9º Agrocafé: Ximenes critica política cambial e sugere a quebra de paradigmas

Ao longo do 9º Agrocafé, o presidente do CNC lamentou as perdas causadas pela defasagem cambial e citou a necessidade da quebra de paradigmas, assim como as outras commodities já mudaram seus referenciais de preço, para fixar cotações acima de US$ 200 à saca de café. A precisão de estoques reguladores também foi lembrada por ele.


O presidente do CNC (Conselho Nacional do Café), Gilson Ximenes, participou, ontem, do painel “Sustentabilidade Econômica da Cafeicultura” ao longo do 9º Agrocafé (Simpósio Nacional do Agronegócio Café), evento promovido pela Assocafé (Associação dos Produtores de Café da Bahia), em Salvador (BA), cujo término ocorre amanhã.


Durante sua explanação, ele disse que o café, atualmente, não é um bom negócio do ponto de vista financeiro “e não somente ao produtor, mas para toda a cadeia”. Ximenes lembrou que, na década de 80, quando o café gerava uma receita de US$ 30 bilhões no mundo, aproximadamente 30%, ou US$ 9 bilhões, ficavam com o produtor. “Atualmente, o café propicia cerca de US$ 80 bilhões, sendo que os produtores recebem apenas US$ 7,5 bilhões, ou algo em torno de 9%. Isto é, a receita cresceu, mas os produtores não se beneficiaram”, lamentou.


Segundo ele, grande parte da culpa dessa situação se deve à política cambial adotada pelo governo. “O que será de nós, cafeicultores, caso a previsão de muitos economistas se confirme e o dólar comercial chegue a R$ 1,50 ao longo do ano?”, questionou o presidente da entidade, acrescentando que, “como o café é um negócio essencialmente dolarizado, tendo em vista essa malfadada política de câmbio, vamos buscar renda aonde?”


Fazendo uma breve análise da cafeicultura brasileira, ele mencionou que se nota um verdadeiro jogo de interesses, no qual quem tem mais poder se sobressai. “Os estoques governamentais devem zerar em meados deste ano e os industriais já falam até em importar café. A tendência, dessa forma, é mais prejuízo à produção, setor que há tempos vem sofrendo exatamente pela falta de visão do governo e pelo maior poder de outros setores”, disse.


Ainda conforme o presidente do CNC, o setor produtivo deve se unir na contratação de um escritório de advocacia de peso para entrar com processo contra a União. “Isso porque, na hora mais difícil do mercado cafeeiro, em 2002/2003, quando a saca era vendida a US$ 40, o governo brasileiro, ao invés de ajudar o produtor, realizando leilões dos estoques públicos a preços sustentáveis, negociou esse café abaixo de US$ 40, dando uma demonstração ao mercado externo que o Brasil vendia café barato, o que trouxe um prejuízo muito grande à produção”, recordou.


Ximenes também demonstrou preocupação em relação ao fato de o governo zerar seus estoques e não pensar em refazê-los. “Com toda a alteração que o clima mundial vem sofrendo devido ao aquecimento global, fazendo com que as estações do ano percam suas características, quem garante que não volte a gear ou que ocorra uma estiagem que afetem substancialmente a produção cafeeira nacional?”, questionou.


Em função disso, o presidente do Conselho espera que o governo tenha bom senso para formar um estoque regulador, justamente pelo fato do Brasil ser o maior produtor e exportador e o segundo maior consumidor mundial de café, caminhando a passos largos para a liderança também no consumo. “Os estoques reguladores são necessários, pois, se ocorrerem problemas climáticos, o que acontecerá? Iremos perder nossos compradores e o nosso market share por falta de mercadoria?”.


No que se refere a preços remuneradores ao produtor brasileiro, Ximenes, ainda mencionando os problemas causados pelo câmbio, disse ser necessário o estudo e também a adoção de novas alternativas para a cafeicultura nacional. “Em vista da defasagem cambial, temos que quebrar paradigmas, assim como as outras commodities já mudaram seus referenciais de preço, e fixar cotações acima de US$ 200 para o café brasileiro, caso contrário, nossa competitividade enfraquecerá, uma vez que os produtores não terão renda para investir ou mesmo para permanecer na atividade”, finalizou.

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