Vietnã encosta no Brasil nas exportações de café robusta

Data Publicação: 02/03/07

2 de março de 2007 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: Jornal: DCI

As exportações de café robusta (conilon) do Vietnã crescem sem parar e já “encostam” nas vendas externas do produto feitas pelo Brasil, maior produtor mundial. Em janeiro, a exportação vietnamita cresceu 84,7%, contra alta de 23% das vendas externas brasileiras, e somaram 1,9 milhão de sacas, contra 2,2 milhões do Brasil. O Vietnã está há apenas 15 anos nesse mercado e iniciou sua produção com 250 mil sacas.


Ao mesmo tempo, as indústrias de solúvel brasileiras insistem em comprar robusta do Vietnã, apesar da oposição dos produtores e do governo que mesmo sob pressão das indústrias não pretende liberar a importação, conforme antecipou o DCI.


Segundo o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Maurício Miarelli, o drawback (importação de matéria-prima para utilizá-la no produto que depois será exportado) ainda não está nem na pauta do Conselho Deliberativo da Política Cafeeira (CDPC). O CNC teme a entrada do café vietnamita no País. “O levantamento fitossanitário terá de ser minucioso. O Vietnã não tem preocupação social, ambiental e a qualidade do café é baixa”, afirma. Miarelli acredita que o efeito negativo do drawback poderá se refletir no mercado de arábica. “Pode influenciar negativamente no trabalho que fazemos para melhorar a imagem da qualidade do café do Brasil, já que a qualidade do café que poderá ser importado é inferior, e também provocar alterações no preço interno”, avalia.


Mesmo com o aumento do consumo de solúvel, que cresceu 15% em 2006, o Brasil está perdendo mercado. No ano passado, foram 800 mil sacas a menos e nos últimos quatro anos caiu de 11 para 7 o número de indústrias brasileiras de café solúvel. O café vietnamita custa em média R$ 90 a saca – enquanto o produto brasileiro é vendido a R$ 190 – devido ao seu baixo custo de produção. Além disso, o Brasil é o único exportador de café que não permite o uso do drawback.


Segundo o gerente de planejamento da Cia. Cacique, Élcio Martiniano de Carvalho, no ano passado o Brasil já perdeu 17% do mercado de solúvel. As regiões em que houve maior recuo foram Ásia e Europa, onde o produto brasileiro é taxado em 9%. “Estamos perdendo mercado em produto acabado e na própria produção. Em 2007, as exportações de solúvel devem continuar em queda, já que o Brasil não tem condições de atender a demanda da indústria e não quer permitir o drawback”, diz Carvalho. Segundo ele, a Cacique tem fornecedores fixos visando a manutenção da produção, mas mesmo assim pode haver uma redução.


O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Café Solúvel (Abics) e diretor comercial da Café Iguaçu, Edvaldo Barrancos, acredita que a crise poderá ser agravada com a manutenção da restrição ao drawback. “Vamos perder mercado, a indústria de solúvel vai demandar menos café brasileiro e todos saem perdendo, inclusive os produtores”, avalia Barrancos.


Apesar de a importação não ter um impedimento legal, é necessário uma autorização do Ministério da Agricultura que já declarou ser contrário à importação e ontem divulgou nota confirmando que as importações só poderão ser feitas após “criteriosa análise de risco”. “Vai levar de 2 a 3 anos para terminarmos as análises necessárias, se alguém quiser comprar o café para ficar esse tempo no mar pode até comprar, mas aqui não vai entrar antes que tudo seja averiguado”, afirma o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura (Mapa), Lineu da Costa Lima.


Barrancos acredita que estará importando antes do término desse prazo. “É uma opinião do secretário, mas vamos tomar todas as medidas necessárias para agilizar essa questão. Acredito que a demora para a liberação esteja vinculada a questões estruturais dentro do ministério”, diz.


Uma das medidas que serão tomadas pela Abics é a apresentação de uma minuta para o CDPC, cujo conteúdo são normas de procedimento em relação ao drawback. Na minuta consta que a origem do café a ser liberado deverá ser feita após a analise de risco do país de origem pelo Mapa, a importação será temporária com fins específicos para exportação e em quantidade limitada.


Segundo Barrancos, essas questões já haviam sido discutidas com todos os segmentos da cafeicultura ao longo do ano passado. “A reação da lavoura nos surpreende. Temos interesse em importar mas também em preservar o parque cafeeiro.”


O presidente da Cooperativa de Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel), Antônio Souza Neto, discorda: “Será uma concorrência desleal que poderá levar ao fim da produção de robusta no Brasil”.

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