Aposentada usa o produto que normalmente é descartado para fazer e decorar peças como bandejas e caixinhas
Tisa Moraes
A destinação das montanhas de lixo produzidas pela atual sociedade de consumo ainda permanece um desafio para as autoridades e ameaça a saúde e o futuro do planeta. No entanto, há quem esteja utilizando o material descartado pela maioria da população para fazer artesanato. É o caso da funcionária pública aposentada Wandir Coelho, de 68 anos, que desde pequena trabalha com artesanato.
Há menos de um mês, a aposentada começou a aperfeiçoar a técnica de artesanato usando filtros de papel para coar café. “No ano passado, fui para São Paulo e lá conheci esse tipo de artesanato. Fiquei idealizando este trabalho por quase um ano e agora comecei a fazer as peças”, diz.
Depois de utilizados, a borra do café confere aos coadores um aspecto rústico com nuances exclusivas e Wandir aplica a técnica em bandejas e caixas de papelão, latas de batatas fritas, garrafas de vidro e estojos em madeira. “Reaproveito os coadores que utilizo em casa e também os que minhas amigas doam. Dá para brincar à vontade”, revela.
Para montar as peças, a artesã cola os filtros em pedaços (sem lavar previamente, eles apenas são limpos com uma escovinha depois de secos) e depois os impermeabiliza com cola branca. Para finalizar, ela passa uma camada de goma-laca ou verniz para dar brilho.
Também pelas mãos de Wandir, apoios para copo recolhidos dos bares ganham uma nova roupagem através das técnicas de vitral e decupagem (colagem). Latas de batatas fritas tonam-se porta-lápis e caixinhas de isopor ganham a função de caprichados porta-gelos. Jornais velhos viram divertidos incensários e caixas de papelão utilizadas pelos supermercados para acondicionar morangos se transformam em graciosas bandejas.
Reciclando idéias
Durante muitos anos, a arte teve um papel secundário na vida de Wandir, já que o tempo era escasso na época em que trabalhava na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) e tinha de cuidar de dois filhos. Foi somente após a aposentadoria, há 10 anos, que decidiu ocupar a mente e encher a alma com pura arte. “Fico de 8 a 10 horas por dia fazendo esse trabalho, sempre buscando materiais novos para fugir da mesmice”, confessa ela, que recolhe materiais descartados com as vizinhas, nos supermercados e até em restos de construção. “Quando saio na rua, estou sempre de olho no que pode ser aproveitado”, frisa.
Apesar de ser uma fonte de renda em potencial, os materiais recicláveis não são utilizados pela aposentada para ganhar dinheiro. “Faço porque me dá prazer. E a gente produz lixo demais. Em vez de jogá-lo fora, reciclo. E quase tudo pode ser reaproveitado: papelão, vidro, caixa de leite, de suco”, ensina.
No entanto, em todo mês de dezembro, ela prepara uma feirinha na garagem de sua casa, convida a vizinhança e comercializa o que produziu durante todo o ano. Desta vez, a artesã vai poder mostrar, além da beleza do seu trabalho, a importância do reaproveitamento de materiais que poderiam estar poluindo o ambiente.
O próximo desafio de Wandir será desenvolver uma nova técnica para reutilizar sacolas plásticas usadas em supermercados. “O volume de sacolas é muito grande e não dá para jogar tudo no lixo, né? Então, estou guardando todas até que surja a idéia. Enquanto isso, vou continuar reciclando os materiais e a minha vida”, finaliza.