ARTIGO CAFÉ & SAÚDE – CAFÉ : OS PRÓS E OS CONTRAS…

Dr. Darcy Roberto Lima ,
Ph.D. (Londres),
Professor
da UFRJ,
Coordenador Científico www.cafeesaude.com.br


 O número de prós e contras do uso de café ainda é desconhecido. Mas
deve haver uma explicação para o fato do café ser o segundo maior mercado de
produtos naturais do planeta, depois do petróleo. E uma razão pela acordarmos
todas as manhãs pensando em várias coisas como trabalho, lazer, estudo, sexo,
fama, fortuna, sendo que a única coisa que fazemos diariamente é tomar o café da
manhã. As outras nem sempre. Deve haver um motivo para a existência do
“Coffee-Break “ , o qual é muitas vezes a parte mais interessante de palestras,
reuniões, congressos, aulas,  etc… Deve existir um fundamento que levou
um médico e cientista brasileiro( DRAL), após mais de quinze anos de pesquisas
na área café e saúde, conhecendo todos os contras, ser convidado para criar o
Instituto de Estudos do Café ( ICS ) – www.mc.vanderbilt.edu/coffee,
numa das maiores e melhores universidades americanas, onde já foram obtidos dois
Prêmios Nobel de Medicina (1971,1986). 

Deve haver uma
justificativa porque o Presidente ( Dr. Mario Maranhão, MM  ) e Comitê
Científico da Federação Mundial de Cardiologia aprovaram o PROJETO CAFÉ E
CORAÇÃO ( COFFE HEART STUDY ) dos dois autores ( DRAL e MM) que ano passado foi
já iniciado no INCOR da USP com apoio da EMBRAPA CAFÉ e breve será realizado a
nível mundial para avaliar os prós do café para o coração? E a sensação do
momento é a descoberta de que o aroma do café estimula mais regiões do cérebro
do que aquelas vinculadas ao simples, olfato, envolvendo todo o circuito do
prazer, amizade, amor, paixão.

Com apoio da EMBRAPA CAFÉ esta sendo
iniciada uma  pesquisa do cérebro de pessoas cegas que estão sendo
treinadas para confimar a hipótese de que podem ser mais capazes de classificar
o aroma e o sabor do café, abrindo um novo mercado de trabalho para os 3,5
milhões de cegos e deficientes visuais de todo o Brasil. Caso existissem somente
contras, o café continuaria a ser discriminado, criticado e com seu consumo
contra-indicado pela classe médica. Caso o café fosse uma droga, a humanidade
toda já estaria extinta… ou inevitavelmente drogada.

 A sede é
mais mortal que a fome. Só respirar é mais importante. A vida começa e termina
com um suspiro. E quando chegarmos ao final de uma vida longa e árdua, cheia de
saúde e alegrias, muitas vitórias e algumas derrotas e olharmos para trás,
aqueles que amamos serão os primeiros a surgirem na nossa memória. A família,
nossos amigos, nossos companheiros de trabalho e os belos momentos vividos são
as coisas mais marcantes de nossa vida. Um homem nada mais é que suas memórias.


A memória é o lugar onde podemos fazer tudo o que queremos para sermos
felizes tantas vezes quanto quisermos, tantas vezes quantas fomos de fato.
Nossos inimigos serão perdoados e esquecidos, pois o tempo e a sabedoria nos
ensinam como isto é fácil. A amizade exige muito mais que o amor, pois a amizade
é altruísta e o amor egoísta. É a amizade que constrói tudo, vilas, cidades,
clubes, civilizações, governos, empresas e grandes invenções. É ela que mantém
as famílias, pois quando o amor termina, pode ser substituído pela amizade e
assim manter a harmonia entre as pessoas que um dia se amaram.

Mas o que
tem o café a ver com tudo isto? No âmbito pessoal, poucas pessoas sabem por que
o aroma do café, o mais rico da natureza, nos faz despertar e ficar logo de bom
humor. E após este ritual diário, o café da manhã, é difícil entender porque
logo aos vermos amigos na rua ou escritório, os convidamos para um cafezinho. E
daí que sempre surge uma boa conversa, uma boa idéia e até uma grande inovação
científica, cultural ou empresarial. Ninguém entende porque ao passarmos perto
de uma cafeteria e sentimos o aroma do café, temos que entrar e ler ou conversar
com os amigos saboreando mais um café.

 É difícil identificar alguém
na história que não tenha tomado café. A partir de David, o maior dos reis de
Israel ( II SAMUEL 17 : 28 ) o consumo dos “ grãos torrados “ foi adotado por
Maomé, o Profeta de Alá e depois pelos cristãos, por recomendação do Papa
Clemente VIII. A partir do Século XVII o consumo de café foi entusiasticamente
aceito no ocidente e disseminado, apesar de muitos contras , como por parte das
mulheres, que chegaram a redigir na Inglaterra, em 1674, uma “ Petição Feminina
contra o Café “. Sempre foram escassos os prós por parte da classe médica.
Johann Sebastian Bach , um grande bebedor de café, criou a COFFEE CANTATA , uma
opereta de um ato sobre a tentativa de um pai em verificar se sua filha tomava
café as escondidas.

Na CANTATA, a filha Betty diz :”Pai, não seja tão
rigoroso. Eu preciso tomar meu copo de café pelo menos três vezes ao dia’”.
Outro grandes bebedores foram Honoré Balzac, autor da grande obra A COMÉDIA
HUMANA que costumava deitar-se às 6 horas da tarde e dormir até a meia noite,
quando acordava e começava a tomar café. A seguir escrevia por 12 horas seguidas
apenas bebendo café. Foi em cafeterias que colonos americanos resolveram se unir
e jogar no mar o chá inglês em 1773 na “Boston Tea Party”, um movimento entre
amigos que culminou com a Independência Americana.

E foi numa cafeteria
no jardim do Palais-Royal que em 1789 Camille Desmoulins gritou e motivou seus
amigos a pegarem nas armas e a tomarem a Bastilha, iniciando a Revolução
Francesa. Caso tivessem tomado muito vinho, a Revolução jamais teria ocorrido. E
a história seria outra. No Brasil, em agosto de 1822, depois de atravessar todo
o Vale do Paraíba, ver os ricos cafezais e ser bem recebido por todos seus
amigos cafeicultores, o Príncipe Regente ouviu de todos “As posses dão, Real
Senhor” e assim resolveu proclamar a nossa Independência logo no mês seguinte, 7
de setembro às margens do riacho Ipiranga.

E foi logo cedo após o café
da manhã. Realmente o café agrega, cria grandes idéias e ajuda a tudo e todos. O
café foi a bebida ideal na Era do Iluminismo no Século das Luzes. Todos grandes
pensadores iluministas, Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, Diderot e
D’Alembert bem como as idéias dos principais filósofos, cientistas e políticos
nos séculos XVII e XVIII foram estimuladas por muitos goles de café. E isto
continua até hoje em empresas, congressos e governos.

 Isto sem
mencionar um universo de mais de um bilhão de pessoas que tomam café diariamente
em todo mundo, consumindo anualmente mais de seis milhões de toneladas. Apesar
de mais contras do que prós. Mas o que o café tem a ver com as coisas mais
importantes da vida humana, como a saúde e a felicidade ?  A partir da
identificação e isolamento da cafeína em 1820 na Alemanha, nenhuma substância
foi mais estudada e objeto de maior número de publicações médico-científicas em
toda a história da ciência.  Até hoje ainda existem médicos, cientistas e
consumidores que pensam que o café é só cafeína. Um grande engano. Mas apesar de
uma avalanche de contras em relação a cafeína até o final do II Milênio, na
atualidade é possível afirmar com bases científicas inquestionáveis que a
crítica ao seu consumo em quantidades moderadas são totais e completamente
infundadas, mas ainda arraigadas entre pessoas desatualizadas.


Quantidades moderadas de cafeína –  o equivalente a 400 -500 mg/dia
contidas em 3 a 4 xícaras grandes de café não são prejudiciais à saúde humana,
desde a gestação até o final da vida. O consumo crônico e moderado de cafeína
por pessoas normais não esta associado com o infarto do miocárdio, nem com
qualquer tipo de câncer ou com má formação fetal (teratogenia), doença
fibrocística da mama ou aborto.

A cafeína também não é responsável pela
produção de arritmias cardíacas ou de úlcera gástrica ou duodenal nem
osteoporose em pessoas normais. Algumas pessoas doentes, com problemas
cardíacos, psiquiátricos ou gástricos podem não tolerar bem o consumo de
café.  Apesar do consumo de café ser antigo, as pesquisas que avaliam seus
efeitos no homem são recentes. Mais de mil produtos químicos já foram
identificados nos grãos de café, sendo alguns, como os ácidos clorogênicos, são
bem mais abundantes que a cafeína.

Mas ela ainda é considerada
erroneamente como a principal responsável pelas propriedades estimulantes do
café pois atua através do antagonismo dos receptores de adenosina, um
neurotransmissor inibidor existente no cérebro. Impedindo a atuação da
adenosina, causa uma estimulação cerebral. Mas como toda substância natural ou
artificial em  excesso, a cafeína pode ser prejudicial à saúde, da mesma
forma que o abuso de vitaminas, sal, açúcar, trabalho, exercícios e até o
amor.  Modernamente é possível especular prós do uso do café relacionados à
felicidade, ao amor e mesmo ao genoma humano.

A pior e maior crise de
energia de nosso planeta é a falta da energia humana. E esta ocorre através da
depressão. A depressão significa uma diminuição da força vital do cérebro, o
principal, mais complexo, evoluído e perfeito órgão do corpo humano. Desde
manifestações como frustração, irritabilidade, agressividade, desinteresse,
pessimismo, apatia, falta de atenção, improdutividade, insônia, falta de apetite
e de interesse sexual, perda de iniciativa, de confiança e de auto-estima até
manifestações graves como idéias de culpa e suicídio ou dependência de drogas
legais e ilegais, a depressão é um desafio para a ciência médica. Dentre todas
as doenças, é a mais fascinante e desafiadora. Um paciente com câncer terminal,
com infarto do miocárdio, com AIDS ou mesmo um paciente atropelado ou baleado
quer desesperadamente viver.

Apenas na depressão ele quer morrer, mesmo
possuindo saúde física. A depressão atinge 17 % de executivos e funcionários de
empresas com prejuízos que superam mais de 80 bilhões de dólares anuais apenas
nos Estados Unidos. E como doença incapacitante atinge 20 % de humanidade com
problemas  graves que vão desde o suicídio a baixa produtividade, ausência
no trabalho, alcoolismo , consumo de drogas e mesmo problemas cardíacos, como um
fator independente de risco cardiovascular, causando prejuízos de mais de 45
bilhões de dólares anuais nos EUA.

E o alcoolismo, uma das conseqüências
da depressão, causa prejuízos anuais superiores a 160 bilhões de dólares naquele
país, sem mencionar lares desfeitos e o sofrimento humano individual, familiar,
social e profissional. No Brasil a depressão e o consumo de álcool é crescente
entre crianças, jovens e adultos. O alcoolismo sempre foi o maior flagelo da
humanidade. Apenas a atuação médica é capaz de tratar e prevenir o problema.


A depressão pode ser uma reação psicossocial que atinge quase 100 % da
população, criando condições favoráveis para a busca de soluções temporárias,
desde gurus, líderes religiosos e fórmulas mágicas até dispendiosos programas de
auto-ajuda, todos divertidos e simpáticos, mas sem comprovação científica de
eficácia a longo prazo.

A química cerebral que leva ao uso compulsivo de
drogas e a perda do controle, criando a dependência, começou a ser compreendido
apenas recentemente. O comportamento que leva ao vício resulta do uso de drogas
como a cocaína, anfetaminas, opiáceos, nicotina e álcool por um indivíduo
vulnerável numa dose, freqüência e por um tempo  adequados.

O
bombardeamento excessivo do cérebro por estas substâncias causa adaptações
permanentes em circuitos neuronais que atuam no controle da motivação e
comportamento, levando a uma perda do controle e produção de poderosos impulsos
de memória de associação, que induzem a busca das drogas e a recaída mesmo no
indivíduo que já tenha sido detoxificado. Todas as drogas que causam dependência
parecem ativar e produzir alterações permanentes nos circuitos dopaminérgicos
que controlam a motivação e o comportamento.

Acredita-se que a principal
via envolvida na origem da dependência a drogas parece ser um circuito de
células nervosas – a via dopaminérgica – que se estende de uma região do cérebro
conhecida como área tegmental ventral ao núcleo acumbens no sistema límbico.
Esta região envia impulsos emocionais positivos ou negativos para o córtex
cerebral. No sistema límbico existe uma rede de conexões entre células nervosas
que liberam peptídeos endógenos, os quais regulam o teor final de dopamina no
núcleo acumbens.

Esta via parece estar envolvida na motivação e
comportamento necessário para a sobrevivência humana, incluindo o próprio ato da
reprodução. Por exemplo, a escolha e o consumo de alimentos pode ocorrer através
da ativação do sistema límbico dopaminérgico, onde alimentos (e drogas) levam a
uma gratificação e condicionamento, fortalecendo mecanismos de memória e
aprendizado. Quando algo estimula este sistema, imediatamente é reconhecido e
lembrado vividamente, inclusive as circunstâncias que levam ao seu uso ou
consumo.

A cocaína, a nicotina, os opióides e o etanol são todos
originariamente subprodutos de plantas ou da fermentação natural e atuam como
substâncias condicionantes e capazes de gerarem dependência porque mimetizam ou
aumentam as ações dos neurotransmissores que atuam nos mecanismos de
gratificação, prazer e aprendizado do ser humano. A cocaína inibe a recaptação
da dopamina, aumentando sua duração e seus efeitos nas sinapses do sistema
mesolímbico enquanto que a anfetamina libera a dopamina dos neurônios
dopaminérgicos. Opióides como a morfina e a heroína mimetizam neurotransmissores
opióides que atuam diretamente no núcleo acumbens mas que podem também atuar de
forma desinibitória no sistema límbico, favorecendo a liberação de dopamina.


A nicotina simula a ação de acetilcolina nos receptores nicotínicos
centrais enquanto que o etanol possui um poderoso efeito facilitador nos
receptores do Ácido Gama-Amino-Butírico (GABA). A nicotina e o álcool causam uma
maior liberação de dopamina no sistema límbico. E este aumento dos níveis de
dopamina pode ser inibido em diversas etapas, como através do uso de
antagonistas de receptores opióides.

O fármaco naltrexona usado no
tratamento do alcoolismo atua bloqueando os receptores opióides no início do
circuito de gratificação do sistema límbico enquanto que a bupropiona, usada no
tratamento do tabagismo atua no final do circuito aumentando os níveis de
dopamina, modulando e suprimindo assim o desejo excessivo de prazer obtido
através da  nicotina.

Mas o ser humano, além de selecionar plantas
(nicotina, cocaína, heroína, álcool) que estimulam de forma artificial o seu
prazer no sistema límbico, também identificou plantas que podem bloquear este
sistema opióide, modulando ou interferindo neste desejo de auto-gratificação que
leva ao consumo de drogas. O café é um produto natural que possui substâncias,
os ácidos clorogênicos, que agem no mesmo circuito mesolímbico onde atuam os
fármacos usados para o tratamento do alcoolismo e tabagismo.


 Nosso grupo de médicos, psicólogos, nutricionistas  e cientistas
do Instituto de Neurologia Deolindo Couto da UFRJ, do Centro de Neurociências da
Rede Labs-D’Or do Rio de Janeiro e do INCOR da USP, através do Projeto Conjunto
Café e Saúde – Café na Merenda, Café e Coração e Café e Cérebro, com apoio
financeiro da maior instituição de pesquisa agropecuária do planeta, a EMBRAPA,
via EMBRAPA-CAFÉ, mostraram definitivamente que o café não é só cafeína.


Ele possui apenas 1 a 2 % de cafeína e diversas outras substâncias em
maior quantidade e que são mais importantes para a saúde humana. O grão
verde  possui  minerais como potássio(K), ferro (Fe) e zinco (Zn) em
maior quantidade que isotônicos e água mineral. Possui aminoácidos, lipídeos,
açúcares e proteínas que são destruídos na torra, formando quase mil compostos
voláteis, algo único na natureza. O vinho e a rosa tem que ir ao nariz enquanto
que o cheiro do café é sentido na sala e mesmo no quarteirão.

O café
possui os antioxidantes ácidos clorogênicos, na proporção de 7 a 10 %, isto é, 5
a 10 vezes mais que a cafeína. Na torra adequada os ácidos clorogênicos formam
novos compostos, as lactonas, que atuam de forma benéfica no cérebro e no
organismo. O café possui a trigonelina (1%) que forma uma vitamina, a niacina (
B3) e compostos voláteis como o metil-pirrol, um feromônio. Pesquisas modernas
comprovaram que tomar café de forma diária e moderada –  4 xícaras ao dia
(e nunca a noite)  é muito saudável, como fazer exercícios de forma regular
e moderada. O café previne a obesidade, a diabetes do adulto, a
depressão/suicídio, o alcoolismo/cirrose, a doença de Parkinson e de Alzheimer
além de diversos tipos de câncer.

Acordar com um café da manhã, outro no
meio da manhã, mais um depois do almoço e o último no meio da tarde é a dose
segura e saudável. A cafeína estimula a atenção, a concentração e a capacidade
intelectual e os ácidos clorogênicos/lactonas  modulam o estado de humor,
impedindo a apatia e a depressão que leva ao consumo de álcool. A depressão
atinge 17 % de executivos e funcionários de empresas com prejuízos que superam
mais de 100 bilhões de dólares anuais apenas nos Estados Unidos. A apatia e a
depressão tornam as pessoas mais vulneráveis a influência de gurus, 
motivadores profissionais e peritos em auto-ajuda, cujo benefício é apenas
temporário.

Mais que a crise econômica mundial atual, a apatia, a
depressão e alcoolismo são crises permanentes e mais prejudiciais. Pois o
consumo moderado e regular de café previne tudo isto. Mas o café deve ser quente
como o inferno, puro como um anjo e doce como o amor, mas nunca preto como o
carvão. A torra excessiva destrói os compostos saudáveis do café. E existe uma
relação do aroma do café com os feromônios, o prazer, a amizade e o amor. 
O olfato é o mais importante dos nossos sentidos para a escolha da comida, 
do namorado/namorada e perfumes. Tudo que é mais cheiroso é mais gostoso. É o
olfato que desperta o desejo, o interesse por uma flor ou um perfume e é ele que
regula a fisiologia da paixão. Um recém nascido reconhece a mãe pelo cheiro de
seu leite, e assim começa o maior e mais complicado amor de nossas vidas.


Guardamos na memória o cheiro ruim de algo estragado com mais facilidade
que a sua imagem, como, p.ex. um ovo podre ou um animal morto. O cheirinho de
café causa efeitos misteriosos no nosso cérebro. Como o cheirinho do amor. 
O que a humanidade deve comer e beber para viver mais? Será que devemos nos
guiar principalmente e instintivamente pelo cheirinho gostoso da comida e da
bebida como fazemos com o prazer e o amor? Dentre os quase mil voláteis do café,
o metil-pirrol formado junto com a niacina a partir da degradação da trigonelina
parece ter algo a ver com a agregação e amizade típicas do café.

A
história mostra isto. O  metil-pirrol forma o núcleo de feromônios de
insetos e mamíferos inferiores que estimula o comportamento gregário e a união
de grupos para lutar pela sobrevivência. Talvez foi o aroma do café que reuniu
os hebreus, os islâmicos e os cristãos em grupos motivados por idéias e ideais
nobres e saudáveis. Falta unir todos numa mesma cafeteria. Pesquisas com
Ressonância Magnética Funcional (RMf) mostram que voláteis do café estimulam
regiões vitais para o prazer no sistema límbico da mesma forma que a amizade, o
amor e a paixão (Figura 1).

A principal via envolvida no prazer é um
circuito de células nervosas que liberam as endorfinas e a dopamina  que
vai da região do cérebro conhecida como área tegmental ventral ao núcleo
acumbens. Esta via está envolvida na motivação e comportamento necessário para a
sobrevivência humana, incluindo o próprio ato da nutrição e reprodução além do
apego a entes queridos, amigos e família. Por isto o aroma do café possui
mistérios que a ciência só agora ousa desvendar, como reunir amigos, estimular o
intelecto e combater a apatia e a depressão, sem falar na saudável bebida que
previne doenças.

Mas em excesso, tudo pode fazer mal à saúde, desde o
sal, o açúcar, o trabalho até vitaminas e mesmo o amor ou o café. Com moderação
– 4 xícaras ao dia – não existe nada mais aromático, agradável, natural e
saudável que o café, a paixão dos brasileiros. E paixão é coisa séria. Assim
como a amizade, amigos e inimigos.

 Mas apesar dos prós e contras,
a ciência ainda não explica porque a imagem, o consumo e o valor do café estão
em discordância com sua importância agrícola, econômica e médica. Enquanto
indústrias de países consumidores arrecadam fortunas com a comercialização do
café – US$ 80 bilhões anuais, os quase 50 países produtores e dezenas de
milhares de agricultores arrecadam menos de US$ 10 bilhões anuais e são todos
pobres e endividados, incluindo o Brasil, o maior produtor mundial .

Num
Brasil cuja única opção é exportar ou morrer, pesquisas sobre o café vinculadas
a um maior consumo e exportação podem significar não apenas mais saúde
financeira, mas uma imensa economia na prevenção da depressão e suas
conseqüências. Além de exportação de idéias e descobertas científicas.


Talvez seja importante à classe médica brasileira, num “ coffee-break “,
refletir sobre os prós e contras do uso do café, atuar em pesquisas básicas e
clínicas na área Café e Saúde e tentar entender as razões que justificam a
exploração da maior riqueza natural dos países pobres, o café, por parte dos
países ricos, os maiores consumidores. Particularmente considerando que o café
pode ajudar a combater a miséria e o sofrimento humano causada pela obesidade
infantil, depressão/suicídio, alcoolismo/drogas. 

E assim passar a
prescrever sem receita, mas de forma controlada o consumo diário e moderado de
café. Temos que motivar toda a humanidade a tomar apenas café diariamente
durante toda vida e nunca refrigerantes, isotônicos, energéticos, que nenhum
benefício traz à saúde. Talvez sejamos todos geneticamente prós café… Mas
mutações sempre existem – os contras.


Entre ENTRA FIGURA 1- AROMA DO CAFÉ E PRAZER


Analise de grupo (5 participantes: fragrância do grao
torrado)


 


 


 


 



 



Fonte :  LIMA, D.R. :  101 RAZÕES PARA TOMAR CAFÉ SEM CULPA,
CAFÉ EDITORA, SÃO PAULO, 2009.

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