CAFÉ – Quando defeitos viram qualidades

25 de fevereiro de 2007 | Sem comentários Novas Tecnologias Tecnologias
Por: Fonte: L´Express

O presidente da Illycafé, Ernesto Illy, costuma dizer que, como cientista, não entende por que uma maçã estragada é retirada de uma caixa, mas um grão de café estragado vai parar na xícara do consumidor. Ele próprio, a partir da lógica de que os grãos defeituosos podem ser isolados dos lotes, garantindo sua qualidade e, consequentemente, uma maior aceitação pelos consumidores, foi o primeiro a propor, ainda em 2000 a eliminação de defeitos do café, como forma até de regular a oferta do produto. Em tese, seriam eliminados também os estoques excedentes que vêm derrubando a cotação do café no mercado internacional.


Para Aldir Alves Teixeira, consultor científico da Illycafé, a proposta de eliminação de defeitos é audaciosa, mas viável, e indica um futuro menos turbulento para o café do Brasil.


De acordo com Teixeira, a proposta se justifica nos cenários da exportação e do consumo interno. No primeiro, se a média da produção nacional é de cafés dos tipos 7/8 (com 260 defeitos), mas deseja-se exportar cafés do tipo 3 (com 12 defeitos), deve-se eliminar 248 defeitos (260-12 = 24). Projetando-se essa conta para 19 milhões de sacas, que é a previsão de exportações para 2001, então seriam retirados desses lotes 3,8 milhões de sacas, levando-se em conta que o peso dos defeitos representa uma perda estimada de 20%. Sobrariam 15,2 milhões de sacas.


No cenário do consumo interno, vale a mesma lógica: sabendo-se que o mercado trabalha com um café tipo “tradicional” de 700 defeitos, mas tomando-se a meta do Programa de Educação do Mercado (PEM), da Abic, que é a oferta de um café tradicional com 360 defeitos, seriam assim retirados 340 defeitos. Se o consumo interno, em 2001, for de 13,5 milhões de sacas, a quebra seria de outros 3,8 milhões de sacas, ou 28% (proporcionais ao peso dos defeitos).


Os principais defeitos a serem retirados, que realmente prejudicam a qualidade do café, de acordo com Aldir Teixeira, são os pretos, verdes, preto-verdes e ardidos.


“Juntando-se toda a produção para exportação e consumo interno, teríamos, com isso, uma retirada total de 7,6 milhões de sacas”, calcula Teixeira.


Duas perguntas


Duas perguntas se impõem aqui:


O que aconteceria com o mercado com a redução de oferta? Provavelmente os preços deixariam de cair e o produto oferecido seria de melhor qualidade.


O que fazer com as sacas de defeitos que seriam retiradas e que teriam algum valor comercial? Estuda-se o seu aproveitamento em um projeto de inovação tecnológica, a ser desenvolvido no âmbito do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Os objetivos do projeto, se concretizados, abririam perspectivas promissoras para a utilização dos defeitos na produção de óleo comestível e industrial, cosméticos, aromatizantes, adubo, combustível, e outros.


Segundo a pesquisadora científica do ITAL, Marta Taniwaki, em breve saem os primeiros dados capazes de mostrar a viabilidade dessas aplicações. “Nós já temos a tecnologia de extração de óleos de grãos de café”, afirma Marta. “O óleo do café torrado poderia ser um aromatizante; e do café verde se extrai um óleo aproveitável na cosmética. Mas precisamos avaliar as propriedades químicas desses óleos”, explica.


Se tais perspectivas se confirmarem, os defeitos abrirão novas frentes de produção na indústria e a cafeicultura terá a oferecer um café de melhor qualidade. “Certamente o preço será melhor para o produtor e o consumidor ganhará um produto realmente qualificado. Em suma, terá mais prazer em saborear um gostoso cafezinho”, conclui Teixeira.


 
 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.