A transformação do poder econômico em golpe

16 de maio de 2008 | Sem comentários Comércio Exportação

ECONOMIA
16/05/2008
 
A transformação do poder econômico em golpe
 
 
Patrick Donahue
Bloomberg
Primeiro vieram as economias em ebulição. Depois veio a corrida de investidores. Agora os chamados Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – falam em formar uma aliança política. As quatro maiores economias emergentes enviaram seus ministros das Relações Exteriores a Yekaterinburg, Rússia, para se reunirem hoje pela primeira vez fora da Organização das Nações Unidas (ONU). Na agenda estão questões como proliferação das armas, combate ao terrorismo, energia e mudanças climáticas.


O termo Bric foi cunhado por Jim O’Neill, economista-chefe global do Goldman Sachs Group Inc., em 2001. No ano passado, a soma do Produto Interno Bruto (PIB) das quatro nações correspondeu a 12% do PIB global, representando uma alta em relação a 2000, quando a marca chegou a 8%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nos últimos dois anos, as ações dos Brics subiram 70%, contra o aumento de 42% dos mercados emergentes em geral.


Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil, explicou que o grupo, num primeiro momento, era um conceito nas mentes dos analistas e depois passou a existir na prática.


– O encontro é o reconhecimento do fato de que somos quatro grandes economias com uma grande influência no mundo – observa.


O presidente Nicolas Sarkozy da França recomendou acrescentar, pelo menos, China, Índia e Brasil – bem como México e África do Sul – ao grupo dos oito países mais industrializados em vez de chamá-los para participarem como convidados dos encontros. A Rússia já é membro do G-8.


A China, país mais populoso do mundo, deve ultrapassar a Alemanha como a terceira maior economia este ano, segundo o FMI. A Índia é a maior democracia do mundo. Com 10 anos de crescimento econômico ininterrupto, a Rússia é a maior exportadora de energia do mundo, enquanto o Brasil é o segundo maior produtor de alimentos, perdendo, apenas, para os EUA.


Como um todo, as economias dos Bric devem ultrapassar as dos países do G-7 (G-8 menos a Rússia) em 2035, de acordo com O’Neill em um relatório do Goldman em novembro passado. Em uma entrevista no dia 12 de maio, o economista disse que incluir os países no G-8 seria um reconhecimento da realidade moderna.


O’Neill, 51, que dá palestras às multinacionais sobre investimento em mercados emergentes, disse que a criação do termo Bric e sua popularidade subseqüente transformou a vida dele. Há cinco anos, o economista nunca havia estado na maioria dos Bric. Agora, viaja para todos eles uma ou duas vezes por ano.


Os ministros dos Bric já haviam se encontrado na Assembléia Geral da ONU em 2006 e 2007. O ministro das Relações Exteriores chinês Yang Jiechi conversa com Sergei Lavrov da Rússia e Pranab Mukherjee da Índia antes da chegada de Amorim.


A Rússia e a China, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, desempenharam papéis fundamentais ao pressionarem o Irã para interromper seu programa nuclear. A China também teve influência nas conversas para persuadir a Coréia do Norte a abandonar seu programa de armas nucleares. O governo de Kim Jong Il começou a desativar seu reator nuclear que produz plutônio em Yongbyon sob a supervisão dos inspetores americanos em novembro. “Além de frente econômica, os Brics podem ser um contrapeso crescente à hegemonia americana nos assuntos globais”, escreveu Win Thin, analista na sede em Nova York do banco Brown Brothers Harriman & Co.


A Rússia deseja que os Brics se tornem um fator notável na diplomacia multilateral, para ajudar a fortalecer a multipolaridade, afirmou, em um comunicado, Boris Malakhov, porta-voz do ministro das Relações Exteriores russo. Segundo Malakhov, Moscou viu as conversas como uma forma de aproximar os quatros países no cenário mundial.


– Com esse arranjo informal, as quatro nações vão entender as políticas umas das outras, discutir fatores e questões comuns e equilibrar suas posições por meio do diálogo – explica Sujit Dutta, analista estratégico do Instituto de Análises e Estudos de Defesa, instituição de pesquisa com sede em Nova Deli.


Com esse fórum eles vão, segundo Dutta, tentar melhorar o perfil global. Há, de acordo com O’Neil, limitações no conceito dos Brics. Por exemplo, o Brasil – maior produtor e exportador de café, açúcar e suco de laranja – não deve ser o único país latino americano a pertencer ao grupo. O México também poderia ser um candidato, junto com a Coréia do Sul, segundo o economista.


Recentemente, a China e a Índia tomaram medidas para diminuir a inflação estimulada por preços de alimentos e energia mais altos à medida que a recessão da economia dos EUA atrapalhou as exportações. O crescimento da Rússia pode ser menor que 8,1% (marca atingida no ano passado), segundo o ministro das Finanças. A economia brasileira deve crescer 4,6% este ano, valor menor que 4,7% de acordo com uma pesquisa do banco central divulgada em abril.


Apesar de os investimentos dos Bric terem sido bons nos últimos anos, parecem menos sólidos ultimamente. Desde 31 de dezembro, o índice da Morgan Stanley para capital internacional dos mercados emergentes Bric despencou 5,3% – queda maior do que o declínio de 3,1% no índice dos mercados emergentes.

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.