Deixe de lado os agrotóxicos e aprecie o sabor dos orgânicos

26 de janeiro de 2010 | Sem comentários Café Orgânico Produção
Por: 26/01/2010 09:01:00 - Jornal O Estado

 
26/01/2010 09:01:00 – Jornal O Estado
Alimentos orgânicos são mais gostosos e mais saudáveis ao meio ambiente e ao corpo humano. Números mostram que o mercado gosta.


Por Jorge Tarik
Colaboração de Tarcília Rego


Finalizamos, hoje, nossa série sobre os agrotóxicos no Brasil. Após duas matérias dedicadas aos defensivos agrícolas, reservamos estas últimas páginas para alternativas mais saudáveis à população. Hoje, entramos na seara dos orgânicos, mas antes lidemos com uns últimos vestígios dos agrotóxicos.
Em 2009, o Brasil permaneceu como líder mundial no recolhimento de embalagens de agrotóxicos. O País recolheu cerca de 90% dos recipientes, totalizando 28 mil toneladas. Apesar de os 10% remanescentes representarem grande perigo à natureza (logo, à saúde humana), a taxa é bem superior à de outros países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Japão, onde o recolhimento gira em torno de 25%. Em 2008, o Brasil já era líder nesse controle. Naquele ano o percentual foi ainda melhor, com cerca de 94% das embalagens recolhidas, totalizando 24,4 mil toneladas.



O coordenador de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Luís Carlos Rangel, atribuiu o sucesso ao sistema de fiscalização, que monitora revendedores e compradores, sujeitos a penas previstas nas leis de agrotóxicos e de crimes ambientais. “Sozinhos, recolhemos mais da metade do total de embalagens recolhidas em todo o mundo”, exalta o gerente de Logística do Inpev, Mário Fuji. Em 2002, começou a funcionar o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), entidade financiada pelas indústrias do setor. De lá pra cá, o Brasil já recolheu mais de 136 mil toneladas de recipientes usados
A lei federal n° 7.082 é um dos mecanismos responsáveis pelo sucesso. Ela determina que ao adquirir agrotóxicos, o produtor tem que devolver em até um ano a embalagem do produto nos postos de recolhimento. Antes da entrega, os agricultores tem de fazer a tríplice lavagem da embalagem: agitar o recipiente com água limpa, inutilizá-lo com perfuração e armazená-lo em local apropriado até a devolução, longe de alimentos, animais e pessoas.
Fuja da contaminação
De acordo com o agrônomo Alberto Feiden, da Embrapa Pantanal, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, o uso de agrotóxicos, junto com as queimadas, representa a maior fonte de poluição ambiental no Brasil. Um dos métodos alternativos de agricultura que combatem esse mal é a produção orgânica.
Nela, a produção de alimentos e produtos animais e vegetais não usa produtos químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados, e geralmente adere aos princípios da agricultura sustentável.
Esse tipo de cultura começou de forma isolada no país, na década de 1960, ligado a grupos alternativos. Mas os orgânicos ganharam o mercado apenas no fim dos anos 80 e início dos 90, com a contribuição da Eco-92. 



A pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Ângela Diniz Campos, explica que esse tipo de produção considera todo o ecossistema e desenvolve estratégias que busquem manter a estrutura e a produtividade do solo, trabalhando em harmonia com a natureza. Assim, caracterizam a agricultura orgânica a rotação de culturas, adubação verde e controle biológico de pragas e doenças.
Os benefícios trazidos por esse tipo de alimento são vários. A começar pela ausência de resíduos de agrotóxicos, que podem – como já vimos na primeira matéria – causar graves distúrbios de saúde. Também por isso os orgânicos tem melhor sabor – as frutas, por exemplo, tendem a ficar mais doces. Suas culturas favorecem a vida no solo, pois o fazem permanecer saudável. A partir daí a cultura orgânica ajuda a preservar todo o planeta, numa cadeia de eventos que inclui a não contaminação dos lençóis freáticos (a água que bebemos) e dos ecossistemas locais, que são afetados na produção convencional de larga escala, baseada na monocultura e utilização de químicos.



Em vários países, a agricultura orgânica é definida e regulamentada por leis. Assim é nos Estados Unidos, Japão, Suíça, União Europeia, Austrália e Brasil, entre outros.
Dados da IFOAM (Federação Internacional dos Movimentos para a Agricultura Orgânica) revelam que a demanda global por produtos orgânicos é crescente. As vendas aumentam mais de US$ 5 bilhões por ano no mundo. A “Organic Monitor”, empresa especializada em pesquisa e consultoria nas indústrias orgânicas e similares, estimou movimentação de quase US$ 40 bilhões nesse mercado em 2006, o dobro do que era em 2000. Também em 2006, a Associação dos Supermercados divulgou que o consumo de orgânicos cresceu mais de 40% ao ano no Brasil.
Entre os principais consumidores estão as mães, preocupadas com a melhor qualidade da alimentação dos filhos; os atletas, que buscam manter o vigor físico; e os idosos, atrás de uma melhor qualidade de vida.
Segundo o Censo Agropecuário 2006, divulgado em setembro de 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção orgânica no Brasil concentra-se na pecuária e criação de outros animais (41,7%) e na produção de lavouras temporárias (33,5%). Ao todo, temos 90 mil produtores orgânicos.
Cerca de 60% da produção é exportada. A maioria do que segue para o mercado externo é de produtos in natura, processados da soja, açúcar, café, cacau, carnes, leite e derivados do mel.


regulamentados até o fim do ano
O governo criou um selo para identificar os produtos orgânicos, o rótulo do “SISORG” – Sistema de Avaliação da Conformidade Orgânica. Já a produção orgânica terá até 31 de dezembro deste ano para se adequar à uma nova regulamentação, que deve trazer mais segurança a todos os envolvidos nesse processo.
As organizações certificadoras, que atestam se o alimento é orgânico, deverão ser creditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), o que, segundo o presidente da Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Ministério da Agricultura, José Pedro Santiago, deve elevar a qualidade no setor. Um banco de dados com as informações do setor também será criado no Ministério da Agricultura.
“Com a regulamentação, no mercado interno haverá possibilidades legais de coibir e punir a venda de produtos que se dizem orgânicos, mas não são. Isso, é uma garantia para os consumidores e para a credibilidade do movimento orgânico”, afirmou Santiago.


Mais informações você pode obter no site do Ministério da Agricultura (www.agricultura.gov.br).


Saiba
Os alimentos orgânicos não se limitam às culturas agrícola, mas se estendem à pecuária e ao processamento de todos os seus produtos. Na pecuária, o gado deve ser criado sem remédios ou hormônios. E os alimentos orgânicos industrializados também devem ser produzidos sem produtos químicos artificiais, como os corantes e aromatizantes artificiais.
Já a produção orgânica de forma geral não se limita a alimentos. Fibras orgânicas de algodão, por exemplo, são usadas na produção de vestimentas. Os seus produtores defendem que a utilização de pesticidas em níveis excepcionalmente altos (além de outras substâncias químicas) na produção convencional de fibras representa abuso ambiental por parte da agricultura convencional.


Agricultura Orgânica no Ceará
Em 2006, quando foi realizado o Censo Agropecuário, o Brasil tinha 90 mil produtores orgânicos. O Ceará, por sua vez, tinha apenas 167 unidades orgânicas certificadas (de empresas a sítios familiares), de um total de quase 4.700. Dados de 2007, apontam que em mais de 27 mil hectares, nosso Estado produz, entre outros, os seguintes produtos orgânicos: acerola, café, castanha de caju, hortaliças, banana, algodão e mel.
Para Hermínio Lima, engenheiro agrônomo da área de agricultura orgânica do Instituto Agropolos, números atualizados sobre a produção orgânica no Ceará são difíceis. Documentos oficiais já são defasados, como o censo agropecuário da agricultura orgânica, realizado em 2006. Hermínio fala que é difícil conseguir dados atualizados, pois as empresas não repassam os dados e não há, efetivamente, uma estrutura centralizadora da informação. A comissão estadual da produção orgânica do Ceará, instância prevista por lei para organizar, coordenar e fiscalizar os produtos orgânicos, está desarticulada desde 2007, atacada por um esvaziamento. De acordo com Hermínio, em fevereiro ou março próximos a comissão deve reunir-se.
 

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