias associadas à Abic, que representam 70% da produção brasileira de café industrializado que respondem, por sua vez, por quase 90% das exportações de café torrado e moído.


Quais as perspectivas para o consumo de café, no Brasil, este ano?


No ano passado, o consumo de café no Brasil chegou a 15,8 milhões de sacas. Foi metade da safra colhida em 2005. Este ano, a expectativa é de crescer 5,5%. Deve chegar a 16,5 milhões de sacas. Tal crescimento faz parte de um plano de atingir o consumo interno de 21 milhões de sacas em 2010.


Mas é uma projeção alta. Como acredita que conseguirão concretizá-la?


O Brasil é o país que apresenta as maiores taxas crescimento de consumo, no mundo. Crescemos 9% em 2004 e 4% em 2005, enquanto o consumo mundial cresce só 1,5% por ano. O brasileiro está bebendo mais café. Todos estão curiosos pelos cafés de alta qualidade que estão sendo vendidos no mercado interno. O consumidor responde à melhoria da qualidade bebendo mais. O consumo per capita de café no Brasil, é de 4,11 quilos de pó por ano. É algo como 70 litros por habitante, por ano. Precisaríamos aumentar em quase 30% esse volume. Tem que chegar a algo perto de 5,3 quilos até 5,5 quilos para o consumo atingir as 21 milhões de sacas. O consumo atual brasileiro é igual ao do americano. Na Alemanha, é de 7 quilos per capita. Na Finlândia e na Noruega é que estão os que mais consomem café no mundo. O per capita nesses países é de 11 quilos, por ano. Na Itália é que é perto dos 5,5 quilos. Esse é nosso modelo de mercado. Queremos ser como uma Itália, pelo menos.


O mais difícil de ser atingido é o consumidor jovem, que consome muito refrigerante. Como chegar a ele?


O jovem no mundo todo é o segmento da população que menos consome café. Mas também a qualidade dos cafés expressos, os points que casas de café e cybercafés começaram a se transformar, chamaram a atenção desse público. Temos pesquisas de tendências que começam a mostrar que jovens estão freqüentando essas casas de café e começando a consumir a bebida. Começaram a aparecer na população que consome café. O bom e velho café com leite volta a ser a pedida de muitos jovens, com outras leituras, como capuccino, late ou outros tipos de misturas. Estão substituindo refrigerantes em alguns momentos do dia, o que é bom.


Quais os outros objetivos, além do aumento do consumo?


Primeiro, a melhoria contínua da qualidade. Estamos fazendo coisas muito boas, mas podemos fazer coisas melhores, principalmente no café do dia-a-dia. Segundo, é informar o consumidor e educar para que ele também conheça melhor o café. Assim, vai consumir mais. Apostamos no Programa de Qualidade do Café (PQC), que é um programa de certificação único no mundo. Na semana passada, anunciamos a ampliação do programa, criando a certificação específica para café gourmet, superior e tradicional. Com isso, o consumidor vai poder identificar melhor, através do símbolo de um trevo, o café que quer levar para casa.


Como elevar a demanda pelo café em um país em que a renda média da população não é tão alta?


Aumentar o consumo em taxas elevadas sempre é um desafio. Mas no caso do café, renda não é determinante. Quando a renda cresce, é claro que ajuda. O exemplo de que o café não depende só da renda está nos dados de 2002. O ano teve um desempenho econômico muito fraco, mas o preço do café era 40% do preço de hoje. Foram os mais baixos dos últimos 50 anos. E mesmo com preço baixo não se consumiu mais. Nos anos seguintes, os preços do café se recuperaram e, para o consumidor, praticamente dobraram. Mesmo assim, o consumo aumentou. Houve melhoria da qualidade. Foi isso que explicou a expansão do consumo. Houve mais informação para o consumidor. Ele foi preparado para beber mais café, seja pelo trabalho de marketing da indústria e também pela divulgação feita pela Abic.


Mas o Brasil ainda é visto como um país que vende apenas quantidade, sem qualidade…


Mas essa história de o Brasil vender só café de baixa qualidade é pagina virada desde meados da década de 90. A crise fez o produtor acordar. Não adiantava mais produzir quantidade sem zelar pela qualidade. Houve uma grande revolução, que tomou conta da cafeicultura brasileira. Deixou de ser tendência ter só quantidade. É fato consolidado. Ter qualidade significa vender com preço melhor. Melhor oferta de grão de qualidade para exportação. Agora o Brasil também é o maior fornecedor mundial de café de qualidade. Não é só o maior fornecedor.


Quanto a indústria do café deve faturar, este ano?

A expectativa é de que o faturamento chegue aos R$ 5,1 bilhões, ou seja, os 5,5% maior que no ano passado. Este será o faturamento se vendermos as sacas previstas. Para 2006, a indústria deve também investir R$ 80 milhões, entre marketing e tecnologia. Este investimento está aumentando gradativamente. Para os preços ao consumidor, esperamos estabilidade.


A história de o Brasil vender só café de baixa qualidade é pagina virada desde meados da década de 90

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