Campinas fica 0,2°C mais quente a cada dez anos

Por: Correio Popular

CIDADES
26/05/2009
 
Campinas fica 0,2°C mais quente a cada dez anos
Em 119 anos, as médias mínimas cresceram 2,7°C e as máximas, 1,5°C
 
Maria Teresa Costa
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
teresa@rac.com.br


A temperatura em Campinas vem crescendo 0,2°C a cada dez anos desde 1890, quando começaram as medições pelo Instituto Agronômico (IAC). Nesses 119 anos, as médias mínimas aumentaram 2,7°C e as máximas subiram 1,5°C, o que é muito, segundo o pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura (Cepagri) Hilton Silveira Pinto. Essa elevação na temperatura, disse ontem durante a segunda edição do Projeto Sustentar, que termina hoje na Casa de Campo do Royal Palm Plaza Hotel, é resultado direto das mudanças climáticas mundiais.


“Não dá para atribuir ao efeito da urbanização, das ilhas de calor da cidade provocadas pelo adensamento populacional porque o dados históricos de temperatura são medidos em área rural. No caso de Campinas, as medições são na Fazenda Santa Elisa”, afirmou. A pesquisadora do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) Maria Assunção Faus da Silva Dias calcula que, se as medições fossem feitas no Centro, a elevação seria muito maior, algo como 2°C a 3°C acima do registrado na área rural.


Nos últimos 119 anos, a média anual era de 40 dias com temperatura inferior a 10°C. Hoje, conforme Silveira Pinto, a média é de 12 dias com menos de 10°C. Uma pesquisa anterior, feita pelo professor Tércio Ambrizzi, do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP, com base nas médias mínimas e máximas verificadas em Campinas, apontou que, nos últimos 50 anos, a freqüência de noites quentes passou de 5% para 35% e o frio está ficando cada vez mais raro: nos anos 70, em 30% dos dias, o campineiro precisou de agasalho para sair às ruas, mas agora isso só ocorre em 10% dos dias. Em 1970, segundo a pesquisa, foram 30% de dias com temperaturas abaixo de 16,8°C e, em 2002, em apenas 5% os termômetros registraram abaixo deste patamar. Já as noites quentes, com temperaturas acima de 28°C aumentaram de 5% em 1950 para 35%.


Com o aquecimento global, dizem os pesquisadores, em um futuro próximo, espera-se cenário de clima mais extremo, com secas, inundações e ondas de calor mais frequentes. A elevação na temperatura aumenta a capacidade do ar em reter vapor d’água e, consequentemente, há maior demanda hídrica. Em resposta a essas alterações, os ecossistemas de plantas poderão aumentar sua biodiversidade ou sofrer influências negativas. Impactos como a elevação do nível dos oceanos e furacões mais intensos e mais frequentes também poderão ser sentidos.


Alteração no clima afetará a produção de alimentos


Aquecimento diminuirá terra cultivável e provocará a migração das culturas


Estudo coordenado pelo agrometeorologista Eduardo Delgado Assad, da Embrapa Informática Agropecuária, e pelo professor Hilton Silveira Pinto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Cepagri, aponta que a oferta de terras para a agropecuária terá uma redução de 5,3% no País e, no Ceará, de 80% por causa do aquecimento global. Várias culturas sofrerão impactos.


Nove das principais culturas brasileiras, responsáveis por 86% do total de área plantada no País — algodão, arroz, café, feijão, girassol, mandioca, milho e soja, além da cana-de-açúcar — foram analisadas, levando em consideração dois cenários de temperatura previstos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC): aumento de temperatura de 1,4°C a 3,8°C no fim deste século (cenário mais otimista) ou com altas de 2°C a 5,4°C (pessimista).


Assad disse que a cultura de soja deve desaparecer do Sul do Brasil. O café buscará climas mais frios e, portanto, deve descer para os estados do Sul, reduzindo a área de cultivo em São Paulo e Minas Gerais. O café arábica, que aborta flores em altas temperaturas, é outro cultivo fragilizado, situação que pode ser revertida com a introdução do café robusta, mais resistente.


Em 12 anos, o milho pode ter uma redução de 12% na área favorável ao plantio, enquanto o arroz e o feijão, em um cenário mais otimista, devem ter perdas da ordem de R$ 368 milhões e R$ 155 milhões, respectivamente. O girassol deverá desaparecer no Sul. No Nordeste, o cultivo de algodão poderá se tornar impossível em 2050. (MTC/AAN)

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