Boletim climatológico: chuvas um pouco abaixo da média em fevereiro pode comprometer a qualidade final dos cafés na próxima safra

No Brasil, as chuvas devem continuar em janeiro, mas com redução ao final do mês e também em fevereiro.

(Viçosa – 18/1/2021) No Brasil, as chuvas devem continuar em janeiro, mas com redução ao final do mês e também em fevereiro. Com a continuidade do fenômeno La Niña as chuvas poderão ficar abaixo da média em quase todo o país. Diante do atual cenário climático futuro, o valor da saca de café voltou a subir e existe uma tendência de os preços serem melhores nos próximos meses. 

Condições consistentes ao La Niña

As condições de La Niña persistem e devem continuar ao longo de fevereiro, já que a convecção dos ventos próximo à linha de data no Pacífico equatorial tem se mantido abaixo do normal, com os ventos alísios um pouco mais fortes, características próprias dos eventos La Niña.

A chuva padrão em fevereiro de 2021

Figura 1. Climatologia das chuvas no Brasil no mês de fevereiro. Na área em marrom o volume de chuvas esperado é entre 300 e 500mm; em verde escuro, entre 150 e 300mm; em verde água, entre 50 a 150 mm e em verde claro entre 25 a 100 mm.

Quando a distribuição das chuvas ocorre dentro da normalidade, no mês de fevereiro, é esperado que chova entre 25 a 100 mm entre na faixa verde claro, que inclui o norte do Espírito Santo, o nordeste de Minas Gerais, o leste da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e o leste do Ceará. Entre 50 a 150 mm, na faixa verde água que vai do norte de Minas Gerais ao oeste da Bahia, sul do Piauí e noroeste do Rio Grande do Norte; bem como o oeste do Mato Grosso do Sul, parte central do Paraná, quase todo o estado de Santa Catarina e as partes norte e sul do Rio Grande do Sul, extremo norte do Amazonas e Pará, Roraima e oeste do Amapá. Na faixa verde escuro estão as demais regiões do Brasil onde a média de chuva fica entre 150 e 300 mm; e nas áreas em marrom, locais em que a média de chuva no mês costuma ser entre 300 e 500 mm, Amazonas, Pará e Maranhão (Figura 1).

A tendência da chuva em fevereiro de 2021

É esperado que neste ano as chuvas no próximo mês fiquem dentro ou pouco abaixo da média em toda a área em laranja; e dentro ou pouco acima da média em toda a área em verde claro (Figura 2).

Figura 2. Maior probabilidade de ocorrência de chuvas dentro ou acima da média (área verde) e de chuvas dentro ou abaixo da média (área laranja).

A chuva nos próximos dias de janeiro

A chuva pode continuar ao longo do Brasil nas próximas semanas com redução no volume esperado à medida que se aproxima do final de janeiro. (Figura 3).

Figura 3 (A e B). Possibilidade de ocorrência do volume chuvas entre os dias 18 a 26 de janeiro (A) e de 26 de janeiro a 03 de fevereiro (B). Weather and Climate Data – GrADS/COLA (http://wxmaps.org/).

Todavia, conforme pode ser observado na Figura 4, há possibilidade de redução (tons marrons) e de aumento (tons verdes) no volume de chuvas nessas duas próximas semanas. São as possíveis anomalias das chuvas em relação ao volume médio esperado para o período.

Figura 4 (A e B). Possibilidade de anomalias no volume chuvas entre os dias 17 a 23 (A) e de 24 a 30 (B) de janeiro. National Weather Service – Climate Predictor Center – NOAA (https://www.cpc.ncep.noaa.gov/).

Temperaturas em fevereiro de 2021

É esperado que as temperaturas ocorram acima da média em todo Brasil, com exceção da área em verde claro que vai do extremo oeste do Estado de Rondônia, passa pelo Acre, o oeste do Amazonas, Roraima, noroeste do Pará e norte do Amapá (Figura 2). Nessa faixa é esperado que as temperaturas ocorram abaixo da média do mês de fevereiro.

O café

O atraso do início das chuvas nas principais regiões produtoras de cafés do país contribuiu para que o controle de plantas espontâneas, as pulverizações e outros tratos culturais fossem prejudicados, dificultando a recuperação dos cafezais. A possibilidade de chuvas pouco abaixo da média e temperaturas acima da média em fevereiro pode comprometer o período de enchimento dos grãos e, consequentemente, a qualidade final dos frutos da próxima safra. 

O produtor deve estar mais atento às lavouras que foram podadas. A atenção deve ser redobrada nas “desbrotas”, nas pulverizações para controle das deficiências, principalmente, de boro e zinco, e no controle de pragas e doenças. Nos plantios novos, a atenção deve se voltar para o “pegamento” das mudas, pois existe a possibilidade de morte de mudas recém-plantadas caso se confirme a previsão de chuvas pouco abaixo da média e temperaturas acima da média. 

Neste caso, recomenda-se o uso de irrigação ou outros recursos que o produtor disponha para minimizar o impacto do clima mais quente e seco. Caso o clima venha a ser desfavorável para a cafeicultura, pode haver redução da produção brasileira de café arábica na próxima safra. Nos últimos dias os preços voltaram a subir e existe uma tendência de serem melhores nos próximos meses. Diante do atual cenário, recomenda-se que os produtores façam suas vendas parceladas, de acordo com suas necessidades, e retenham os cafés de melhor qualidade para serem vendidos posteriormente. 

Prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET (5º DISME)/CPTEC-INPE. 

O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a EMBRAPA Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

Williams Ferreira – Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. – williams.ferreira@embrapa.br 

Marcelo Ribeiro – Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br

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