Empresas buscam o café perfeito

13 de setembro de 2007 | Sem comentários Cafeteria Consumo
Por: The New York Times


Peter Meehan


Duane Sorenson planejava voar ao Iêmen, percorrer estradas de terra em
utilitários de tração nas quatro rodas e cruzar os céus da Arábia em aviões a
hélice, em sua viagem pelo país em busca de cafeicultores de mente aberta.
Sorenson, proprietário da Stumptown Coffee Roasters, em Portland, Oregon,
pretendia oferecer aos agricultores mais dinheiro do qualquer comerciante do
passado, em troca de uma promessa de que melhorariam suas safras.



Mas problemas com seu passaporte fizeram com que ele tivesse de
interromper a jornada em Washington. Sorenson não se deixou abater e embarcou
para a Cidade da Guatemala. Ao chegar, comeu tortilhas, feijão e tilápia em
companhia do proprietário da Finca El Inierte, uma das fazendas de café mais
célebres da América Central, no departamento de Huehuetenango, oeste do país.


Foi uma viagem inesperada, mas Sorenson e alguns outros caçadores de café
norte-americanos estão dispostos a ir a quase qualquer lugar, a fazer quase
qualquer coisa e a pagar quase qualquer preço em sua busca pelo café perfeito.
Para os funcionários da Stumptown e de concorrentes amistosos como a
Intelligentsia Coffee Roasters and Tea Traders, de Chicago, e a Counter Culture
Coffee, de Durham, Carolina do Norte, longas viagens a fazendas distantes para
reuniões sem retorno imediato são passos necessários rumo a uma meta ainda
maior: reinventar o setor de café.


“Essas pessoas têm uma capacidade quase inacreditável de localizar cafés
singulares, únicos¿, disse Mark Prince, editor do site coffeegeek.com. Connie
Blumhardt, editora da revista de café “Roast”, concorda. “Eles são certamente os
líderes, no momento. Algumas das torrefadoras de menor porte os cultuam, como se
eles fossem os deuses do café”.


“Comércio direto” é o nome mais popular para o estilo de negócio praticado
por essas companhias de café. Significa, simplesmente, que as torrefadoras
compram seu café diretamente das fazendas e cooperativas que os cultivam, e não
de intermediários. O termo foi popularizado por Geoff Watts, diretor de café e
comprador de café verde da Intelligentsia. (A milhagem acumulada por Sorenson na
semana passada não faz sombra à de Watts, que voou ao Burundi com outro
comprador de café para conversar com grupos que pretendem reviver a grande
tradição do café do país.)


O comércio direto ¿que também envolve comunicação intensiva entre cafeicultor
e comprador- se opõe diretamente ao antigo (mas ainda dominante) modelo sob o
qual conglomerados internacionais adquirem café em forma de cargas suficientes
para lotar um navio, pelo menor preço que o mercado de commodities acatar.


E também representa, ao menos para muitos profissionais no mercado de café
especializado, uma melhora com relação a rótulos como “comércio justo”, “não
prejudicial aos pássaros” ou “orgânico”. Esses rótulos se referem a modos de
cultivo de café, e podem persuadir consumidores a pagar um pouco mais pelo
produto, mas não oferecem garantia de sabor ou qualidade. As companhias de café
de comércio direto, por outro lado, consideram que a agricultura ecologicamente
correta e preços superiores até aos do rótulo “comércio justo” tanto como
práticas sensatas de negócio quanto como maneiras efetivas de obter um café de
melhor sabor.


Dedicando meses a contatos com os produtores, as torrefadoras procuram
oferecer café produzido da melhor maneira possível, adquirido responsavelmente e
torrado cuidadosamente. O objetivo delas é, simplesmente, obter o melhor café
possível.


“Trata-se na verdade de uma exploração do sabor do café”, define George
Howell. Howell, que dirige a George Howell Coffee, uma torrefadora de Acton,
Massachusetts, esteve envolvido em praticamente todos os avanços do mercado de
café de alta qualidade desde que ele começou no setor, em 1974. “Nós estamos
encontrando sabores jamais experimentados, com componentes florais e frutíferos
em cafés novos, de paladar límpido. Esses são sabores que terminaram perdidos ou
diluídos pelos velhos métodos de combinar todas as variedades de café em um
composto médio”.


De muitas maneiras, os praticantes do comércio direto de café baseiam seu
trabalho na fundação oferecida por empresas como a Peet¿s e, posteriormente, a
Starbucks, que abandonaram o mercado de commodities em busca de café de
qualidade superior. Mas Blumhardt disse que essas empresas são grandes demais
para vasculhar cada saca e cada grão, da forma que as empresas de comércio
direto fazem. A Starbucks adquiriu mais de 135 milhões de quilos de café no ano
passado; a Intelligentsia, a empresa líder do segmento do comércio direto,
comprou cerca de 900 mil quilos.


Ocasionalmente, essas experiências exploratórias são propiciadas pelo acaso.
Peter Giuliano, co-proprietário e diretor de café da Counter Culture Coffee,
fala com excitação visível de ter encontrado em uma fazenda centro-americana uma
plantação de café da variedade gueixa ¿uma variedade conhecida por produzir
grãos de qualidade excepcionalmente elevada. (Este ano, o Esmeralda Especial, um
café panamenho produzido apenas com grãos gueixa, obteve os maiores preços
registrados nos leilões de café.)


O mais freqüente é que as torrefadoras se conectem aos cafeicultores por meio
de competições de sabor. A mais prestigiosa delas é a Copa da Excelência, uma
competição anual agora organizada em oito países produtores de café por uma
organização norte-americana sem fins lucrativos. O site Coffeegeek define o
evento como “olimpíada do café”, e a disputa, que é realizada por meio de
degustação sem identificação de marca, pode durar até 10 dias. Ao final, os
organizadores leiloam os cafés participantes online, com participação de
interessados de todo o mundo, e a disputa pelos melhores grãos é feroz.



Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME

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