ENTREVISTA: Mercado de cafés especiais deve colher 1 milhão de sacas este ano

Alexandre Frossard Nogueira

6 de março de 2006 | Sem comentários Entrevistas Mais Café
Por: Estado de Minas por Graziela Reis

“Quanto mais se vira o café no terreiro, no mínimo 15 vezes por dia, melhor a qualidade”

O mercado de cafés especiais deve colher 1 milhão de sacas este ano, contra 800 mil em 2005. O crescimento é de 25%. Os números ainda são considerados tímidos pelo novo presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (Brazil Specialty Coffee Association – BSCA), Alexandre Frossard Nogueira. O administrador de empresas, que nasceu em Belo Horizonte e tem 37 anos, acredita que o mercado ainda promete muito. Afinal, não é por pouco que esse café é chamado de especial. A prova está em seu valor. A cotação chega a superar de 30% a 100% o preço de uma saca do grão comercial.


Quais foram as principais conquistas da BSCA em 15 anos de atuação e o que o senhor prevê para os próximos dois anos?


Antes de falar em conquistas, é muito importante enxergar como estava há sete ou 10 anos. Saímos de um mercado que ignorava o fato de o Brasil poder oferecer um café fino, de qualidade. Saímos de um ponto zero. Até um ponto negativo, de menos dois. E hoje, 15 anos depois, o Brasil tem o reconhecimento internacional como fornecedor de qualidade.


Hoje são apenas 52 os associados da BSCA? Pretende promover a expansão da associação?


Temos a expectativa de crescer de forma controlada e progressiva. Não temos o objetivo de abrir a associação para todos, de forma indiscriminada. O produtor que preencher os quesitos determinados pelo nosso código de conduta, que é uma norma com 165 itens, auditada anualmente por uma empresa independente suíça, a SGS, estará apto a integrar o quadro de associados.


O que é preciso para se tornar um produtor de café especial?


Cumprindo esses 165 itens, o produtor estará de acordo com as normas ambientais e sociais nos mercados mais exigentes. Inclusive no que se refere a segurança alimentar. A partir daí, ele tem que ter seu processo de produção e secagem de café e seguir os cuidados necessários para que o produto tenha a qualidade que vai ser determinada, depois de todo o processo, na prova feita por provadores especializados. Isso consiste em iniciar um processo de lavagem e secagem do café logo após a colheita, não deixando o grão esperando na lavoura, o que pode dar uma fermentação. Manter os equipamentos higienizados. Ter controle de processos de qualidade. A seleção de grãos deve ser feita desde a colheita, selecionando o verde, o cereja e o seco. Na hora da colheita, o estágio de maturação dos grãos também é determinante para a qualidade. Algumas máquinas vão separar esses grãos. A secagem tem que ser lenta e gradual. Vários estudos já mostraram que, quanto mais se vira o café no terreiro, no mínimo 15 vezes por dia, melhor a qualidade. Isso tudo são detalhes que são seguidos por vários produtores, mas isso tem que ser feito em uma forma de procedimento. É um código que esse produtor vai estar seguindo que garantirá o aumento de qualidade de seus lotes. No fim de tudo isso, ele vai provar lote por lote e determinar aqueles que são especiais ou não. E, para isso, tem que ter uma nota mínima de 80 na avaliação sensorial, na prova de xícara.


Qual a variedade mais indicada ao café especial?


Hoje, o bourbon é a variedade que mais tem sido notada de alta qualidade. Isso não diminui a qualidade de outras variedades. Temos também o icatu, o mundo novo, o catuaí. São todas variedades arábicas, que devem ser plantadas em uma região adequada, no microclima propício, em altitude ideal também. E, se são bem conduzidas depois da colheita, têm tudo para apresentar alta qualidade. Mas, no caso da BSCA, nada disso vale sem a certificação que garante as práticas corretas.


A cotação desse tipo de café é, no mínimo, de 30% a 35% superior à convencional. O custo de produção também é mais alto nessa proporção?


Não. O custo de produção é um pouco mais alto por causa dos maiores cuidados e da maior segmentação. É um pouco mais de infra-estrutura, de mão-de-obra. São detalhes. E obviamente tem que ser uma lavoura bem nutrida e uma colheita bem feita.


O faturamento dos associados deve passar dos R$ 20 milhões para os R$ 80 milhões este ano. O que vai motivar tamanho crescimento?


Estimamos alcançar essas esferas. O que motiva isso: em primeiro lugar é uma safra maior, que vai sair de 800 mil para 1 milhão só de café especial. Em segundo lugar: os preços estão em patamares superiores aos do ano passado.

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