Em 24 de maio comemora-se o dia do cafeicultor. Será que há o que se comemorar no Brasil? Apesar de ser o maior produtor e exportador mundial, nosso país não dá o apoio adequado aos cafeicultores, que praticamente “doam” seu produto. É o que explica Armando Matielli, engenheiro agrônomo e produtor de café: “Os cafeicultores estão em luto pela situação econômica pela qual está passando a cafeicultura”.
Mattieli afirma que há uma transferência de renda do produtor brasileiro para os compradores. A partir de um cálculo do valor da saca de café no país até o valor pelo qual é vendida uma xícara de café, ele prova que o produtor fica com apenas 1,5% do produto. “O café brasileiro na ABMF está cotado a 152,30 dólares a saca para dezembro. Com o câmbio do dólar a R$ 2,02, temos R$ 300 / saca. Em um shopping, toma-se um cafezinho por R$ 2,50. Uma saca de café torrado e moído rende 48 kg, o que é suficiente para se fazer por volta de 7 mil xícaras. Assim, 7 mil vendidas por R$ 2,50 rendem R$ 17.500”.
De acordo com os cálculos de Matielli, o cafeicultor que vende seu produto a R$ 300, fica com apenas 1,5% do valor enquanto o comércio fica com 99%.
Quando a conta é feita a partir do preço da xícara de café vendida na Europa, que custa em torno de 3,50 euros, uma saca brasileira vendida por R$ 300 se torna R$ 72 mil para os comerciantes. Portanto, o cafeicultor fica com menos de 0,3% do valor inicial.
Matielli diz que existem outras maneiras de calcular isso e que os analistas econômicos dirão que há a agregação de valores, mas, ainda assim, o lucro que fica para o cafeicultor é ínfimo.
Morosidade
O cafeicultor também aponta a lentidão nas negociações das dívidas como outro problema que afeta o setor. “Em Brasília existe um comodismo e uma vontade de que as coisas não dêem certo… Estamos com uma pauta de negociações a respeito das dívidas da cafeicultura, que estão correndo desde o dia 16 de março… Daquele dia até hoje, nada andou. Este grupo que está lá para cuidar das negociações não fez praticamente nada. Na semana passada, para se ter uma idéia, colocaram em pauta a discussão do PIS e fim social das cooperativas… Eles estão se lixando para os cafeicultores”.
Sem apoio
Enquanto processadores e comerciantes recebem apoio para a aquisição do grão, os produtores permanecem sem crédito para continuar sua atividade. “O LEC (Linha Especial de Crédito) e o FAC (Financiamento para a aquisição de Café), estão arrumando 20 milhões de reais de limites para as torrefações. Isso é para o comerciante, mas para o produtor, nunca tem nada… Qual é o comerciante de café que consegue 20 milhões de reais de financiamento? Só os grandes, as multinacionais. Está um verdadeiro transtorno, o produtor de café não está recebendo nada”.
Hoje o Brasil tem 320 mil produtores de café, gerando 2 milhões de empregos diretos. Se somados os empregos indiretos, são 8 milhões de postos de trabalho que dependem da atividade.