A cafeicultura, maior geradora de empregos rurais no país, parece estar no auge de sua crise. Por sete anos os produtores têm vendido seu café abaixo do preço de custo e acumulando dívidas. Agora, com suas dívidas vencendo, produtores tentam fazer acordos com o governo, para que possam pagar suas dívidas em café. Porém, o preço oferecido ao produtor é de R$ 261, valor bem abaixo do real preço de produção do grão, que hoje chega a R$ 320 a saca. O cafeicultor João Abrão denuncia morosidade e falta de vontade em resolver o problema do setor.
Uma prova dessa falta de vontade, segundo Abrão, é o fato de que estamos perdendo R$ 238 por saca, no mercado internacional. Ele explica que os preços do café por libra / peso em Nova Iorque, para dezembro, estão em US$ 1,37. Em relação ao valor pelo qual o café é vendido lá fora, há uma diferença de R$ 238 por saca de café. “Se formos considerar que estamos perdendo R$ 238 por saca, e que no ano passado exportamos 30 milhões de sacas, então perdemos quase R$ 6 bi”, conclui o cafeicultor.
“Isso é falta de marketing, de lobby e de competência. Há um descaso muito grande com os produtores de café… Nosso café é tão bom quanto o café colombiano. Temos de 33% a 34% do mercado mundial!”, lamenta Abrão.
Lentidão nas negociações
Abrão explica que Aécio Neves, governador do maior estado cafeeiro do país, se empenhou em ajudar os produtores e foi procurar o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, para falar sobre esse e outros problemas do estado. As informações, segundo ele, mostram que a proposta dos produtores não foi compreendida e gerou polêmica.
“O problema é que informaram o governo dos leilões de opções, o que é uma noticia velha, que já passou e não agradou o setor. Ele falou também do endividamento, que é o nosso pleito. Dívidas para serem pagas com até 20 anos de prazo, com 5% da safra do ano, em café. O governo, antecipadamente, desagradando o setor, conseguiu alongá-la para 2020, e houve uma redução de juros, que teve o apoio de Aécio Neves, de 5,75%, para 3,75%. Só que isso era velho. Nosso pleito é para pagar 5% em 20 anos”. O governo, segundo ele, oferece o acordo se o produtor vender seu café ao valor de R$ 261 a saca.
“Todo mundo sabe que o custo de produção do café é de R$ 320… O produtor está no Serasa, a colheita está aí e ele não consegue recursos. É preciso ter bom senso e lógica! Precisamos acertar a questão dos endividamentos. Acho que existe má vontade no grupo de trabalho”.