Publicação: 19/03/07
Entre as causas, infra-estrutura dos portos e câmbio
BRUNO VILLAS BÔAS
DO JORNAL DO COMMERCIO
O ritmo de crescimento dos terminais de contêineres despencou no ano passado, quando foram movimentadas 3,849 milhões de unidades, crescimento de apenas 6,59% frente a 2005. Foi o pior resultado do setor desde 1999, ano da maxidesvalorização do real. Entre 2002 e 2005, os terminais mantinham um ritmo de crescimento médio de 20%, segundo dados da consultoria Datamar. Executivos culpam a valorização do real, que reduziu o embarque de manufaturados, e uma piora na infra-estrutura dos portos.
A queda nas exportações de carnes de frango e bovina também foi mencionada pelos executivos, resultado da gripe aviária e da febre aftosa. Os produtos são exportados em contêineres refrigerados. O vice-presidente da Libra Terminais, Álvaro Sávio, explica que os mercados de Santa Catarina e Paraná foram os principais afetados, com impacto maior na movimentação dos terminais das regiões Sudeste e Sul . “Houve incremento grande na importação, com queda grande de exportação”, avalia.
O Grupo Libra, que opera terminais de contêineres nos portos do Rio, Imbituba (SC) e Santos (SP), movimentou no ano passado 940 mil TEUs (unidade de medida equivalente a contêineres de 20 pés), aumento de 5,3% na comparação a 2005. “Em janeiro deste ano, contudo, registramos movimentação de 42 mil unidades no Porto de Santos, aumento de 25% frente a igual mês do ano passado. Isso quer dizer que o ano está se mostrando mais promissor. Estamos mais otimistas”, afirma.
No ano passado, o volume de contêineres cheios importados – mais relevante por ter preço de movimentação 105% superior ao de contêineres importados vazios – cresceu de 870 mil para 1,002 milhão de unidades frente a 2005, crescimento de 15,26%. O aumento do fluxo de importação, contudo, não foi suficiente para compensar as perdas nas exportações. O presidente do Tecon Suape (PE), Sergio Kano, afirma que, ainda assim, o crescimento das importações será importante para os resultados deste ano.
O Tecon Suape cresceu em 10% a movimentação de contêineres no ano passado, de 179.471 para 197.296 TEUs. Segundo Kano, o aumento poderia ter sido de 20% não fossem os gargalos logísticos dos portos do Sul e Sudeste do país.
Otimismo.”Estamos também mais otimistas para este ano”, diz Kano. “Esperamos movimentar no terminal 250 mil TEUs, um aumento de 25%. Neste ano, diferentemente de 2006, as exportações terão papel importante no crescimento, ao lado das importações. Passaremos a embarcar garrafas PET da fábrica do grupo italiano Mossi & Ghisolfi, maior unidade do mundo. Neste primeiro ano deverão ser exportadas de 15 mil a 20 mil TEUs apenas desta unidade. Quando a fábrica estiver 100% em operação, serão 30 mil TEUs por ano.”
O terminal de contêineres Santos Brasil, maior da América Latina, também revela otimismo, fruto do crescimento do comércio exterior, do aumento do grau de conteinerização das cargas e do incremento das movimentações no Porto de Santos. O terminal, que investirá cerca de R$ 200 milhões até dezembro, prevê movimentar 820 mil contêineres em 2006. No ano passado, o crescimento dos embarques e desembarques foi de 8%, resultado ligeiramente acima do mercado.
O menor crescimento no ano passado não impediu, contudo, a atração de novos investidores para o setor. Em uma operação relâmpago, o fundo Gávea Investment Fund, gerido por Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central), comprou 25% da Multiterminais, que opera o terminal 2 de contêineres do Porto do Rio de Janeiro. O Tecon 2 movimentou no ano passado 175 mil TEUs, crescimento de 5,5% frente ao ano anterior. Os recursos serão utilizados pelos acionistas para compra de novos equipamentos.