Cidade de Patrocínio alia café com novas indústrias

16 de setembro de 2009 | Sem comentários Origens Cafeeiras Produção
Por: Valor Econômico

ESPECIAL
16/09/2009 
 
Desenvolvimento: Cidade mineira cria empregos na crise com a expectativa de receber investimentos

 
Cibelle Bouças, de Patrocínio (MG)

“Oi, ‘cê’ tá jóia? Aceita um ‘cafezim’? Quem vem pra Patrocínio não pode ir embora sem provar o café do cerrado.” Na maior produtora de café do cerrado do país, esse início de diálogo é ouvido em todo lugar que se visita. Recentemente, porém, duas frases foram acrescentadas à conversa trivial. “‘Cê’ já tá sabendo da Fosfertil? O quê que já te contaram?” A cidade do Triângulo Mineiro que nasceu de uma fazenda para abastecer os bandeirantes e ainda hoje amanhece com o canto dos pássaros, inicia um novo ciclo econômico. Focada na pecuária leiteira até a década de 1970, Patrocínio investiu na produção de café nas últimas quatro décadas e obteve em 2005 a certificação de origem de café do cerrado, o que lhe permite exportar a preços mais altos.


Este ano, o município recebeu sinais claros de investimentos industriais na exploração da mina fosfática que faz divisa com Salitre de Minas. A Fosfertil iniciou a compra de terrenos onde se localiza a mina, que tem capacidade de exploração de 2 milhões de toneladas de rocha. A empresa também concluiu o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), que foi entregue à Superintendência Regional de Minas Gerais – Regional Triângulo, para obtenção da licença prévia para o início das obras. O projeto é orçado em R$ 2 bilhões e inclui a construção de um complexo industrial químico para processamento – este último, ainda sem local definido, segundo informou a empresa.


A Galvani também realiza estudos em duas áreas de exploração da jazida. O projeto está orçado entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, mas está em fase inicial.

Foto Destaque



 


Outra empresa que negocia sua instalação no município é a Metade Sul, representante no Brasil da Jiangsu Yueda Investiment, um dos cinco maiores fabricantes de tratores da China. A Metade Sul mantém uma unidade em Pelotas (RS), onde monta tratores de pequeno porte. A demanda por pequenos tratores cresceu no Centro-Oeste e no Sudeste e a empresa já avalia a instalação de uma montadora na região Sudeste.


“Patrocínio está próxima de Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo, é favorecida pela rodovia BR 365 e pela malha rodoviária. A cidade está em um lugar privilegiado para atrair empresas”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Thiago Oliveira. A prefeitura ofereceu a cessão de um lote de 40 mil metros quadrados. A empresa busca incentivos fiscais com o governo do Estado e financiamento bancário.


A perspectiva de investimentos na área industrial e as contratações para a colheita do café fizeram com que Patrocínio se situasse entre os municípios que mais geraram empregos formais no país neste ano. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Patrocínio ficou entre as 40 cidades com maior saldo de geração de postos de trabalho com carteira assinada – excluindo as capitais, foi a 17ª maior contratadora. De janeiro a julho, o saldo ficou em 3.484 novas vagas, ante 3.457 em igual intervalo de 2008. Do total, 3.454 foram criadas pelo setor agropecuário e 36 pelo comércio. O número é próximo ao de emissão de carteiras de trabalho na cidade, 2.261 no ano.


“A produção mecanizada do café e a fiscalização do governo para que os contratos sejam com carteira fizeram com que muitos produtores trabalhassem com um quadro fixo de funcionários”, afirma o presidente da Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa), Marcelo Queiroz. Segundo a entidade, que reúne 700 cafeicultores, no período de colheita (maio a setembro), são contratados em torno de 20 mil temporários, que se somam aos 5 mil trabalhadores fixos. Até a década passada, esse número chegava a 80 mil, o que, no pós-colheita, provocava índices altos de desemprego e pobreza ao município.


A redução significativa na contratação de temporários permitiu ao município se expandir com a melhora em índices de qualidade de vida. Conforme dados da prefeitura e do Ministério das Cidades, a população passou de 73.130 habitantes na década de 90 para 81.580 em 2000 e número próximo a 86 mil atualmente. Nesse intervalo, a taxa de urbanização subiu de 86,1% para 87% e 100%. O percentual de pobres caiu de 48,1% em 1990 para 23,9% em 2000. E o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) subiu de 0,716 para 0,799. Na cidade não existem favelas, nem moradores de rua.


Patrocínio representa o modelo típico de cidade de pequeno porte no país, com grande concentração de empregos nos setores agrícola e público, que associados ao Bolsa Família constituem as três principais fontes de geração de renda no setor privado.


Na área pública, o orçamento municipal é sustentado sobretudo pelo repasse de verbas do Fundo de Participação de Municípios (FPM, de origem federal e que representa 45% da receita total) e do ICMS (estadual, que responde por 40% do orçamento).


O aprofundamento da crise refletiu-se no orçamento da prefeitura, diz o prefeito de Patrocínio, Lucas Campos de Siqueira (PPS). Neste ano, houve queda de 18% a 20% no repasse do ICMS, de 12% a 15% no repasse do FPM e redução de 25% na arrecadação de impostos municipais. “Os indicadores apontam uma tendência de melhora, mas o orçamento para 2010 ainda será bastante enxuto.”


O orçamento de 2009, que estava previsto em R$ 128 milhões, não passará de R$ 95 milhões, calcula Siqueira. Por conta da perda na arrecadação, obras de recapeamento e saneamento e a ampliação de um programa de esportes para estudantes foram adiadas. Para o próximo ano, a prefeitura e a Câmara Municipal aprovaram orçamento de R$ 130 milhões, incluindo R$ 30 milhões de empréstimos para a realização dessas obras.


Mesmo com orçamento menor, o município foi beneficiado com obras de infraestrutura que, segundo o secretário de Desenvolvimento, Thiago Oliveira, permitirão o chegada de indústrias e de possíveis trabalhadores sem a piora na qualidade de vida local.


O Departamento de Água e Esgoto de Patrocínio investe na construção de duas estações de tratamento. O projeto recebeu financiamento de R$ 8 milhões do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. O superintendente do órgão, Luciano Queiroz Filho, diz que 80% do esgoto é tratado e, com as obras, 100% dos efluentes receberão tratamento. No setor educacional, a prefeitura fechou convênio para a instalação de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifet), que oferecerá cursos técnicos e de graduação gratuitamente.


Na área de habitação, a prefeitura deu continuidade ao projeto do governo anterior de construção de 1 mil casas populares. Neste ano foram entregues 400 casas e outras 267 serão concluídas até o fim do ano. O município também foi incluído no programa federal Minha Casa, Minha Vida, com previsão de construção de 2 mil unidades urbanas e rurais. “Para essas casas serão selecionados moradores beneficiados pelo Bolsa Família”, diz a secretária de Desenvolvimento Social, Marly Ávila. O Bolsa Família atende a 3.987 famílias, 600 a mais que em 2008. Para o próximo ano, a expectativa é que outras 1.555 famílias entrem no programa.


Alessandra Gonçalves de Faria, que trabalha como coletora no Frigorífico Aliança, foi beneficiada pelo Bolsa Família quando estava desempregada e há dois anos entrou no programa de casas populares da prefeitura. Há menos de um mês mudou-se para a nova casa, no bairro Enéas Aguiar. “Se não fosse pelo programa eu ia demorar muito a conseguir. Antes eu pagava R$ 200 de aluguel. Aqui o financiamento é de R$ 50 para pagar em seis anos. Se fosse pela Caixa eu ia pagar em 30 anos”, compara.


 


ESPECIAL
16/09/2009
 
Diversificação garante ano bom para agricultor
 
 
De Patrocínio (MG)
Na terra do café, produtores que diversificaram as lavouras mantiveram praticamente estável o faturamento na safra 2008/09 e esperam ganhos de receita até o fim do ano. A Cooperativa Agropecuária de Patrocínio (Coopa), com 1.836 produtores de Patrocínio, Serra do Salitre e Coromandel e 219 funcionários, apostou na ampliação dos negócios no período de crise e deve encerrar o ano com alta de 13% a 14% no faturamento, que em 2008 foi de R$ 101 milhões – um dos maiores do município.


“O resultado no primeiro semestre ficou 2% abaixo do faturamento do ano passado, quando a captação de leite foi maior e o preço estava mais alto. Mas agora com a recuperação econômica e a queda nos preços dos insumos vai ser possível aumentar os ganhos e fechar o ano dentro da meta de crescimento”, afirma Renato Nunes dos Santos, presidente da Coopa.


Fundada em 1961 por 23 pecuaristas, a cooperativa integra produtores de café, milho, frutas e hortaliças, pecuaristas, suinocultores. A principal fonte de renda ainda é o leite – a Coopa detém 27% de participação acionária na mineira Cemil – e a captação está em 140 mil litros por dia neste ano, 6,7% menos que em 2008. Já o preço ao produtor, segundo levantamento da Scot Consultoria, subiu 31,6% desde fevereiro deste ano, chegando a R$ 0,758 por litro em agosto. Em relação a agosto do ano passado, a alta foi de 12%.


A cooperativa mantém ainda uma fábrica de ração e suplementos minerais, um armazém graneleiro, um posto de gasolina, uma loja de conveniência, um supermercado e três lojas veterinárias. Desde novembro a cooperativa contratou 21 pessoas, reduziu as margens de rentabilidade e ampliou a prestação de serviços aos cooperados. O resultado foi a inclusão de 320 cooperados. “A cooperativa passou bem pelo período de crise e isso atraiu mais produtores. Em vez de encolher, ela se expandiu. O segredo para superar uma crise é levantar mais cedo e dormir mais tarde”, diz Santos.


A Agro Beloni, empresa agrícola familiar fundada em 1995 e que mantém 150 funcionários, está conseguindo manter o mesmo nível de faturamento do ano passado graças à diversificação de lavouras. Fernando Beloni, um dos três sócios, mantém a tradição da família, de Vargem Grande (SP), e dedica-se à produção de batata, milho, soja, trigo, café, feijão e eucalipto, em duas fazendas e áreas arrendadas, num total de 2,5 mil hectares – mesma área ocupada na safra passada. “A região do cerrado é ideal para produção de hortaliças de clima temperado, porque tem as estações do ano bem definidas, é alta (de 800 a 1.200 metros de altitude) e plana, o que permite a mecanização”, diz Beloni. A empresa colheu neste ano 30 mil toneladas de batata, 7 mil toneladas de milho e 1,5 mil toneladas de soja e, segundo o sócio, deve repetir a receita de 2008, cujo valor é mantido em sigilo.


Os produtores de café, que são cerca de 700 no município, viram o preço cair este ano. “Em 2008 o café chegou a ser operado a R$ 350 a saca, hoje está saindo entre R$ 250 e R$ 260, sem contar a quebra de safras”, diz o superintendente do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (Caccer), José Augusto Rizental.


Neste ano, a colheita em Patrocínio é estimada em 350 mil sacas. Na safra anterior foram 600 mil sacas, informou a Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa). Desse total, 80% serão exportados e outros 20%, vendidos no mercado interno. O custo de produção está 11% mais alto que na safra passada e é preciso colher 21 sacas por hectare para pagar os custos, excluindo gastos com depreciação. A produtividade está em torno de 24 sacas por hectare. “Incluindo as dívidas de financiamento, dá para fechar o ano no zero a zero”, diz Rizental. (CB)


 


Gripe suína atrapalha mais o comércio que a crise mundial
 
 
De Patrocínio (MG)
A crise financeira internacional exerceu efeitos sobre o varejo de Patrocínio. Empresas locais relatam queda nas vendas entre 10% e 30% nos cinco primeiros meses do ano. A recuperação começou a se dar em junho. Nas últimas semanas, porém, o avanço da gripe suína esvaziou as lojas.


“As vendas estão 30% menores e por causa da gripe as pessoas não saem de casa e não fazem mais festas, que geravam boas vendas para a loja”, diz Celuta Nasser, gerente da franquia da Cacau Show. “Existe uma perspectiva de melhora no fim do ano. Mas o Dia das Mães e Dia dos Namorados ficaram prejudicados. Fica difícil fechar o ano com o mesmo resultado de 2008.”


O comitê de acompanhamento da gripe suína da prefeitura registrou 146 casos suspeitos na cidade. Por conta do avanço da doença, o governo proibiu a realização de eventos até 15 de outubro.


As farmácias brindaram a demanda extra. “Chegou a faltar álcool-gel em agosto. Agora é que o estoque normalizou”, diz Jeovane Borges, diretor e sócio da rede Farmácia Nacional, a maior da cidade, com seis lojas em Patrocínio e outras seis em Araxá, Patos de Minas e Paracatu. Devido à falta de álcool-gel fornecido pelas indústrias, Borges investiu na produção própria para atender à demanda. As vendas do produto compensaram a queda nas vendas de antigripais.


A rede manteve o mesmo faturamento de 2008 e abriu duas lojas em Patos de Minas e uma em Paracatu. “Algumas redes grandes estão investindo nas cidades do interior. Decidimos crescer e profissionalizar a administração para fazer frente a essa concorrência”, afirma.


Enio Rizzatti, dono da loja de confecções Bem Menos, observou uma recuperação nas vendas da loja, que mantém há 20 anos e emprega 18 funcionários. “Quando surgiu a crise as vendas caíram em média 20%. Em maio, as vendas tiveram queda de 15% e daí para frente, de 10% em comparação com o ano passado”, diz Rizzatti, que espera fechar o ano com o mesmo resultado de 2008.


Marco Wendell Duarte Frazão, presidente da Associação Comercial e Industrial de Patrocínio (Acip), diz que a safra menor de café provocou redução na renda média da população. A remuneração mais baixa e o receio dos efeitos da crise sobre a economia local também ajudaram na retração das vendas no primeiro semestre. Ainda assim, no acumulado do ano o desempenho é positivo, diz.


Os dados de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) registraram aumento de 9,8% no acumulado de janeiro a agosto em comparação com 2008. Em agosto, o volume de consultas cresceu 13,9% em relação ao mesmo mês de 2008 e 8,8% em comparação com julho. “A expansão da demanda na construção civil e a redução do IPI têm ajudado a elevar a demanda no varejo. Acredito que com a vinda de indústrias a oferta de empregos e as vendas do varejo vão aumentar”, diz o presidente da CDL, Walter Bernardes Júnior. (CB)


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