01/04/2014
As oscilações do preço do café arábica na bolsa de Nova York estão mais expressivas este ano em comparação com 2013. De janeiro até meados de março, a cotação chegou a subir mais de 80% nos pregões, reflexo das especulações sobre o tamanho da quebra da safra brasileira devido à estiagem.
Do início do ano até ontem, a commodity teve variação igual ou superior a 2% (de alta ou baixa) em 25 dos 61 pregões realizados no período, ante 53 em todo o ano passado, dentre 252 pregões analisados, conforme levantamento do Valor Data. Entretanto, em 2014, as altas acima de 2% em um único dia foram mais que o dobro dos recuos (17 contra 8), enquanto que, em 2013, o número de oscilações negativas foi maior (28 contra 25 pregões).
O preço do café no mercado físico nacional dobrou entre novembro de 2013 e meados de março deste ano, quando o produto chegou a ser negociado por R$ 500. Na última escalada, há mais de dois anos, a cotação demorou um ano e sete meses para ser duplicada, afirma Edson Koshiba, da Pleno Corretora de Café, de Patrocínio.
Conforme Carlos Costa, diretor da Pharos Commodity Risk Management, em 2011, quando os preços subiram por conta da menor produção de café na Colômbia e do recuo dos estoques certificados na bolsa de Nova York, a volatilidade do mercado foi semelhante à que ocorre este ano, com variação de quase 40 centavos de dólar em apenas uma semana.
Atualmente, o que tem estimulado a variação nas cotações do café é a preocupação com os efeitos do clima aliada à perspectiva de redução da produção em virtude de esqueletamentos (podas) feitos no ano passado, quando os preços estavam baixos. Costa afirma que esse cenário gera aumento de participação do capital especulativo.
As incertezas sobre os impactos da seca e do manejo na produção no ciclo 2014/15 e do próximo ano devem manter o mercado de café volátil. Pelas estimativas de Costa, até o fim do ano, a commodity poderá ter um preço médio de US$ 1,70 ou acima por libra-peso. Se ocorrerem geadas ou chuvas na colheita, o preço vai reagir, avalia.
Para Robério Silva, diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC), os atuais níveis de preços são razoáveis. “Não vejo razão para os preços não continuarem nesses patamares”, disse em entrevista ao Valor na semana passada.
Silva estima que há um equilíbrio entre oferta e demanda de café, com estoques baixos nas mãos dos países consumidores, um consumo estimado em 146 milhões de sacas em 2013 e uma produção de 145,8 milhões de sacas no ciclo mundial 2013/14.
Luiz Suplicy Hafers, cafeicultor e importante liderança no setor agrícola, acredita que o mercado de café ainda terá “preços bons” por aproximadamente dois anos.
Sua avaliação é respaldada na seca que afetou a produção brasileira no Centro-Sul, na redução dos tratos culturais, na falta de renovação das lavouras e de um “certo desânimo dos produtores” diante dos preços baixos em 2012 e 2013. Ele mesmo admite que, neste ano, colocou metade do adubo que normalmente aplica. A produção de Hafers nesta safra 2014/15 deverá ser reduzida para 800 a 1.000 sacas, ante 1.300 no ciclo anterior. “Tive prejuízo”, disse.
A propriedade do cafeicultor, localizada em Ribeirão Claro, no Norte Pioneiro, no Estado do Paraná, adquirida em 1962, é mantida por “pura paixão”, afirma Hafers, que não tem mais como cuidar intensivamente da cultura.
Na opinião de Hafers, além do cenário de preços sustentados da commodity, a desvalorização do real frente ao dólar deverá “dar um respiro” aos produtores à medida em que permitirá reacomodar os custos, que vinham crescendo. “Mas tenho medo de que isso venha um pouco tarde”.
A especulação nas bolsas é alvo de críticas do cafeicultor e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Em sua avaliação, antes o mercado levava em conta apenas oferta, demanda e estoques, mas atualmente há grupos com vastas quantidades de dinheiro que distorcem os fundamentos do mercado. “A bolsa é uma Las Vegas em Wall Street. Não se pode ter alguém com posição maior que 40 mil contratos”. Hafers defende uma regulamentação para tornar o mercado de bolsa mais justo, com a adoção de medidas como a limitação das posições.
Nas estimativa de Hafers, o mundo precisa de 50 milhões a 53 milhões de sacas de café do Brasil por ano, mas o fato é que o país nunca chegou a produzir 60 milhões de sacas, conforme estimativas, e até hoje só alcançou uma média de 50 milhões de sacas. Para esta temporada, a 2014/15, ele projeta que o Brasil vai colher 43 milhões de sacas e, praticamente, a mesma quantidade na próxima safra.
Fonte: Carine Ferreira, do Valor Economico