O Banco Central não pode ser acusado de ser o maior responsável pela forte valorização do câmbio. O principal fator continua sendo a alta de preços das commodities exportadas pelo Brasil, a grande razão dos elevados valores registrados na balança comercial.
Só em janeiro, números preliminares indicam que as exportações devem superar a casa dos US$ 11 bilhões, acima até da meta estabelecida pelo governo. É essa enxurrada de dinheiro que explica, em grande parte, a apreciação do real.
Para acompanhar o desempenho desses preços, o departamento econômico do Itaú elaborou um índice de commodities com uma cesta dos principais produtos exportados. Foram considerados apenas os preços spot (mercado à vista).
O gráfico acima indica claramente que a tendência ainda é de alta, principalmente se for levado em conta o índice sem petróleo.
Os aumentos de preços impressionam. Só em janeiro, os minérios metalúrgicos subiram 14,5%; a soja, 14,3%; a carne, 12,1%; papel e celulose, 5,9%; e o café, 4,6%, entre outros exemplos.
O desempenho do índice, segundo Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú, prova que só a política monetária não será suficiente para evitar a valorização do câmbio. Essa alta excessiva do índice é a principal explicação para o fato de o real ter se apreciado mais em relação a outros países.
Desde o início do ano passado, o real se valorizou cerca de 12% em relação ao dólar, enquanto em países como o Chile e a Austrália a moeda se apreciou entre 6% e 7%.
A melhor alternativa para evitar a valorização do real, de acordo com Málaga, parece estar afastada, pelo menos no curto prazo. A saída ideal seria um corte nas despesas do governo para o BC ter condições de acelerar a queda dos juros.
Dessa forma, o gasto privado não precisaria ser contido com os juros elevados, e isso aumentaria a demanda interna e poderia diminuir as exportações.
Mesmo considerando improvável essa hipótese de corte dos gastos públicos para o curto prazo, Málaga considera razoável, porém, o BC retomar os cortes de 0,5 ponto da Selic.