VIDEO – Reportagem do Globo Rural sobre o café em Pirapora MG às margens do Rio São Francisco

Reportagem de Terra do café  03.08.2008



 


Terra do café 
 

 
O café arábica chegou a Pirapora, Minas Gerais, há apenas oito anos e já ocupa a maior área irrigada do município.

São ao todo três mil hectares, o dobro da área da produção de frutas, que é bem mais antiga naquela região às margens do Rio São Francisco.


Pirapora tem 51 mil habitantes. Fica na região noroeste de Minas Gerais, na margem direita do Rio São Francisco.


O nome é de origem tupi-guarani e quer dizer peixe que pula. Até meados do século passado funcionava no lugar o principal porto fluvial de Minas Gerais, de onde partiam mais de 30 barcos de passageiros.


Hoje só o Benjamim Guimarães mantém viva essa história. O velho vapor foi recuperado e faz viagens de turismo num pequeno trecho do rio. Mesmo que o comandante quisesse seguir adiante, não seria possível por causa do assoreamento que está matando o Velho Chico aos poucos.


Para permitir a recuperação das matas ciliares e evitar o assoreamento, as lavouras só podem ser implantadas a 250 metros da margem. Além disso, é preciso preservar 20% da área de cada fazenda como reserva legal.


Os plantios em círculo são cafezais irrigados com a água do São Francisco. Além dos três mil hectares já implantados, existem mais dois mil projetados para este ano. As terras são planas, de fácil mecanização. O sistema de irrigação é o pivô central.


A espécie cultivada é a arábica, a mesma plantada em Patrocínio, no sul de Minas Gerais, de onde vieram os pioneiros do café na região.


“A gente estava querendo fugir daquele binômio que é o seguinte: se o tempo ajuda, a produção é boa e o preço é ruim; se o tempo não ajuda, o preço fica bom e não tem produção. Aqui não tem geada e tem uma condição muito boa para irrigar”, justificou o agricultor Edmundo Coutinho.


Na época da primeira visita deles à região o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, especialista em café, foi junto para fazer uma avaliação do clima e do solo. Espremendo um punhado de terra molhada na palma da mão, o doutor Matiello deu seu parecer.


“Ele amolda bem e não tem excesso de areia. Excesso de areia não é bom. É um solo podre quimicamente, mas bom fisicamente. Mas a parte química não é o principal. O essencial é a parte física. A parte química pode ser corrigida. O grande desafio para trazer o café para essa região é o calor. Toda literatura mostrava que café arábica só da em região de clima ameno, de clima fresco, pela origem do café da área alta da Etiópia, uma região mais fria”, explicou Matiello.


O problema foi resolvido com a irrigação. A água cria um micro-clima mais ameno, próprio para o café. O que o pessoal não esperava é que a produtividade na região fosse tão boa. Em Patrocínio, eles tiravam uma média de 30 a 35 sacas por hectare num café sem irrigação. Em Pirapora, a média das últimas quatro safras foi de 74 sacas por hectare.


“Essa produtividade constante é uma surpresa. Normalmente, o café dá uma produção alta e uma baixa. Nós temos um ciclo bienal de produção. O café que produz muito, não cresce muito. Com a temperatura uniforme durante o ano, o café na região cresce praticamente o ano todo. Então, ele supera essa falta de crescimento, que existe nas regiões mais frias”, esclareceu Matiello.


A Fazenda São Tomé é administrada pelo Edmundo Coutinho. Uma de suas tarefas é controlar a distribuição da água nos 500 hectares de café da fazenda. Para saber o momento certo de irrigar ele consulta os dados que a estação meteorológica da fazenda envia para o computador. “Através da estação meteorológica a gente dá uma racionalizada no uso da água”, disse.


Este ano, choveu 700 milímetros e o café arábica precisa do dobro para produzir. Por isso, a São Tomé vai gastar até o final da safra 15 milhões de litros de água por dia em seis pivôs. Para economizar, eles usam a lepa, um chuveirão que direciona a água em cima da planta e não irriga as ruas do cafezal.


A captação da água do São Francisco é feita pelo conjunto de três bombas. Por enquanto, não existe cobrança para o uso da água. Mas é preciso conseguir a outorga da Ana, Agência Nacional de Águas.


Só em casos extremos a São Tomé irriga durante o dia, quando o quilowatt/hora custa R$ 154,00. À noite, custa R$ 17,00. Por isso, em muitas épocas do ano o movimento noturno chega a ser maior que o diurno.


É durante a irrigação noturna, por exemplo, que a planta recebe todos os nutrientes através da ferti-irrigação.


De madrugada começa a guerra contra o bicho mineiro, uma das piores pragas do café. O pessoal prefere pulverizar neste horário porque a temperatura é mais baixa e a planta absorve melhor os produtos.


Mesmo combatendo sem trégua o veneno não consegue exterminar o bicho. Basta clarear o dia e a lagarta está lá fazendo seu estrago na folha.


“A lagarta entra pequena e vai caminhando, comendo a parte interna da folha. Ela vai fazendo uma mina dentro da folha, como se fosse um túnel. Onde ela vai comendo, vai morrendo e reduz a área de fotossíntese da folha. Alem de reduzir a área da folha, provoca a desfolha. Esse ainda é o principal problema do café porque, principalmente em região quente, o ciclo da praga é muito rápido”, explicou Matiello.


A grande novidade não só para Pirapora, mas para todas as outras regiões é o lançamento da variedade siriema, desenvolvida pelo doutor Matiello junto com os pesquisadores do Procafé, uma fundação de pesquisa mantida pelas cooperativas de Minas Gerais. A variedade siriema é resistente ao bicho mineiro e também à ferrugem, outro problema sério do café.


“O bicho mineiro não se desenvolve na variedade siriema. Se chegar a comer um pouquinho, ele pára porque a substância tóxica dentro da planta mata o bicho. Essa substância vem de uma espécie oriunda da África que tem resistência. Isso cruzado com a arábica, associou a resistência com a produtividade, a característica e a qualidade do fruto do arábica. A gente também não acha ferrugem. A ferrugem, normalmente, dá na parte mais interna da planta, diferentemente do bicho mineiro”, disse Matiello.


A produção de mudas para o plantio da variedade siriema vai começar ainda este ano em Pirapora, onde os produtores enfrentam outro desafio: a falta de uniformidade na maturação dos grãos, o que prejudica a qualidade do café.


A maturação teria que ser um pouco mais homogênea. O problema pode ser amenizado cortando a água da irrigação durante um mês, antes da florada.


Para fazer um teste sobre a qualidade do café de Pirapora, o Globo Rural foi à Varginha, no sul de Minas Gerais, procurar o seu Gerson Ribeiro. Ele tem 80 anos e é provador de café há 60 anos.


“É a primeira vez que recebo essas amostras. É um café muito bonito, bem preparado. Estou gostando de ver”, avaliou Ribeiro.


Primeiro o café é torrado em forninhos. Depois de moído, recebe água quente e está pronto para o teste de olfato e paladar.


“É um café que bebe muito bem, estritamente mole e tem acidez”, completou Ribeira.


A equipe voltou a Pirapora para acompanhar a colheita. No auge da safra mais de mil pessoas trabalham na colheita de café. Muitos já estão acostumados a fazer o serviço porque antes da chegada da cultura em Pirapora, eles iam para as lavouras do sul de Minas Gerais. A viagem de Pirapora até as fazendas de café dura no máximo uns 30 minutos.


Ao chegar, a primeira coisa a fazer é bater o cartão. Todo mundo tem registro em carteira. É uma exigência da lei mesmo para o trabalho temporário da colheita, que dura no máximo cerca de quatro meses. Eles recebem por produção. Ganha mais quem colhe mais. Por isso, o pessoal chega e já pega no batente.


Luzinaldo Medeiros, conhecido por Goiano, é o campeão da lavoura. “Eu consigo tirar na safra boa uma média de R$ 1,2 mil a R$ 1,4 mil. Hoje, não tem outro serviço que dê mais que o café. É difícil entrar em uma firma porque o estudo é pouco. Então, tem que procurar esse tipo de serviço”, disse.


Mas o emprego do pessoal está ameaçado pela chegada das colhedeiras. Na fazenda São Tomé as máquinas já são responsáveis pela colheita de 70% da safra.


A Fazenda Sagarana, que tinha uma máquina, acaba de comprar mais uma. Antes eles empregavam 400 pessoas na colheita. Hoje, só precisam de cem trabalhadores. O proprietário, seu Paulo Barreira, diz que a mão-de-obra está difícil e muito cara.


“Também por causa das exigências trabalhistas. Hoje você tem um volume muito grande de funcionários. Para colher manualmente, uma fazenda dessas requer 500 pessoas”, justificou seu Paulo.


Cada máquina é capaz de colher 80 sacas de café por hora, enquanto a Rozilene dos Santos colhe cinco por dia. Ela disse que a colheita do café é muito importante para o pessoal de Pirapora.


“No ano passado, no último mês de colheita eu tirei quase R$ 800,00. O café é muito bem-vindo aqui em Pirapora”, falou Rozilene.


A região de Pirapora está dentro da área de atuação do Banco do Nordeste, que tem linhas de crédito especiais para investimento em projetos agropecuários.


Quem quiser mais informações sobre a variedade siriema, resistente ao bicho mineiro e à ferrugem, escreva para o Procafé. O endereço é:


Procafé
Alameda do Café, nº 1000
CEP 37.026-400
Varginha – MG

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