CAFÉ: ANÁLISE DA SAFRA DE GERENTE DA COOXUPÉ RENOVA TEMORES EM NY

3 de dezembro de 2007 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Agência Safras

Depois de preocupações com o clima seco no Brasil no inverno até praticamente o começo de outubro, o mercado internacional de café, balizado pela Bolsa de Mercadorias de Nova York, se tranqüilizou com a volta das chuvas. O mercado vinha com preços em elevação com os temores climáticos, já que a florada estava ameaçada, e assim a safra 2008/09, que será colhida ano que vem, se tornava um problemão. Ainda mais que depois de uma safra pequena este ano (2007/08), devido ao ciclo bienal da cultura cafeeira no Brasil, o país precisa de uma boa produção ano que vem para abastecer o mercado com mais tranqüilidade. 

Então, com o retorno das chuvas, as floradas abriram e o mercado acalmou-se. Não apenas acalmou-se, porque naturalmente os preços desabaram com o sentimento de que a safra brasileira poderá confirmar seu potencial no próximo ano. E falando em potencial, a Bolsa de NY recorda imediatamente da safra 2002/03, quando o Brasil colheu 48,5 milhões de sacas segundo a Conab (Companhia Nacional do Abastecimento) e mais de 50 milhões de sacas de acordo com outras estimativas. Este ano (2007/08) a safra ficou em apenas 42,5 milhões de sacas, cortando drasticamente os estoques mundiais.

No entanto, sensível a informações como é, NY voltou a ter fortes ganhos na quarta-feira com uma notícia que renovou as preocupações com a safra brasileira. Em entrevista à Agência SAFRAS, o gerente de desenvolvimento técnico da maior cooperativa de café do Brasil e do mundo, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), Joaquim Goulart, disse que a safra de café 2008/09 do sul de Minas Gerais e do Brasil não tem de forma alguma como chegar ao volume colhido em 2002/03. Essa notícia fez com que a Bolsa de Nova York fechasse com alta de quase 3% na quarta-feira (28/11). E daqui pra frente o mercado seguirá acompanhando de perto as informações sobre a nova safra brasileira. Na próxima semana, SAFRAS & Mercado divulgará seu levantamento sobre a produção 2008/09, bem como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Dezembro também marca a divulgação da primeira estimativa da Conab para a safra.

Joaquim Goulart ressaltou que a safra está bem mais parecida com a que foi colhido em 2006/07 no Brasil (42,512 milhões de sacas – Conab), mas não atinge de jeito nenhum 2002/03. “Estamos torcendo para que até passe os números de 2006/07, mas está difícil”, lamentou Goulart. Lembrou que as lavouras das áreas de atuação da Cooxupé, que envolve o sul e cerrado de Minas Gerais e parte de São Paulo, enfrentaram um longo déficit hídrico até setembro, além de outros problemas.

Goulart destacou ainda que em 2002/03 o Brasil colheu 48,5 milhões de sacas (Conab) com uma área de 2,310 milhões de hectares, e produtividade de praticamente 21 sacas por hectare. Hoje a área é menor, avaliou Goulart, colocando que em 2007/08 a produção indicada foi de 32,6 milhões de sacas, com área de 2,059 milhões de hectares e produtividade de 15,84 sacas/hectare. O Brasil poderia repetir o desempenho de 2006/07, tendo uma produtividade próxima de 20 sacas por hectare, mas não há como alcançar a produtividade de 21 sacas por hectare de 2002/03. 

“Não houve expansão de áreas de café. Além disso, desde 2002 tivemos uma seqüência de safras abaixo do potencial, devido a condições climáticas adversas e tratos culturais piores (em função da falta de recursos dos produtores na crise de baixos preços de 2001/2005)”, analisou o gerente da Cooxupé. 

A Cooxupé tem feito o georeferenciamento das áreas de café (por satélite) e Goulart advertiu que tem se observado nos primeiros municípios avaliados que a área está inclusive dando de 10% a 15% abaixo do que é oficialmente divulgado. Já foi feito o trabalho em Guaxupé, Monte Santo, Guaranésia e Arceburgo e a avaliação terá seqüência. Nos anos de crise, muitos produtores trocaram suas áreas de café por soja, milho e cana-de-açúcar, entre outras culturas, defende o gerente.

“Até produzirmos mais que em 2006/07 está difícil com os problemas enfrentados. E o problema é que precisamos de safras médias acima de 40 milhões de sacas diante dos nossos compromissos com o consumo interno e exportações”, disse Goulart. Ele observou que as lavouras ainda vão passar por fases críticas antes da colheita em 2008 e que é temeroso se falar em números mais precisos de safra.

O gerente falou ainda que os produtores têm reclamado muito do que estão vendo nos cafezais. “A quebra para o próximo ano está se confirmando”, aponta. Ele indicou que as floradas foram intensas depois que as chuvas vieram. “Mas flor não é café”, alertou Goulart. O pegamento das floradas não foi o esperado em função do déficit hídrico acentuado. As lavouras mostraram-se com elevado índice de desfolha. “O produtor sabe disso. Quanto o cafezal está bem enfolhado, a flor pega”, afirmou, destacando que grande parte das lavouras tiveram desfolha devido à seca.

Joaquim Goulart comentou que, enquanto as regiões de menor altitude sofreram mais com o déficit hídrico, as de maior altitude e que tiveram melhor pegamento das floradas agora estão enfrentando problemas com doenças fúngicas. Devido à ocorrência de baixas temperaturas e ventos e da falta de disponibilidade de produto para o combate a doença (fungicida), houve condições propícias à evolução da phoma na região de atuação da Cooxupé. “A phoma já prejudica o potencial produtivo. É preocupante, porque atingiu as regiões mais altas que tiveram melhor pegamento da florada”, lamentou Goulart. Mesmo que o produtor queira fazer o controle fúngico, está difícil encontrar o fungicida no mercado, até porque agora a procura está maior com a incidência mais forte da phoma.

Afora tudo isso, os preços atuais do café estão desestimulando um maior investimento em tecnologia na lavoura, com uso de fertilizantes e defensivos, afirma o gerente de desenvolvimento técnico da Cooxupé, Joaquim Goulart. Goulart citou que em 2007 aumentou o uso de fertilizantes e defensivos contra o ano anterior, mas ainda é bem abaixo do que se via em 1999/00, e que garantiu a safra grande de 2002/03. 

Levantamento da Cooxupé do consumo de defensivos e fertilizantes mostra justamente isso. Em 1999, os produtores investiram US$ 4,96 por saca em defensivos e 42,88 quilos de fertilizantes por saca produzida. Estes índices caíram durante a crise, de 2001 a 2004. Em 2006 houve nova queda no uso depois de um ano de maior investimento em 2005. Os números de 2006 mostram um investimento de US$ 3,53 por saca em defensivos e de 31,29 quilos por saca de fertilizantes. Esses índices relativamente fracos de 2006 ainda poderão se refletir na safra que será colhida ano que vem, embora em 2007 tenha melhorado o uso de insumos.
(LC)

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