MANDAMENTOS DO PRODUTOR: DEZ PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA PLANTAR E PARA COLHER


No árido mundo do agronegócios brasileiro, que enfrenta a pior crise em 40 anos, não há como colher bons frutos confiando apenas na “tecnologia da enxada”. Cada vez mais aumentam as exigências do produtor rural, que precisa seguir alguns princípios básicos de sobrevivência na atividade, tais como visão empresarial, união em cooperativas e assessoria técnica. Sem se esquecer, porém, de sentir a verdadeira vocação para o cultivo da terra. “Os amadores da agropecuária não serão perdoados”, alerta o produtor rural Natanael Vicente da Silva, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Carandaí. Ele e outros especialistas ligados à produção rural, ouvidos pelo caderno Agropecuário, definiram a lista dos 10 mandamentos do campo, inspirados nos versículos bíblicos, que ensinam que “há um tempo para plantar e há um tempo para colher”.


1 – Ter visão empresarial da agricultura


Diante da crise dos últimos anos da atividade, com câmbio valorizado, commodities em baixa no mercado internacional e a descapitalização do setor, o produtor brasileiro é obrigado a ser criativo e inovador para garantir a sobrevivência no campo. Apesar das dificuldades, o produtor brasileiro já mostrou que é altamente competitivo. Em setores ligados à pesquisa e à assistência técnica, como por exemplo a cultura de soja, a produtividade cresceu mais de 50%, apesar de a área plantada ter aumentado apenas 5%, segundo a Emater.


Não apenas os grandes produtores buscaram ter uma visão empresarial da atividade. Ao contrário, planejamento é importante principalmente para o pequeno, já que ele tem limitação de área para produzir e terá de ser mais competente para disputar o mercado com os grandes. Em Minas Gerais, primeiro estado produtor do país em café, 70% da cafeicultura está concentrada em pequenas propriedades, respondendo por 50% da produção nacional e ajudando o Brasil a manter o posto de primeiro produtor mundial de café.


Natanael Vicente da Silva, produtor rural e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Carandaí, defende a tese de que “os amadores da agropecuária não serão perdoados”. Segundo ele, é preciso administrar com tecnologia, buscando aumentar o lucro, a produtividade e a qualidade dos produtos


2 – Atender ao mercado consumidor


A maior transformação do setor agropecuário, nos últimos anos, foi deixar de se preocupar em produzir para vender e passar a vender para produzir, segundo o agrônomo José Silva Soares, presidente da Emater-MG há 16 anos e também presidente da Asbraer, associação brasileira das “Emateres”. “Antes de se decidir por plantar uva, o produtor terá de se informar sobre o tamanho da uva que o consumidor precisa, o peso médio do cacho e o mês em que o mercado é mais comprador”, exemplifica. Ele lembra que o produtor deve procurar participar de palestras, reuniões nas cooperativas e seminários que tratam do interesse da classe.


3 – Agregar valor ao produto


Apesar da crise financeira e da desvantagem cambial, as exportações brasileiras devem crescer 10% este ano. Além de crescer, entretanto, é preciso aumentar o valor do produto a ser inserido no mercado e, finalmente, deixar de exportar matéria-prima e passar a oferecer o produto acabado.


José Silva recorre ao fenômeno da Alemanha, que não planta um único pé de café, devido ao clima impróprio para a cultura, mas aparece como maior produtor mundial de café processado. Do outro lado da moeda, Minas Gerais exporta apenas 10% de café processado, mandando para o exterior 89% do café verde e 1% na fase de transição. “O grande desafio é deixar de exportar em toneladas e incentivar as exportações em quilos e até em gramas”, exagera o presidente da Emater.


4 – Unir para competir


Segundo o presidente da Emater, é preciso abandonar a idéia de que o vizinho é o concorrente. “O concorrente, na verdade, está do outro lado do oceano, na Europa, na China, no Oriente Médio”, afirma José Silva. Ele lembra que é necessário reunir os produtores de toda a cadeia produtiva em cooperativas e associações, que poderão decidir que papel o governo terá na organização. “A união é importante principalmente em momentos de crise, quando é preciso pensar junto – buscar regularidade de produção, aumentar o poder de barganha na compra de insumos, usar conjuntamente o maquinário e conquistar novos mercados”, completa.


A comunidade Quenta Sol, em Sacramento, no Alto Paraíba, ampliou em mais de 60 vezes a produção de leite, ao fazer a construção conjunta de um tanque de resfriamento, bem como a compra de um caminhão. Ao fazer o beneficiamento compartilhado, os 32 produtores aumentaram a coleta diária de leite de 80 litros por pessoa para 5 mil litros por pessoa.


5 – Ter uma assessoria técnica competetente


O produtor tem de ter na mão todas as informações estratégicas para ajudar na tomada de decisão. “Não dá mais para produzir com base na tecnologia da enxada”, afirma Marcos de Abreu e Silva, diretor-secretário da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Ele observa, porém, que a produção do grão de soja, ainda que seja in natura, envolve alta tecnologia e o investimento em salário de técnicos. “A alta produtividade só é possível através de assessoria técnica e administração eficiente para garantir o baixo custo”, acrescenta.


6 – Investir em profissionalismo


O produtor brasileiro moderno busca o gerenciamento da produção, contratando gerentes ou ele próprio se especializando. A mudança, porém, não acontece da noite para o dia. Para tanto, é preciso começar desde já a participar de cursos de capacitação, a fazer o controle de custo dos insumos e a investir em educação, na tentativa de mudar a situação a médio e a longo prazo. “Em tempos difíceis, passa a ser inaceitável contratar um tratorista, que será responsável por uma máquina agrícola que custa R$ 220 mil, sem que ele tenha ao menos o Ensino Médio completo”, afirma José Silva.


7 – Cultivar a responsabilidade ambiental


É preciso produzir sem degradar o meio ambiente, pois a natureza reclama e dá o troco. Não degradar, porém, não pode ser entendido como deixar intacto, mas sim em ter racionalidade para explorar os recursos naturais. Na opinião do produtor rural Natanael Vicente da Silva, é necessário ter respeito ao ser humano e também aos animais. “Uma vaca é uma máquina viva. Quando um agropecuarista usa o Equipamento de Proteção Individual (EPI) para se defender da intoxição por produtos fitossanitários, ele não deve se esquecer de que o gado não pode se proteger para evitar os resíduos dos agrotóxicos.


8 – Melhorar a qualidade dos produtos


Com o aumento da concorrência e o consumidor cada vez mais informado, aumenta a exigência da qualidade dos produtos. Em outras palavras, para conquistar a confiança do consumidor brasileiro, não adianta mais oferecer apenas preço baixo, mas também qualidade e segurança alimentar.


9 – Vocação para lidar com a terra


Como em qualquer outra atividade, é preciso ter vocação para cuidar da terra. “É necessário o reconhecimento da sociedade de que a terra é instrumento de trabalho igual aos outros, depende de capacitação, do trabalho empreendedor e também de afinidade e amor à terra. Da terra, a pessoa pode tirar trabalho ou lucro, com dignidade”, defende Marcos de Abreu e Silva, da Faemg.


10 – Acabar com diferença entre pequenos e grandes


Para Abreu e Silva, da Faemg, não dá mais para dividir o setor entre agronegócios e agricultura familiar, “por que eles se confundem e se completam”. Ele observa que, pela lei, a pequena propriedade seria de até quatro módulos de até 65 hectares, área suficiente para produzir em larga escala, como fazem os agronegócios. “Não interessa se é pequeno ou grande, o que se tem de se fazer é produzir com competência. Além do mais, a prosperidade é um direito do cidadão, é preciso parar com essa idéia romântica de que o agricultor vai ser pequeno eternamente. Ele tem todas as chances de crescer, como qualquer trabalhador meio urbano”, afirma.



Estado de Minas – 13/11/2006
Notícia adaptada pela equipe do Boletim Agropecuário

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