Valorização do real frente ao dólar tem prejudicado os cafeicultores brasileiros

9 de março de 2006 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: DCI Gabriela Mainardes/Guilherme Rios/Márcio Rodrigues

Exportação dá superávit de US$ 2,4 bi

A balança comercial do agronegócio registrou em fevereiro superávit de US$ 2,443 bilhões, resultado de exportações no valor de US$ 2,887 bilhões e importações de US$ 443,6 milhões. As vendas externas de produtos do agronegócio foram 3,8% superiores às exportações do setor em fevereiro de 2005. O resultado positivo chega no momento em que o País enfrenta situação cambial desfavorável, além de embargos internacionais decorrentes da constatação de febre aftosa e a ameaça da gripe aviária, que já afeta as exportações de frango. Para o analista da Safras & Mercado, Flávio França Júnior, o produtor brasileiro tem de conviver com os problemas e manter seus embarques. “No caso da soja, por exemplo, não há outra opção a não ser as exportações. O mercado interno não é capaz de absorver a produção. Se o câmbio estivesse mais favorável, obviamente o estímulo seria maior. No entanto, os embarques ocorrem de uma maneira ou de outra”, explica.


França afirma ainda que, analisando as médias históricas da soja, os preços praticados em Chicago fecharam 2005 até um pouco acima da média, em US$ 6,10 por bushel. “A média é de US$ 6 por bushel. O câmbio efetivamente tem prejudicado os rendimentos, mas o fato é que o produtor precisa escoar o produto”, avalia.


No caso do café, segundo o sócio proprietário do Escritório Carvalhaes , Eduardo Carvalhaes Júnior, a valorização do real frente ao dólar, também tem prejudicado os cafeicultores brasileiros. “No dia três de março deste ano, a cotação do café de boa qualidade era de R$ 265 ou US$ 125,47 a saca de 60 quilos. No dia quatro de março de 2005, o mesmo tipo de café, estava cotado em R$ 335 ou US$ 124,91. Os preços em dólar não se alteraram muito, mas a desvalorização do dólar provocou uma expressiva queda nos preços em reais”, diz Carvalhaes.


Segundo o executivo, essa desvalorização da moeda norte-americana está provocando uma resistência do produtor quanto a venda de suas sacas. “Os produtores vendem apenas o necessário para cumprir seus compromissos”, afirma ele.


O aumento das exportações no mês de fevereiro foi impulsionado principalmente pelo crescimento das vendas externas de fumo (22,4%); papel e celulose (18,3%); couros e seus produtos (15%); café (14%); e carnes (6%).


Já o açúcar e álcool; complexo soja; sucos de frutas; e cereais, farinhas e preparações foram os grupos de produtos que registraram queda nos percentuais de 2,7%, 3,2%, 21,6% e 8,9%, respectivamente.


Nos dois primeiros meses de 2006, as exportações do agronegócio somaram US$ 5,818 bilhões, recorde histórico para períodos de janeiro a fevereiro e 8,5% acima do valor exportado em igual período do ano passado. Carnes (17%), papel e celulose (17%), algodão e fibras têxteis (15,9%), açúcar e álcool (13,4%) e café (10,6%) foram os produtos que se destacaram. As importações no acumulado do ano cresceram 22,5% em relação ao mesmo período de 2005, totalizando US$ 940 milhões.


Apesar dos resultados positivos da balança comercial, lideranças e analistas do setor afirmam que o agronegócio brasileiro tem aprendido a conviver com o cenário desfavorável. O analista e economista José Donizeti Pitoli, afirma que o produtor tem arcado com prejuízos. Para exemplificar, Pitoli toma como base a cotação do dólar em agosto, de R$ 2,40, no mês da compra de insumos. “Atualmente, com o dólar valendo R$ 2,18, caso o produtor fosse vender sua produção hoje, a desvalorização do câmbio já teria causado perdas da ordem de US$ 1,4 bilhão”, afirma o economista.

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