Qualidade do Café – Aspectos Técnicos é o tema do workshop da manhã desta quarta-feira (20/03) na Feira Nacional do Café – Fenicafé 2014. O workshop acontece em três momentos. O primeiro leva-se em consideração os aspectos químicos do produto, envolvendo, principalmente, os fatores qualidade e sabor. A explanação é da Dra. Adriana Farah, professora do Núcleo de Pesquisa de Café da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em Química e Ciência de Alimentos, atuando nos temas Café e Saúde e Café e Qualidade, e membro do Comitê Cientifico da Associação Internacional para Informação e Ciência do Café.
Segundo Dra. Adriana, a concepção da muda e plantação, passando pelo manejo e tratamento correto durante o cultivo e o beneficiamento adequado da colheita, até o preparo para o consumo, são fatores que interferem diretamente nas características químicas, na qualidade e no sabor do produto. “Nos resultados de nossas análises, observamos que diante de alguns defeitos apresentados em alguns grãos, identificamos que, por exemplo, determinado café foi mal armazenado, o que interfere no sabor do produto ao consumidor final”, explica Dra. Adriana. Além disso, a contaminação de microorganismos no armazenamento, transporte, e até mesmo no preparo, também interferem na qualidade e sabor do produto final. “Os diversos fatores químicos inerentes ao produto, muitas vezes desconhecidos do consumidor final, são fundamentais para garantir a boa linhagem do produto”, finaliza.
O segundo momento do workshop foi apresentado pelo Dr. Flávio Borém, professor do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), especialista em pós-colheita e qualidade do café e degustador de café, credenciado pela Associação Americana de Cafés Especiais. Dr. Flávio levou em consideração durante sua apresentação os processos e métodos relativos ao cultivo do café natural e especial, com ênfase nas técnicas de processamento e armazenamento, utilizando-se de trabalhos recentes desenvolvidos na UFLA. “Esse é um grande desafio, visto que o mercado está aberto a novas informações e receptivo a cafés de diferentes perfis de qualidade, como é o caso do natural”, explica.
Ainda de acordo com o palestrante, cerca de 90% do café produzido no cerrado brasileiro é o café natural, que abastece o mercado nacional e internacional. A questão, segundo ele, é diferenciar a produção deste café natural, criando uma nova linhagem do produto, nomeado por ele de café natural especial. “O mercado quer comprar um café natural especial, mas o produtor tem que aprender a produzi-lo”, disse Dr. Flávio, que finaliza: “Nós precisamos entender quais são as alterações durante o processamento do café para obtermos cafés naturais finos, com sabores diferenciados, evidentemente com prêmios e preços maiores também”. Dando continuidade ao workshop, complementando as informações apresentadas anteriormente, o empresário exportador e torrefador de cafés especiais Silvio Leite, abordou questões relativas ao mercado interno e externo na atual conjuntura econômica mundial.
O palestrante também é professor de classificação e degustação de café, co-autor das metodologias para degustação de cafés especiais (Cup of Excellence – Troféu de Excelência), fundador da Associação Brasileira de Cafés Especiais e presidente do Centro de Comércio do Estado da Bahia (BA). Em síntese, Silvio Leite explanou sobre como o mercado internacional está absorvendo o café brasileiro, levando-se em consideração a qualidade do produto exportado pelo Brasil e outros países como Colômbia, da América Central e África, fazendo um comparativo entre estes diferentes fornecedores do produto no mercado internacional, relacionando pontos positivos e negativos. “O mercado, de janeiro até aqui, teve um crescimento de 72%.
E nosso objetivo é orientar o produtor de como ele pode se beneficiar dessa alta para garantir a sustentabilidade do negócio”, disse Silvio, apontando a seca dos últimos meses como principal fator responsável pela alta do preço do café, além dos referenciais econômicos mundiais, como a Bolsa de Nova Iorque, de Londres e o dólar. Silvio Leite também destacou o papel do Brasil no mercado mundial de café, visto que o país está na vanguarda em diversos aspectos relacionados à cultura. ”O Brasil é referência em pesquisa cafeeira, crescendo em qualidade, mas ainda aquém no controle de preços”, esclarece o palestrante, que finaliza: ”A pesquisa ainda tem muito a fazer sobre os cafés naturais. Se compararmos com outros segmentos, como o do vinho, por exemplo, que é uma cultura milenar, nós temos muito ainda fazer, pois estamos nesse mercado há apenas 300 anos.
Cabe a nós darmos esse ‘ponta pé’ inicial”. Após a explanação dos três palestrantes, houve participação do público presente questionando Adriana Farah, Flávio Borém e Silvio Leite sobre alguns detalhes apresentados por cada um durante o workshop. A Fenicafé é promovida pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA) e Federação dos Cafeicultores do Cerrado, com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Embrapa Café, Prefeitura e Câmara Municipal de Araguari. (Fernando Cunha – Ascom Aca)