O consumo de blends conjugados de arábica e Robusta no torrado e moído, contribui para que eventos de disrupção na oferta em um dos tipos de café, possa afetar o outro
Desde 2021, o mercado de café Robusta em Londres tem experimentado
valorização de preços. No acumulado de 2021 até Dez/23, os preços do
Robusta apresentaram valorização de 123%, sendo que somente no ano
passado o mercado subiu 67%.
Sabemos que grande parte do movimento dos preços, especialmente em 2023, se deve a redução na oferta no Sudeste Asiático, notadamente no Vietnã e Indonésia, onde espera-se uma redução na produção de aproximadamente 3 a 4 milhões de sacas na soma dos dois países para o ciclo 23/24, fato que deve resultar em um novo déficit na relação oferta/demanda mundial na ordem de 3 milhões de sacas, mesmo com o Brasil podendo colher a sua maior safra de conilon da história em 2024.
A redução na produção na Ásia, associado ao crescimento contínuo da demanda mundial nos traz para um patamar onde a manutenção dos níveis de oferta no longo prazo não é capaz de sustentar o crescimento da demanda, sendo esse, “financiado” pela redução dos estoques. No caso do Vietnã, a produção tem ficado entre 27 e 31 milhões de sacos nos últimos 10 anos.
No ciclo 23/24 (Out/Set), a produção no Vietnã deverá representar cerca de 33% do consumo mundial, o menor patamar desde 2008, registrando uma queda de 1% em relação a 22/23 e 6% em relação a 21/22. Com um cenário incerto do lado da oferta no Vietnã, o aumento recorde das exportações de Conilon verde no Brasil nos últimos anos mostra que o país virou uma opção importante e viável para o comprador de robusta internacional. Destaca-se, neste contexto, que o elevado nível de tecnologia e gestão agrícola profissional empregado na produção têm colocado o Brasil não somente como uma alternativa, mas como um fornecer seguro de café para a indústria e o mercado internacional”.
Nesse contexto, o que tem chamado a atenção é como o mercado de café Arábica tem procurado se ajustar dado a situação vivida hoje no Robusta.
Mesmo ambos mercados tendo fundamentos distintos (NY e Londres) o fato da maior parte do consumo estar concentrada nos blends conjugados de arábica e Robusta no torrado e moído, contribui para que eventos de disrupção na oferta em um dos tipos de café, possa afetar o outro.
Desde 2011, quando a arbitragem negociou nos maiores níveis históricos, torradores começaram a testar a flexibilidade dos blends (quantidade de arábica/robusta no pacote de torrado e moído) buscando qual seria a tolerância do consumidor, dado o cenário em que 1 saca de arábica chegou a valer mais de 2 sacas de robusta, destacado pela seta laranja.
Assim como em 2011, em 2021 após os efeitos da geada no sul de minas terem elevado os preços em NY e a arbitragem ter negociado nos patamares de 140 c/lb vimos a participação do arábica cair nas importações da Europa.
Os fundamentos do Arábica, diferente o Robusta, apontam para outro crescimento na oferta em 2024, com o Brasil podendo chegar ao patamar de 46/48 milhões de sacas frente a 43 milhões em 2023.
Contudo, mesmo com os sinais dados do lado da oferta, indicando aumento na disponibilidade, o mercado viu os preços em NY sustentados, especialmente durante e após o período da florada em 2023 – entre Outubro e Dezembro de 2023 NY apresentou valorização de 3.500 pontos ou 23%.
É fato que episódios de altas temperaturas nas regiões produtoras e alguma irregularidade no regime de chuvas trouxeram preocupação e volatilidade em NY, contudo, os dados mostram que os níveis de precipitação dentro da média durante os meses de Outubro a Dez/23 e agora em janeiro/24 mostram que estamos no caminho para mais uma safra abundante de Arábica.
Nesse sentido, o mercado de Arábica que havia passado os últimos anos com a curva invertida, ou seja, os preços nos vencimentos curtos valendo mais que os mais longos, passou a trabalhar com carrego de 3% para 15 vencimentos. Em nov/23 esse carrego já havia aumentado para mais de 5% para os 15 vencimentos indicando crescimento das expectativas sobre a safra de Arábica no Brasil.
No mercado físico Brasileiro, seguindo a movimentação em NY a bica tipo 6 apresentou forte valorização de 27% no período de Outubro e Dezembro/23, teoricamente durante o período pós florada onde o mercado começava a olhar o potencial produtivo para 2024. Contudo, a surpresa foi a alta nos preços dos cafés mais baixos, com o 600 defeitos e o conilon 7/8 valorizando 20% no período.
No acumulado do ano, contudo, o bica tipo 6 acumulou uma queda de 2% enquanto o 600 defeitos caiu 16% e o Conilon 7/8, se manteve suportado e teve valorização de 10%.
Os gráficos acima ilustram como a valorização dos preços do conilon 7/8 (usado pela indústria de torrado e moído) trouxe suporte aos preços dos lowqualityarabicas no Brasil.
Assim como no mercado internacional, os preços no terminal de conilon no Brasil foram fortemente influenciados pelo contexto de oferta no Vietnã onde a saca de 60kg de Robusta teve valorização de 68% em 2023 chegando ao preço de US$ 170,40/saca ou R$ 835/saca. Na Indonésia os preços do Robusta subiram 77% em USD no acumulado ano de 2023. No Brasil o conilon 7/8 subiu 9% em R$ mas apresentou uma valorização de 20% em USD em 2023, fruto da queda do dólar frente ao R$, que saiu de 5.37 em jan/23 para 4.85 em Dez/23.
As disrupções de oferta observadas no Vietnã, e o fato do Brasil ter crescido nas exportações de Conilon verde, coloca uma pressão extra sobre o torrador que acaba se vendo como competidor das exportações, precisando manter os preços no mercado interno suportados para se manter competitivo contra o terminal que consistentemente se valoriza.
No gráfico abaixo vemos que o preço do Conilon 7/8 possui uma correlação de 75% com os preços do físico ao produtor no Vietnã na região de Daklak.
A correlação dos preços do conilon 7/8 com os preços no mercado interno no Vietnã se explica dado a dinâmica entre o torrador e exportador Brasileiro tendo como base de preço o terminal que é afetado pelas cotações de Londres e por sua vez, pela situação de oferta do maior exportador de Robusta do mundo.
Acesse o relatório completo clicando aqui.
Autor: Carlos Costa, Global Head of Sales da hEDGEpoint Global Markets
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