US$ 55 milhões em negócios na Gulfood
27/02/2009 22:02:09 – Net Comex
Empresas brasileiras dos setores de carne bovina, de frango, frutas, vinhos, biscoitos, chocolates, café e laticínios estiveram na Gulfood, principal feira de alimentos e bebidas de Dubai, Emirados Árabes Unidos, entre os dias 23 e 26 de fevereiro. Ao todo, foram 30 indústrias de várias regiões do Brasil.
Somente as 12 empresas que participaram do estande da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e do Ministério da Agricultura podem render cerca de US$ 55 milhões em negócios, sendo US$ 15 milhões em pedidos feitos na própria mostra e US$ 40 milhões em encomendas nos próximos 12 meses, de acordo com levantamento feito pela por essas entidades.
“Nessa edição o movimento foi menor que no ano passado, mas foi muito bom. Foi além do esperado”, afirmou o gestor do ministério, Danilo Gennari. Nos quatro dias de feira, as empresas do estande receberam mais de 2 mil contatos de pelo menos 20 países. “Apesar do movimento menor, os contatos foram melhores e o movimento foi mais qualificado”, disse Gennari.
De acordo com ele, no ano passado o mundo estava demandando muito, mas em 2009 os negócios tendem a se estabilizar. “Para alimento sempre vai existir demanda, com crise ou sem crise”, afirmou o gestor, que garante que para a próxima edição mais empresas deverão participar da Gulfood. “Muita gente já nos procurou. Vamos tentar fazer um estande maior em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e a Câmara Árabe”, declarou.
“Mesmo com a crise de falta de crédito, que atingiu inclusive o setor de alimentos, a expectativa foi satisfatória, indicando que as empresas brasileiras devem necessariamente manter suas estratégicas nos países do Golfo”, afirmou o secretário-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby. Segundo ele, as companhias devem considerar que a partir do Golfo elas podem atingir outros mercados próximos, como Irã, Paquistão, Índia, Uzbequistão, Cazaquistão, entre outros que são grandes consumidores de produtos agroindustriais.
De acordo com Alaby, a feira também teve grande número de visitantes de países africanos árabes e não árabes. Os produtos que o secretário acredita que apresentam maiores potenciais na região são de leite, ovos naturais e industrializados, biscoitos, bolos, doces, queijos e mel. “Além dos já tradicionais, como café, açúcar e carnes”, acrescentou.
No estande brasileiro, quase todas as empresas fecharam negócios e pretendem voltar em 2010. Nos outros estandes brasileiros, como do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), as companhias também fecharam negócios com produtos como guaraná, açaí e frutas cítricas. Também estavam presentes no evento, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), todas com a parceria da Apex.
Para o setor de carnes é um importante evento, pois o Oriente Médio é um grande importador do Brasil. Principal fornecedor do produto para a região, o Brasil detém mais de 80% do mercado de carne de frango nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC). “A região é responsável por 30% das exportações brasileiras de carnes de frango”, explica Isis Oliveira, gerente do Programa Brazilian Chicken, desenvolvido pela ABEF, em parceria com a Apex-Brasil. A Arábia Saudita, por exemplo é o terceiro maior importador do Brasil, atrás de Japão e Hong Kong, e o principal do Oriente Médio, seguido pelos Emirados Árabes. Quatro empresas do setor estiveram na Gulfood – Doux, Perdigão, Copacol e Globo Aves.
Outras nove empresas representaram o setor de carne bovina, que explorou o lema “Naturalmente Saudável”, divulgando o chamado boi verde ou boi de capim. “ Pelo menos 75% do rebanho bovino brasileiro é produzido a pasto e estamos trabalhando essa imagem junto ao público árabe, para incentivar o consumo saudável de carne”, explica Monique Morata, gerente do Brazilian Beef, parceria da Abiec com a Apex-Brasil. Outra estratégia da entidade é ensinar o consumidor local a preparar a carne como no Brasil, servindo e ensinando a fazer churrasco. Para isso, o estande teve a presença do Chef Allan Espejo, que também preparou um jantar para convidados VIP.
O setor de frutas participou com cinco empresas e já no primeiro dia de feira, a Ruette Spices fechou um contrato de US$ 700 mil em exportações de limão, tangerina, laranja e especiarias. Produtos como o açaí também chamou a atenção dos importadores. A Bony Açai começou a vender recentemente para Dubai, onde já trabalha com dois distribuidores sendo que um deles foi contatado na feira Sial em Paris, em outubro de 2008, onde também participou com o apoio da Apex-Brasil e do Ibraf.
O café brasileiro também recebeu atenção especial na Gulfood. “Já somos muito conhecidos no mercado árabe pela venda do café verde e fica mais fácil introduzir o café torrado”, explica Christian Santiago, da ABIC, “nosso foco é apresentar alternativas de cafés com maior valor agregado para importadores e distribuidores que visitam a Gulfood”. Segundo ele, boa parte destes compradores visita também feiras européias como Sial e Anuga, “mas se sentem prestigiados quando participamos também da feira realizada aqui em Dubai e isso fortalece os laços comerciais”.
A participação na Gulfood permitiu às empresas dar continuidade ao trabalho realizado no Sabores do Brasil, evento promovido pela Apex-Brasil nos dois dias anteriores à feira. O evento reuniu 40 empresas brasileiras do setor de alimentos e bebidas, que tiveram em um único dia 720 reuniões com 400 compradores de Kuwait, Omã, Arábia Saudita, Bahrain, Qatar, Líbano, Jordânia, Egito, Malásia, Madagascar, Sudão e Síria.
Sabores do Brasil – Durante o carnaval, nos dias que antecederam a feira, as 40 empresas brasileiras do setor de alimentos e bebidas participaram do evento Sabores do Brasil, organizado pela Apex-Brasil em Dubai. Em um único dia tiveram 720 reuniões com 400 compradores de Kuwait, Omã, Arábia Saudita, Bahrain, Qatar, Líbano, Jordânia, Egito, Malásia, Madagascar, Sudão e Síria, e fecharam negócios de US$ 22,8 milhões. As empresas apresentaram principalmente produtos de maior valor agregado, até então desconhecidos pelos árabes. Apesar da crise, ficou claro que o comércio do país com as indústrias árabes não sofreu qualquer impacto.
O evento começou no dia 21 de fevereiro com uma palestra sobre a produção e o potencial exportador do Brasil e um jantar de gala, onde foi servida comida brasileira, preparada pela Chef Morena Leite, para 250 convidados. No dia seguinte, a rodada de negócios teve uma demanda maior que a planejada inicialmente, pois muitos compradores que estiveram no jantar decidiram se reunir com mais empresas do que haviam agendado.
Cada representante brasileiro atendeu a uma média de 30 compradores árabes. “Nossa intenção foi mostrar ao mundo árabe que o Brasil não produz somente itens básicos como carne de frango, suco de laranja e café, mas também uma diversidade de produtos mais elaborados, com maior valor agregado, fortalecendo a marca Brasil”, explica o diretor de negócios Maurício Borges. E a estratégia deu certo – boa parte dos compradores árabes desconhecia a diversificada produção brasileira de alimentos e a maior parte dos produtos apresentados causou surpresa. Muitas empresas já receberam pedidos de compradores da Arábia Saudita, Catar, Omã Jordânia, Líbano e Bahrein e também de distribuidores de Dubai, que reexportam para vários países, como Índia, Paquistão Sri Lanka e Somália.
O importador Jalal Thamer, da Arábia Saudita, já comprava do Brasil itens como suco de laranja, carne de frango e açúcar. No evento, fechou pedidos de suco de uva, café torrado, massas, bolos e panetones, doces, água de coco e leite de soja. “O Brasil tem bons produtos e é um bom parceiro comercial. Foi uma oportunidade excelente para conhecermos o que o Brasil tem para oferecer, e deve ser repetida, pois temos muita demanda por produtos alimentícios”, afirmou. Já Failsal Al-Maghribi, da Tri Arc Group, do Kuwait, estava interessado no setor de balas e chocolates. Conheceu as empresas brasileiras e iniciou negociações que podem render contratos de exportação. “Quero levantar o máximo de informações sobre o Brasil para decidir minhas próximas compras”, disse.
Entre as empresas brasileiras, a satisfação com os resultados foi geral. A Dori, que já exporta balas e confeitos para Jordânia, Palestina, Líbia, Líbano, Israel e Kwait, conseguiu vender o primeiro container para um distribuidor de Dubai. “Não é um volume grande, mas é uma excelente oportunidade para introduzir nosso produto em vários mercados e ampliar o volume de negócios com o distribuidor”, disse Carlos Cesar de Assis, gerente de exportação da Dori. “Nossa meta é abrir mercados e aqui fizemos excelentes contatos com Arábia Saudita, Bahrein e Catar”, completou. Eriel Mineli, da New Max vendeu 60 caixas do leite de soja Solmax para a Arábia Saudita. “Foi meu primeiro negócio no Oriente Médio e me surpreendeu, porque vim ao evento apenas pensando em fazer contatos iniciais”, disse.
As cinco empresas do setor de biscoitos fizeram 140 contatos com compradores de 15 países. Saíram com seis pedidos fechados e 15 encaminhados para os próximos três meses. “Esse é um formato de evento inteligente, que gera resultados mais rápidos, com compradores mais qualificados”, avaliou o presidente da ANIB (Associação Nacional da Indústria de Biscoitos), José dos Reis. A vinícola Aurora fechou um carregamento de suco de uva integral para Dubai, abrindo mercado para um produto que não existe no Oriente Médio. “Eles não têm um produto como o nosso – natural, sem conservantes, feito somente com uvas espremidas e com certificação halal. Temos certeza de que vamos entrar com muito sucesso no mercado”, disse a empresária Rosana Pasini, que fez contato com 30 compradores durante a rodada de negócios.
Participaram ainda empresas de frutas, carne bovina, carne de frango, café, arroz, mel, leite de soja, água de coco, refrigerante de guaraná, açaí e vinhos, entre outros. “Nenhum dos compradores que atendi sabia que o Brasil produz arroz e ficaram surpresos com a qualidade do nosso produto”, comentou Patrícia Quadros, da SLC Alimentos. O representante da Sara Lee cafés fez quase 30 contatos e está certo de que alguns vão render contratos de exportação. “A palestra e o jantar no dia anterior prepararam o ambiente para os negócios do dia seguinte e os árabes vieram conversar com as empresas brasileiras com uma pré-disposição positiva”, avaliou. Sergio Braga, da Batia Frutas saiu do evento animado com a possibilidade de fechar negócio com cinco compradores de Dubai e Arábia Saudita, interessados em importar seus mamões, figos, goiabas e mangas.
“Essa foi a primeira ação conjunta do setor de alimentos e bebidas no exterior, e conseguimos mudar a percepção sobre a diversidade e a qualidade dos produtos brasileiros”, avaliou o coordenador de Imagem e Acesso a Mercados da Apex-Brasil, Juarez Leal.