por Laire José Giraud * |
Santos já não tem os excelentes serviços dos bondes do início do século passado nem a Rua do Comércio abriga a centena de escritórios de corretagem de café. Mas um outro café, até os dias de hoje, continua resistindo aos efeitos do tempo. É o Café Paulista, o mais antigo estabelecimento da cidade, que completou no último dia 25 de março, 95 anos de vida. Vale lembrar que para os aficionados dos bondes voltou a circular já há alguns anos o bonde turístico que faz o passeio pelo Centro Histórico da Cidade. No momento, o percurso está sendo ampliado. O espanhol Manoel Rodrigues Gil, o conhecido Manolo, divide com o irmão, José Antonio, a propriedade do restaurante. “Comecei a trabalhar aqui, em 1950, na copa do café. Nunca mais saí”, conta Manolo. Como lembrança daquela época, ele guarda o tempo em que as mesas eram de mármore e quando os operadores do comércio de café eram maioria na clientela.
Os clientes, rigorosamente vestidos de terno e chapéu, experimentavam algumas modalidades de café. A média comum era cuidadosamente preparada em partes iguais de café e leite. A moda francesa era apenas um pingo de café, e à moda inglesa, com um pingo de leite. Na bandeja dos garçons iam três leiteiras, uma para água quente, outra para café e a última para leite. O Café Paulista tem clientes antigos e fiéis. O historiador Jaime Caldas conta que freqüenta o café desde os anos 40. Na época não tinha esse negócio de tomar café no balcão. Os garçons serviam nas mesas, com muita cortesia, acompanhado de bolo de fubá.
O Café Paulista foi um dos sobreviventes de uma época em que o Centro da cidade era o coração dos negócios, da boemia e do lazer. Dos grandes cafés e restaurantes do início do século, como o Espéria, o Marreiro e o Boêmia, o Paulista venceu o tempo. E prova que ainda hoje, com uma das melhores cozinhas da cidade, que tem muito fôlego e charme para oferecer. Como disse em artigo recente, durante alguns anos da Década de 90, costumava, no final da tarde, dirigir-me para o conhecido Café Paulista, que fica no início da Rua do Comércio, no Centro Histórico de Santos. Nesse famoso local da Cidade, costumava sentar-me na companhia de pessoas que apreciavam as coisas de Santos, como o poeta Narciso de Andrade, Waldemar Capella, Jaime Caldas, Dario Gonçalves e Waldir dos Santos (falecido), entre muitos que apareciam esporadicamente, mas que apreciavam as coisas santistas. As conversas variavam muito, pois os assuntos – com um pouco de exagero – pendiam para o infinito. Assim conversávamos até onde a nossa memória alcançasse sobre assuntos como cinemas do passado, bares e restaurantes, cinemas, lojas, clubes, firmas exportadoras de café que não mais existiam, colégios, antigas namoradas, entre outros. Finalizando, os leitores que não conhecem o Café Paulista, vale a pena visitá-lo, pois sentirão no local, algo como um elo, ligando o presente ao passado. A imagem mostra dois classificadores de café, das inúmeras |
* Laire José Giraud é despachante aduaneiro, colecionador de cartões-postais da Cidade e de transatlânticos antigos. Colaborador da Revista de Marinha de Portugal. Publicou cinco livros, como autor e co-autor, sobre temas da Santos antiga. |